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Viajar Porque Sim | 7 aldeias portuguesas para conhecer

Apesar dos seus menos de 100 mil metros quadrados, Portugal é uma caixinha de surpresas boas, e nelas incluem-se muitas das nossas aldeias. Ricas em história, tradição, gastronomia, cultura e património artístico, muitas têm o dom de saberem preservar as suas características mais originais, conseguindo ao mesmo tempo reinventar-se e criar novos motivos de interesse para quem as visita. Algumas são muito conhecidas e visitadas, outras permanecem praticamente desconhecidas da maioria de nós. São algumas destas jóias que hoje vos convido a conhecer.

Alte

No concelho de Loulé, aos pés da Serra do Caldeirão, Alte faz parte daquele Algarve que não tem praia e por isso não aparece nos postais ilustrados. Mas devia, porque esta aldeia é um encanto. O seu centro histórico mantém-se fiel às características algarvias mais genuínas: as paredes brancas contornadas a amarelo, azul ou encarnado; as típicas chaminés trabalhadas; as ruas estreitas que favorecem a sombra; as flores que embelezam as casas. O toque mais moderno é dado por várias pinturas murais, espalhadas pelos muros, que reproduzem figuras e actividades típicas da região. Há uma Igreja Matriz de aspecto simples, com raízes medievais mas cuja estrutura actual data do século XVI, como se percebe pelo portal manuelino.


No extremo nordeste da aldeia encontramos a área das Fontes, onde a ribeira de Alte forma uma espécie de piscina natural rodeada de plátanos, oliveiras e muito verde. Uma escultura de Vítor Picanço que evoca Naia, a musa da ribeira, projecta-se das águas. Nas margens, unidas por uma ponte, existe um parque de merendas dos anos 40 que é ao mesmo tempo local de homenagem a Cândido Guerreiro, nascido em Alte. Há azulejos com sonetos do poeta e um pequeno monumento evocativo. Das três bicas da Fonte Pequena, decorada com um painel de azulejos que representa Santo António, a água corre permanentemente.

Um caminho pedonal que começa junto ao cemitério leva-nos até um dos lugares mais fotografados e frequentados do Verão que passou: a Queda do Vigário, um dos melhores segredos do Algarve até há pouco tempo. Ao pé de uma ampla área arrelvada, a ribeira de Alte salta de 24 metros de altura e forma uma lagoa límpida e fresca, muito procurada para banhos nos dias mais quentes.

 Álvaro

 Faz parte da Rede das Aldeias do Xisto – é uma das chamadas “aldeias brancas”, em que o xisto de que as casas são feitas está, na maioria delas, rebocado e pintado de branco – e tem uma localização verdadeiramente privilegiada, alongando-se na crista de uma colina debruçada sobre o rio Zêzere.


A sua história já se perde no tempo, mas sabe-se que pertenceu à Ordem de Malta entre os séculos XII e XV. O carácter religioso desta aldeia está bem patente nas várias igrejas, capelas e alminhas que encontramos ao passear nas ruas estreitas e sinuosas que sobem e descem para acompanhar o relevo geográfico. Entre os pontos de interesse principal estão a Igreja Matriz, dedicada a São Tiago Maior, e a Igreja da Misericórdia, que tem um volume irregular e um telhado curioso que se projecta parcialmente, de ambos os lados, numa espécie de beiral suportado por barrotes. Esta pequena igreja de finais do século XVI ainda mantém algum do seu carácter original, expresso no portal de granito e na imagem de Nossa Senhora que se encontra por cima dele.


Na aldeia permanecem em bom estado algumas casas do século XIX, ao lado de outras imaculadamente pintadas de branco e com uma faixa de cor discreta na base, cuja curiosidade maior é o facto de terem, ao lado da porta principal, uma porta muito pequena por onde é impossível um adulto passar sem ser de cócoras. Álvaro foi uma das aldeias afectadas pelos incêndios de 2017, e os efeitos da destruição ainda hoje são marcantes, com muitas casas em ruínas, meros esqueletos de pedra sem telhas nem vidros, as suas entranhas invadidas por matagal e lixo.

 Casal de São Simão

 É difícil acreditar que esta aldeia, hoje tão graciosa e bem cuidada, estava praticamente abandonada há cerca de duas décadas. A compra de várias casas por um grupo de amigos e a posterior criação da associação Refúgios de Pedra levou à recuperação de 23 habitações, todas em xisto, cada uma delas seguindo a traça original e embelezada com detalhes que atraem o olhar: uma varanda de madeira, trepadeiras que sobem pelas paredes, vasos com formas diferentes, uma chaminé decorada, um telheiro sobre a porta, varandins feitos de troncos, uma carroça antiga para guardar a lenha… Os pormenores fazem-nos atrasar o passo para reparar em tudo, e demoramos muito tempo a percorrer esta aldeia que praticamente só tem uma rua.

Situada no cimo de uma encosta íngreme, da aldeia temos uma vista privilegiada para o maciço quartzíticos das Fragas de São Simão e também, desde o Verão passado, para a grande escadaria de madeira aí instalada, a que dão o nome de passadiço. Lá em baixo corre a ribeira de Alge, que alcançamos descendo por um trilho pedestre bem identificado e nos leva depois até uma das praias fluviais mais bonitas do nosso país, com um entorno paisagístico absolutamente idílico.


 

Fonte Arcada

Ergue-se sobre a margem esquerda da Barragem de Vilar, que represa o rio Távora e é a maior do distrito de Viseu, e esta localização privilegiada faz com que um dos seus maiores atributos seja a espantosa paisagem que se avista dos pontos mais altos da aldeia. Com a sua história a perder-se na incerteza do tempo, o nome da povoação vem de uma fonte com arco ogival, que ainda podemos ver no sítio da Cova da Moura e data dos sécs. XIII ou XIV – ou até talvez XII, pois não se consegue precisar ao certo a sua origem.

Nesta aldeia bonita há muito que ver: uma igreja românica, um pelourinho, vários solares do séc. XVII, casas antigas de pedra com varandas de madeira, um santuário dedicado à Nossa Senhora da Saúde, e uma peculiar Torre do Relógio, que na verdade não tem um relógio mas sim um sino (que em tempos idos marcava as horas pelas quais os aldeões se guiavam) e foi construída num local a que chamam Castelo, embora de algum castelo não existam quaisquer vestígios. É daqui que temos uma vista privilegiada sobre o casario da localidade, do lado nascente, e a barragem, do lado onde o sol se põe.

 Janeiro de Cima

É também uma Aldeia do Xisto, e aqui a pedra das casas permanece bem visível. Estendendo-se a partir da margem do rio Zêzere – onde foi criado o Parque Fluvial da Lavandeira, uma área com relva bem cuidada, que funciona simultaneamente como praia e parque de merendas – é em redor da Igreja Velha que encontramos a parte mais antiga de Janeiro de Cima, recuperada e com muitas das casas embelezadas com trepadeiras e vasos de flores. Estas casas apresentam a particularidade de mostrarem, nas paredes construídas, grandes seixos rolados extraídos do rio, intercalados com os blocos irregulares de xisto. Algumas destas construções datas dos séculos XVII e XVIII, e as poucas casas que têm reboco estão pintadas de branco ou com cores vivas.


Um dos projectos mais conhecidos de Janeiro de Cima é a preservação da tecelagem tradicional com linho, e foi com esta finalidade que surgiu a Casa das Tecedeiras, oficina e loja ao mesmo tempo, onde foram montados teares para a produção de peças várias feitas com recurso às técnicas tradicionais. Ao lado da casa, uma enorme escultura de betão e aço evoca precisamente um tear. A Casa das Tecedeiras funciona também como centro interpretativo e tem em exposição para venda peças muito bonitas, algumas também em tecido.

 

Outeiro

Na orla do planalto da Mourela, a mais de 800 metros de altitude e sobranceira à margem oeste da albufeira da Paradela, encontramos esta pequena aldeia do concelho de Montalegre. As casas de pedra onde vivem os seus cerca de 150 habitantes distribuem-se desafogadamente por umas quantas ruas estreitas e sinuosas, e estão na sua maioria bem cuidadas. Algumas têm ar de serem recentes, ou pelo menos terem sido alvo de obras que lhes deram um aspecto mais moderno, mais “composto”, sem aquela organização irregular das pedras que se nota nas que são visivelmente mais antigas. A aldeia está rodeada de campos de cultivo e de pasto, uma espécie de anfiteatro verde que amplia o som metálico dos chocalhos dos animais. Sardinheiras de cor fúcsia espreitam entre os ferros das varandas e espalham-se pelos degraus das escadas, notas vivas de cor às quais se juntam pneus com pinturas garridas pendurados ao lado das portas. E há espigueiros, quase todos de ar vetusto, um deles o mais invulgar e bonito que vi até hoje, adornado com gravações em relevo no granito manchado por musgos e líquenes.



Pia do Urso

Diz a lenda diz que o topónimo desta aldeia vem de longe, quando ainda havia ursos em Portugal e o local, abundante em água, era frequentado por pelo menos um exemplar da espécie. Verdade ou não, este animal é o símbolo do lugar e a sua imagem está por todo o lado nas mais variadas versões. Conta também a história que esta foi zona de ocupação romana, e que por aqui passaram em 1385 os exércitos do Condestável a caminho da célebre batalha de Aljubarrota, e mais tarde, no séc. XIX as tropas invasoras francesas. Bem comprovada que está a antiguidade de Pia do Urso, a aldeia de hoje tem pouco a ver com a do passado. Tipicamente serrana, com habitações em pedra e madeira, o trabalho de recuperação e requalificação de que tem vindo a ser alvo transformou-a num local florido, limpo e bem ordenado – uma espécie de postal ilustrado, que poderá desagradar a quem goste pouco de restaurações demasiado estéticas mas irá com certeza encantar a maioria dos visitantes. Rodeada pelo verde da serra, com ruas onde só aos habitantes é permitido o trânsito automóvel, sente-se no ar da aldeia o cheiro das árvores e das flores que trepam pelas paredes das casas, a maioria delas decoradas com pormenores fora do comum.

Aqui foi criado há alguns anos o primeiro Ecoparque Sensorial do país, um percurso ao ar livre muito agradável e um favorito das crianças, concebido a pensar nas pessoas invisuais e na possibilidade de apreensão do meio que nos rodeia através de sentidos como o olfacto, o tacto ou a audição.


***

Não está fácil viajar nos tempos que correm, mas felizmente há muitas formas de “levar água ao nosso moinho”. E uma delas pode ser simplesmente ir conhecer aquela aldeia que está a poucos quilómetros da nossa casa. Aceitam o desafio?

Boas viagens!


Ana CB / Novembro de 2020
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