Diana Costa é uma bailarina, professora e coreógrafa de Dança Oriental bracarense com uma carreira de mais de 10 anos no mercado. Um ano depois da entrevista que lhe fizemos, a bailarina Diana Costa inaugurou o Diana Costa Dance Studio em Braga, na sua cidade-natal. Quisemos saber mais sobre a abertura, o conceito e as razões pelas quais decidiu abrir o mesmo em altura de pandemia, sobre o seu evento 'Tarde Oriental' e partilhar a experiência que teve no Egipto, bem como a sua opinião sobre o mundo dos eventos na Dança Oriental.
1. Como e quando surgiu a ideia de teres um espaço próprio?
Desde que a dança começou a tomar uma posição muito importante na minha vida pessoal e profissional, que ambicionava algo meu, com a minha gestão e com os meus ideais. Esta ideia tem vindo a consolidar-se há já alguns anos, sentia que precisava de ter a minha “casa” e não andar, ano após ano, a saltar de escola em escola ou de lugar em lugar, onde simplesmente alugamos um espaço que não tem a nossa identidade e energia.
Sentia também que muitas vezes a minha arte não era abraçada de igual forma como as outras e quando esse sentimento começou também a chegar às minhas alunas, começou a ficar ainda mais viva a ideia de abrir o meu espaço. Todos os anos faço uma lista de objetivos a cumprir para o ano seguinte, e ter o meu próprio espaço era um deste ano. E assim foi, a realização de um sonho e o sentimento de concretização aparecem no dia 27 de Setembro com abertura da minha/nossa nova casa - Diana Costa Dance Studio.
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2. Decidiste abrir o Diana Costa Dance Studio em Setembro de 2020, altura em que estamos a atravessar a pandemia do COVID-19. Porque decidiste começar o projecto nesta altura?
Pois bem, isso é uma boa questão? Será que existe o momento certo? Ou será apenas uma racionalização dos pensamentos do ser humano? Esta situação fez com que a minha visão das coisas ficasse mais simples, inventamos desculpas e entraves e adiamos consequentemente os nossos sonhos simplesmente porque achamos que “não é a hora”. Quem me conhece sabe que vivo sempre com um pensamento muito positivo mesmo quando alguma situação menos boa acontece. Claro que receios e dúvidas se atravessaram na hora de avançar mas agarrei-me a essa vontade de concretizar um sonho e de acreditar que tudo vai dar certo.
3. Porque é que escolheste o nome ‘Diana Costa Dance Studio’ para o nome do espaço e porque razão escolheste um nome em inglês?
A decisão do nome veio da enorme vontade de ter algo meu e do orgulho que carrego no meu nome enquanto artista. Em inglês, por ser uma língua universal tal como a dança. Tem também uma questão estética e quando abreviado fica um jogo de letras interessante, DCDS.
4. As palavras-chave que definem o teu espaço são “luz, natureza e bem-estar”. Podes explicar-nos qual o conceito do teu espaço? É um espaço multifuncional, onde tudo se pode ligar e unir, tendo como foco contribuir para o crescimento e divulgação da arte na cidade de Braga. É um estúdio de dança mas acredito que todos os tipos de eventos possam acontecer no Diana Costa Dance Studio. Sempre soube que não queria ter um estúdio com as típicas paredes brancas, espelhos e coluna de som. Queria algo personalizado, onde as pessoas se sentissem confortáveis e vissem que tudo foi escolhido com detalhe para criar harmonia entre tudo e todos. Luz, natureza e bem-estar é sempre coisas que encontro nos lugares onde me fazem sentir bem e não podia faltar no meu.
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5. Quais as modalidades que o teu espaço vai abranger? A modalidade principal é a dança oriental e serão agregadas modalidades que sejam uma mais valia para quem a pratica. Com o meu percurso, que também passou por muitas outras modalidades, acredito que tudo se complementa.
6. Quais são os factores diferenciadores do teu espaço relativamente aos outros espaços de dança e artes performativas que existem na cidade de Braga?
O que difere é ser um estúdio com foco no desenvolvimento e crescimento da comunidade de dança oriental. Criando oportunidades para profissionalizar mais pessoas nesta arte e levá-la mais longe
7. Podes falar-nos um pouco sobre o teu método de ensino?
O meu método de ensino é construído com base nas aulas, workshops e cursos que fui fazendo ao longo dos anos. Consiste em aulas técnicas de dança oriental, onde agrego exercícios de ballet clássico para melhor postura e consciência corporal e exercícios de improvisação e expressão inspirados em dança contemporânea. Dentro do método, falamos também da história e da cultura que envolve a dança oriental e de uma forma teórica e prática, trabalhamos os elementos e vertentes que dela fazem parte. Vou sempre analisando e adaptando o meu método às necessidades das minhas alunas.
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8. Que características achas que são indispensáveis num professor de Dança Oriental?
Ter uma boa ética de trabalho, ser um estudante eterno, ser humilde, ter a capacidade de se pôr no lugar do aluno e perceber o que de melhor pode fazer para a evolução dele, motivando e inspirando para uma contínua aprendizagem.
9. Em 2019, foste pela primeira vez ao Egipto. O que mais te impressionou?
O que mais me fascinou foi encontrar tantos extremos - de caos e calma, de feio e bonito, de pobreza e riqueza.
No Cairo, que foi onde passamos maior parte da viagem, tanto estamos no meio de um tráfico maluco onde tudo se cruza (motas, bicicletas, carros, carrinhas, camelos e cavalos), cheio de barulho e euforia, como conseguimos estar calmamente a apreciar as Pirâmides e passear pelo Nilo.
É uma cidade suja, desorganizada e com pobreza mas que tem uma cultura altamente rica e com monumentos lindíssimos e de uma importância enorme. Sinto que é um povo com bastante orgulho de tudo o que o rodeia e que consegue viver em equilíbrio e harmonia dentro destas dualidades.
10. Concorreste na categoria Master Profissional do festival Ahlan Wa Sahlan e actuaste numa das Galas. Como foi esta experiência?
Estar no Ahlan Wa Sahlan era um sonho que tinha desde que danço mas, receber o convite para dançar na gala ainda me deixou mais realizada. Não é todos os dias que temos a oportunidade de estar num palco tão especial como o deste festival, dançar com música ao vivo e ainda rodeada de grandes artistas. Concorrer aqui foi sem dúvida desafiante, especialmente numa fase em particular que só sabíamos a música no momento que pisássemos o palco e os músicos começassem a tocar. Devido aos espectáculos serem longos, cheguei a competir às 3/4 da manhã, o que foi particularmente difícil de gerir a nível de cansaço corporal.
O facto de ser um festival com grande nome mundial, senti uma responsabilidade maior e ao mesmo tempo um orgulho enorme de estar ali a representar Portugal, juntamente com a bailarina Catarina Branco. No balanço final, obviamente que todos os esforços e desempenho compensou por ter conquistado o 5.º lugar como resultado da minha prestação.
11. Ao longo da tua carreira, já venceste 20 prémios em festivais nacionais e internacionais. Qual é a importância dos prémios na tua carreira?
Os prémios são validações que as pessoas fazem do nosso trabalho.
Enquanto artista, é importante sentir que o meu trabalho é valorizado e que com isso, existe uma maior apreciação do mesmo. Com a divulgação dos prémios e dos vídeos das minhas performances, consigo que o meu nome ganhe mais impacto dentro da comunidade e surgam mais oportunidades para expandir o meu trabalho a nível mundial.
Fora da comunidade é onde sinto que existe uma importância maior, as pessoas ficam curiosas com o meu percurso e com a arte que faço, o que ajuda na procura das minhas aulas, convites para eventos e espectáculos. Vejo os meus prémios como sinónimo de trabalho e evolução contínua.
12. Já actuaste em vários espaços e contextos (bares, eventos privados, espectáculos, concursos). Podes contar-nos uma peripécia que te tenha acontecido num desses momentos?
Em todas as actuações acaba por acontecer algo marcante mas escolhi um engraçado para partilhar com vocês.
No verão de 2016, estava a fazer uma temporada de espetáculos no hotel Epic Sana, no Algarve e surgiu um evento privado, uma festa de aniversário. Era um árabe, pediu para assistir ao nosso ensaio e contratou uma série de actuações, incluindo um solo meu de dança oriental. Reservou uma parte do jardim do hotel e montou uma tenda para o jantar. Quando chegou a hora de dançar, percebi que a festa privada era tão privada, que era só duas pessoas! Era ele e a aniversariante. Então assim foi, dancei para eles os dois, de vez enquanto eles lá davam umas beijocas enquanto eu dançava, um bocado estranho mas correu bem e ainda chamei a aniversariante para dançar comigo.
13. Costumas trabalhar em vários bares árabes. Alguma vez sentiste desvalorização da Dança Oriental nalgum destes espaços?
Infelizmente sim, principalmente nas condições que recebem os artistas e com que estes têm que trabalhar. Sinto que às vezes pequenas alterações podem fazer muita diferença, tanto nas nossas performances como ajudar o público a apreciar de uma forma melhor a dança oriental.
O facto de não desligarem as televisões, não pararem de servir, não haver algo ou um sítio que diferencie o momento da bailarina do ambiente normal do bar, acabam por ser factores de desvalorização.
14. Costumas também actuar em vários eventos privados por todo o país. Para as bailarinas que te seguem e que também pretendem entrar neste mercado, podes dar algumas dicas sobre como angariar este tipo de clientes?
Para esse tipo de eventos é importante ter uma imagem cuidada, que seja mais vendável e que se encaixe melhor no perfil comercial. É importante investir em boas fotografias e vídeos. Criar uma apresentação falando da experiência profissional e serviços que podem oferecer e enviar para agências, produtoras e espaços específicos de organização de eventos (quintas, restaurantes..). A mim ajudou-me muito estar associada a uma produtora de eventos, fui ganhando uma maior visibilidade e credibilidade entre os vários clientes.
15. Há 4 anos criaste o ‘Tarde Oriental’, um evento que consiste em formação, com workshops temáticos, e um espectáculo. Podes falar-nos da razão pela qual criaste este projecto?
Esse evento surge da falta que sentia em ter eventos relacionados com a dança oriental no norte. Quis dar oportunidade às minhas alunas de irem a palco e de terem contacto com outros profissionais. Queria chegar às pessoas de uma outra maneira que não só através das aulas, dar-lhes a oportunidade de assistirem a um espectáculo inteiramente de dança oriental para também entenderem de uma maneira melhor tudo o que abrange esta arte.
16. Quais são os teus próximos projectos e objectivos profissionais?
Agora o meu maior projeto é o Diana Costa Dance Studio e fazer com que cresça cada vez mais, desenvolver vários projetos para quem está comigo conseguir evoluir e também chegar a mais gente. Quero continuar a estudar para melhorar e evoluir como bailarina e professora. Assim que possível voltar a competir e a fazer parte de festivais. Tenho vontade de criar muitos projetos mas que levam o seu tempo a ficar amadurecidos. Tudo a seu tempo.
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