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Miúdos que já são Graúdos - Afonso Lopes



Estreou-se com 6 anos, na telenovela Ganância, da SIC e em 2020 é um dos atores do elenco de Terra Brava, no mesmo canal. Quase 20 anos depois do seu primeiro papel em televisão, Afonso Lopes é o nosso convidado nesta edição do Miúdos que já são Graúdos e conta-nos tudo sobre este percurso artístico, numa entrevista exclusiva.

Começas a tua carreira em televisão em 2001, na telenovela "Ganância". Antes disso, a representação já fazia parte da tua vida? Sendo a tua irmã, a Rita Lopes, também atriz, as vossas brincadeiras também passavam por aí?
Ainda não, tinha apenas 6 anos quando fui escolhido para este projeto e a partir de aí é que começou a aprendizagem e a paixão pela representação. Eu, a Rita e as minhas primas brincávamos muito aos ‘teatros’ quando éramos pequenos. Lembro-me de nos almoços de família juntarmo-nos todos e imitarmos peças de teatro que tínhamos visto ou mesmo invertamos as nossas próprias histórias. 

Na telenovela "Ganância" interpretas o pequeno António, na altura com apenas 6 anos. Como recordas esta experiência?
Não me recordo muito bem para ser sincero… Era muito pequeno, mas lembro-me de nunca ficar nervoso e fazer as cenas com a maior naturalidade. Talvez por ser ainda criança, não punha em mim a pressão que colocamos a nós próprios quando somos adultos. Mas lembro-me muito bem de ser um reguila e fazer asneiras (risos).


Seguem-se as séries "O Prédio do Vasco" e "Vasquinho e Companhia", da TVI. Do drama para o humor, quais foram as principais diferenças? E com que género te identificaste mais?
Vou ser muito honesto e mais uma vez como era bem novo, não me recordo bem como lidei com a transição, mas lembro-me que foi estranho, e muitas vezes não percebia as piadas sequer. O riso forçado não é fácil de fazer e essa talvez tenha sido a minha maior dificuldade.

Na versão "Vasquinho" contracenaste apenas com atores da tua geração. Como era fazer parte de uma equipa composta sobretudo por miúdos da tua idade?
Tornava as coisas tão mais divertidas, e é pena que atualmente não exista nada do género. Ainda hoje gostava de fazer um projeto só com pessoas da minha idade.

 
Em 2014 inicia-se aquele que será um dos projetos de maior sucesso da tua carreira. Como recebeste o convite para participar em "Mar Salgado"?
Não me lembro se fiz casting ou não, mas lembro-me que tinha acabado de sair da escola profissional teatro de Cascais e já tinha uma novela à minha espera, por isso fiquei super feliz e preparado para mostrar aquilo que tinha aprendido.
 
Esperavas que a telenovela tivesse tanto sucesso? Como foi a reação do público?
Não esperava de todo. Foi um mega sucesso e sem dúvida que até hoje foi o projeto que mais me marcou. Nunca me vou esquecer. As pessoas vibravam de tal maneira que quando íamos a Setúbal gravar cada um de nós era personagem dentro e fora das gravações. Os vilões eram insultados pelas pessoas. Parece que não tinham a noção do que era real e fictício.
 

Em 2018, foste o Carlos de “Circo Paraíso”, uma série da RTP com uma linguagem e conceito bem diferentes do habitual. Achas que fazem falta mais formatos do género em Portugal? Porquê?
Acho que sim, tudo o que se aproxima mais do conceito cinematográfico em Portugal tem um grande valor para mim. A qualidade destes projetos - as séries - é outra, temos mais tempo de preparação e de filmagem. Tem outro encanto.

Em 2020 completas 25 anos. Quais são os teus objetivos para o teu futuro profissional? A representação passa por lá?
Claro, a representação vai fazer sempre parte de mim. Estou a dedicar-me a 100% e quero continuar a progredir em Portugal. Não tiro a hipótese de ir para fora se surgir uma oportunidade, mas o meu objetivo é focar-me ao máximo na representação a nível nacional, aprender mais e ser cada vez melhor para um dia chegar aos grandes filmes do cinema.
 

 Em 2019 participaste na curta-metragem “No Limiar do Pensamento”. O cinema e o teatro são também uma ambição da tua parte? Porquê?
Cinema, principalmente, vai ser sempre a minha maior paixão! Não deixo o teatro de parte, penso que todos têm a sua mística. Dá-me muito gosto poder conseguir fazer os três. Mas sem dúvida que o Cinema é o que mais mexe comigo.
 
Numa altura tão complicada para a cultura em Portugal, achas que a Arte passou a ser mais valorizada por todos devido a esta epidemia? Como vês estas mudanças?
Acho que sim! Pelo menos para mim e para as pessoas que conheço, senti que a pandemia suscitou alguns interesses que estavam esquecidos, talvez por falta de tempo no dia a dia. Senti que as pessoas deram mais valor à cultura, à arte, aos artistas e a todas as suas formas de entretenimento. Eu, por exemplo, comecei a ler mais, como há tanto queria, e a fazer pinturas abstratas em telas, que já fazem parte da decoração da minha casa. Gostei tanto de pintar que agora não consigo parar.
 
No teu mais recente projeto em televisão, “Terra Brava”, da SIC, és um ativista ambiental. Na vida real, esta é também uma área que te preocupa? Porquê?
Sim, a preocupação com o ambiente deve estar na cabeça de todos. Não de uma forma austera como o David defende, mas de forma consciente. Se todos tivermos cuidados e atitudes conscientes daquilo que é o melhor para o planeta, sem dúvida que daqui a uns anos as coisas não estarão tão graves como os especialistas agora preveem. No entanto, defendendo um pouco o David, nem toda a população se esforça nesse sentido e há ainda muita gente sem responsabilidade ambiental, por isso é importante que existam ativistas como o David, para que o amanhã continue a existir. Como ele diz: “não há planeta B”.

Numa altura em que cada vez mais atores se destacam lá fora, em que tipo de produção gostarias de participar, se tivesses essa oportunidade? E neste contexto, achas que as plataformas de streaming serão cada vez mais dominantes na forma de consumir filmes e séries?
Participar em projetos para a Netflix, HBO e tantas outras plataformas de streaming é sem dúvida um objetivo. Estou ansioso que me chegue uma proposta dessas, mas até la é ir trabalhando e evoluindo. Gosto muito do que estou a fazer e sei que sou um sortudo. Acho que as plataformas de streaming estão a ganhar um grande peso no consumo de conteúdos, e são um grande complemento aos canais de televisão. Mas não nos podemos esquecer que muitos canais também têm produção própria e têm feito um excelente trabalho. O que temos de perceber é que cada vez mais estamos a dar ao consumidor o poder de escolher o que quer ver e quando, e isso abriu portas a vários tipos de conteúdos e formas de os fazer chegar ao espetador.


O que te imaginas a fazer daqui a 10 anos?
Pergunta difícil de fazer a um artista (risos). A vida é tão incerta e dá tantas voltas que não costumo ter planos fechados para o meu futuro. As minhas apostas são feitas no presente para que o futuro, consequentemente, venha com tudo de melhor. Tenho sonhos que quero alcançar e são eles que me dão motivação. A nível pessoal quero construir uma família saudável e acima de tudo feliz. Quero poder proporcionar o melhor aos meus filhos, e isso para mim é o principal objetivo.
 
Para ti, quais são as grandes diferenças entre o Afonso “miúdo” e o de hoje?
A forma de pensar e de ver o mundo, a responsabilidade, a motivação... Acho que a grande diferença é a consciência. Hoje em dia tenho a consciência de que tudo o que faça vai ter impacto no meu trajeto de vida.
Miúdos que já são Graúdos
Setembro de 2020
Por André Pereira

Agradecimentos: L'Agence / Fotos: Direitos Reservados