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Da Netflix até à TV e Cinema: Conheça os novos projetos de João Lacerda Matos


O nome pode ser desconhecido para alguns, mas certamente já foram espectadores de uma novela ou série assinada por João Lacerda Matos. Entre Filha da Lei, Mundo Meu, Rebelde Way ou Pai à Força, Mundo ao Contrário e O Beijo do Escorpião, o currículo do autor é extenso e fala por si na hora de definirmos a qualidade. 

Recentemente foi um dos vencedores do concurso lançado em parceria pelo Instituto do Cinema e do Audiovisual com a Netflix e ao lado de Raquel Palermo prepara-se para ser um dos primeiros portugueses a "invadirem" o mercado do streaming. O nosso site esteve à conversa com o argumentista que se divide entre projetos para a Netflix, RTP, SIC e cinema. O Fantastic dá-te a conhecer, agora, os primeiros detalhes sobre estes novos desafios.

É autor de um dos projetos selecionados pelo concurso do ICA e da Netflix que pretende lançar as primeiras produções portuguesas na Netflix. Sente que este é o princípio do ponto de viragem do mercado nacional?
Não sei se é um ponto de viragem. Ser o coautor, com a Raquel Palermo, de um dos projetos vencedores de um concurso onde foram apresentados quase 1200 projetos é um prazer imenso e uma responsabilidade enorme, mas é também o reconhecimento do trabalho que eu e a Raquel Palermo temos desenvolvido, nos últimos 19 anos, no audiovisual em Portugal. É ainda o reconhecimento de que em Portugal se escreve ficção de qualidade e que essa ficção pode agradar a um dos maiores produtores de conteúdos de ficção (TV e cinema) do mundo. Mas, final das contas, é apenas um pequeno passo. O primeiro de muitos, espero eu. O próximo será, depois da escrita, ver a série produzida.

As produções da Netflix são, na sua maioria histórias fechadas antes da exibição no streaming. Incomoda-o a falta de feedback do público? 
O feedback do público dá-se quando olhamos para os visionamentos que cada conteúdo obtém, diariamente. A Netflix tem um Top diário nacional e internacional. É através dele que vemos o sucesso e a atenção que uma produção tem, num determinado momento. Se pensarmos que A Casa de Papel teve mais de 80 milhões de visionamentos ou que Stranger Things teve mais de 70 milhões, a nível global, acho que isso dá uma ideia completamente diferente da forma como os públicos, em todo o mundo reagem às séries e da escala em que o feedback se dá, no streaming.

Quando uma série é lançada na Netflix, todos os episódios ficam disponíveis, cabendo ao público decidir em que velocidade vê a série. Em O Chefe Jacob podemos esperar isso?
Com certeza. Esse é um dos maiores trunfos do streaming e é um dos aspetos que mudou a forma como percepcionamos e fruimos os conteúdos audiovisuais. É também um dos elementos que mudou de forma indelével e irreversível a forma como concebemos a própria Televisão, no nosso país e em todo o mundo. O facto de termos a liberdade de escolher e de consumir um conteúdo, sem estarmos reféns de mais nada a não ser do tempo que dispomos para o ver, é algo que nos torna programadores e curadores da nossa experiência televisiva. E isso é transformador.

Vamos fazer aquela pergunta de "praxe", há algo que nos possa contar sobre O Chefe Jacob ou o “segredo será a alma do negócio” neste caso?
A História de O Chefe Jacob, idealizada pela Raquel Palermo, passa-se no século XIX, em Lisboa, e baseia-se em factos reais. É a história de um detetive da Polícia Secreta (antecessora da Polícia Judiciária) que tenta resolver um misterioso caso de um assassinato na noite de Natal. O Chefe Jacob era um investigador muito experiente que usava a dedução, as entrevistas e até os disfarces para se embrenhar no mundo do crime da capital. Poderemos vê-lo cruzar-se com alguns nomes famosos do submundo lisboeta, que existiram de facto.

Em andamento está, também, Vento Norte. Do que já nos foi dado a conhecer estamos perante um projeto que promete trazer um lado histórico pouco usual ao nosso país. O que podemos esperar desta série?
Uma história portuguesa sobre os anos que antecederam a instauração do primeiro regime autoritário na Europa do século XX, com o golpe de Gomes da Costa e a instauração da ditadura militar em 1926. A história de uma família, os Mello, das suas conquistas, paixões, defeitos e feitios que incorpora uma alma do Norte, monárquica e tradicional. E ao mesmo tempo, a história dos loucos anos 20, e da luta das mulheres pelos seus direitos.

A proposta será algo inspirado em Downton Abbey. Na hora de construir as personagens, há alguma que tenha surgido como um paralelo nacional à série do ITV?
Não. Downtown Abbey, Peaky Blinders e English Game são referências que estiveram no background da ideia. Tal como a série Upstairs Downstairs, dos anos 70. Mas na criação da história e principalmente das suas personagens, esteve um profundo trabalho de pesquisa, no terreno e na biblioteca, para criar personagens, núcleos familiares, enredos e relacionamentos que fossem credíveis e que espelhassem o que era a realidade de Braga e de Portugal entre 1919 e 1926. Houve uma grande preocupação, minha e da Raquel, para que Vento Norte tivesse uma forte identidade nacional e características diferenciadoras e únicas portuguesas.

Sabemos que está a colaborar, ainda, em mais duas produções da RTP e uma da SIC. Uma questão que surge muito na cabeça de um completo leigo na matéria: Não há nenhum momento que todos os enredos se embrulhem na cabeça de um autor?
Os enredos não, porque são muito distintos. A história de Salgueiro Maia, os anos 1920 em Braga, os anos 1970 a 1980 em Lisboa, ou outra história qualquer que esteja no momento a escrever estão sempre bem definidas e por isso não se confundem. Já os nomes das personagens, pode acontecer...

Sobre estas três novas produções, há algum detalhe que possa revelar para já? 
Não há nenhum segredo. Sou autor do guião do filme Salgueiro Maia – O Implicado, de Sérgio Graciano, um filme que conta a história do capitão Salgueiro Maia, os seus anos de Academia Militar, o Ultramar, a formação do Movimento dos Capitães, o 25 de Abril e depois a sua atitude sempre firme na defesa da Democracia que acabou por o isolar e torná-lo num implicado da Revolução de Abril, quando na verdade era o herói. Escrevi, com a Raquel Palermo, os 10 episódios de Vento Norte, a primeira série portuguesa a ser filmada em Braga, uma história de como uma família atravessa os anos que se seguiram à Grande Guerra e que acabaram por mudar o futuro de Portugal para sempre. Por fim, tive o prazer de fazer parte da equipa de guionistas da segunda temporada de Três Mulheres, de Fernando Vendrell e Luís Alvarães, que conta a história de três grandes mulheres – Natália Correia, Maria Armanda Falcão e Snu Abecassis – e que desta vez nos leva de 1974 a 1980.

Ricardo Neto