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COMING UP | The Umbrella Academy


E se a primeira já era muito boa, a segunda faz transparecer que aquilo que nos foi apresentado foi apenas uma introdução do auge. Da Banda Sonora aos Efeitos Especiais, com filmagens incríveis e atuações que elevam o potencial que vimos na primeira sequência ao expoente máximo. The Umbrella Academy traz agora excelência por defeito, com uma adaptação bem realista do que é contado no segundo volume da Banda Desenhada e o budget certo para tornarem a produção numa série de culto. A season vem provar que à segunda ainda é melhor e que o ponto final da montanha russa anterior, que terminou no pico, é para manter numa narrativa eletrizante e altamente maratonável. Há pouco a dizer numa história que precisa de ser vista para que perceba até onde um orçamento elevado ajuda a que as linhas do argumento se ultrapassem a elas mesmas. Com muitas cores e os anos sessenta como pano de fundo, a trama não desilude nem os fãs dos gigantescos universos Marvel ou DC, e volta a provar que mesmo no streaming ou na televisão o mundo dos super-heróis tem pano para evoluir e ser contado com uma maturidade com a qual apenas os geeks estão habituados a lidar nas histórias desenhadas. É excelente? Sim! E ainda traz para a mesa mais conceitos do que os anteriores, discutindo-os com o ponto de vista da história factual, que serve uma engrenagem perfeita e dá ao novo conteúdo um upgrade que nem sabíamos que era necessário. Os elogios vão de ponta a ponta sem podermos deixar de citar um final que é, de longe, melhor que o primeiro, além de um cruzamento entre o casting que vem assegurar-se junto do público como uma verdadeira família. As surpresas estão por toda a parte e o difícil numa análise é escolher o que de melhor há para dizer! Fica a par de tudo nesta edição do Coming Up! A melhor conjugação de heróis chegou para ficar à Netflix, e não se enganem, é um dos melhores produtos do catálogo do serviço de streaming!

Com um humor muito mais refinado, até os vilões se tornaram melhores. Mas antes de falarmos dos atuais vale ressaltar a forma interessante com que os anteriores não foram esquecidos e vão aparecendo como pequenos easter eggs ao longo da season oferecendo um encerramento digno a personagens que achamos que não íamos voltar a ver. Hazel certamente marcou a primeira temporada como o anti-herói que consegue a sua redenção, mas por mais romântico que tenha sido a sua última cena, Hazel sucumbir como um herói na sua despedida foi muito mais empolgante e ainda garante o efeito surpresa que qualquer fã gosta de ter quando assiste à sua série. Mas melhor ainda foi o regresso de The Handler. Kate Walsh e a sua interpretação já tinham enchido os nossos olhos na primeira temporada e agora que achávamos que já tínhamos visto tudo sobre o seu arco, tê-la de volta não foi apenas uma surpresa, sobretudo porque nos vem oferecer contexto e um background interessante, mas também uma adição gigantesca para nos apresentar uma ameaça ainda maior. Tudo é maior desta vez e ter melhores contrapontos é a desculpa perfeita para desfazermos uma das críticas dos primeiros capítulos: A falta de cenas que mostrassem os superpoderes dos protagonistas. Aqui temos uma cena épica ao fim de poucos minutos de episódio, logo no primeiro capítulo, e isso mantém-se ao longo dos seguintes. Finalmente as habilidades dos Hargreeves deixaram de ser algo subentendido para se tornarem no primeiro plano de ação. Agora sim olhamos para a equipa como um grupo que conseguia colocar o apocalipse em pausa. Há um aumento de credibilidade no meio de um guião construído em cima de um humor muito mais consistente. É isso nota-se desde cedo, mas vai crescendo ao longo da primeira metade da nova season. Tudo isto porque os showrunners conseguiram fazer a triagem das personagens com que trabalharam e souberam encaixá-las nos sítios certos, deixando o lado cómico com quem de direito e todo o drama entregue a quem precisava de conquistar o seu lugar dentro do spotlight.
Coincidindo com a primeira temporada, o drama ficou reservado para as mulheres, com Ellen Page, o nome sonante de Hollywood que veio criar buzz no marketing da série, a acarretar consigo a narrativa mais densa e consequentemente o núcleo que contrabalança com o ritmo do restante show. As cenas da personagem fazem-nos travar a fundo nesta viagem alucinante em que tudo acontece rápido, para pararmos e ouvirmos as conversas de autodescoberta de Vanya. Como fã da personagem há uma declaração de intenções que tem de ser feita: Este não era o rumo esperado para a personagem depois de finalmente termos entendido toda a dimensão do seu poder e de já nos ter sido traçado o perfil da sua personalidade, aliás ela foi, talvez, aquela que teve direito a uma maior base para nos dar um entendimento do seu drama interno e do quão excluída se sentia. Depois de tudo isto é um pouco frustrante vê-la numa aparente regressão, contudo, há um propósito, e feita a revelação quase que se justifica o tempo de episódio em que tivemos de colocar a ação em stand-by para ouvirmos desabafos. O episódio 4 é um ponto de viragem e oferece-nos aquilo que pretendíamos! Já Allison, volta a provar que tem um gigante coração. Ela é a única que refaz inteiramente a sua vida na nova realidade e a única que provavelmente teria sucesso caso a timeline de onde vieram tivesse realmente terminado. Nada de muito surpreendente porque já na primeira temporada tínhamos conhecido uma Allison que tinha reconstruído a sua vida para lá da capa de herói. O que muda é que desta vez em que tencionava fazer as coisas de forma justa e sem ajuda dos seus poderes as coisas não lhe correm de feição e dá-lhe um choque de realidade que, talvez, lhe tenha feito falta antes, até para que a personagem ganhasse outro tipo de maturidade. A personagem traz para destaque a luta pelos direitos raciais com espaço para um confronto entre polícias e negros que assumiram uma postura reativa para com os maus tratos da sociedade. É uma aproximação com os temas que estão no topo da atualidade e que servem para aumentar a vergonha alheia. The Umbrella Academy nesta temporada vai até aos anos 60, e chegar à conclusão de que tantos anos depois ainda há uma discussão aberta sobre um tema que não devia sequer ser uma pauta, mas sim algo normal, é repugnante. Sendo ou não um trabalho do argumento para criar essa proximidade, certo é que foi um timing bastante feliz é só ajudou Allison a destacar-se mais nestes novos capítulos e nesta cruzada do que na primeira season inteira. Um aplauso gigante para quem construiu a nova vida de Allison nesta timeline, porque fez um trabalho de mestre! Pela primeira vez fizeram com que fizesse sentido entregarem personagens com questões fraturantes sem parecer que estavam a tentar satisfazer a moralidade atual com temas embutidos a martelo no argumento e sem relevância para a história geral.
A comédia verdadeiramente hilariante ficou entregue aos membros masculinos dos Hargreeves com a capacidade de brincarem com as suas próprias instabilidades e tirarem partido disso para nos entregarem os melhores momentos da história da série. Comecemos por Diego que continua a envolver-se com mulheres que não lhe trazem nada de bom. Porém, desta vez conseguiram dar ao personagem a contracena que precisava. A dupla Diego e Lila no hospício é um diamante em bruto, enquanto ela o desconstrói sobre as suas inseguranças e apresenta ao público o complexo mal resolvido de Diego com o pai. Nada que não soubéssemos já, dado que o personagem sempre foi o irmão mais ligado à família, mas foi uma boa nota para comprovar que os showrunners sabem o que estão a fazer e têm carinho para com aquelas figuras. Klaus e Ben são outra dupla infalível, e bem melhorada nesta nova sequência, com uma cena de “luta” típica de irmãos a deixar-nos em lágrimas de riso. Klaus sempre foi o alívio cómico, mas toda a sua transformação para se tornar no profeta do futuro com um culto próprio, que ele define como religião alternativa, casa tanto com a descrição do personagem que não podia resultar em nada menos que fantástico. O trabalho do ator Robert Sheehan é fenomenal e deixa-nos sempre na incerteza de entendermos qual será o passo seguinte dentro da loucura de Klaus. Vale, ainda, a pena destacar o encontro entre o irmão hippie e o seu apaixonado Dave numa cena em que, tal como no núcleo de Allison, nos mostra que sobre o passado há uma clara diferença entre ser vintage e cheirar a mofo e que há temas que já se deviam encaixar na segunda categoria desde aquela época. Mas voltando ao personagem, é um claro exemplo de que ainda nos conseguimos surpreender com o mundo das séries e sobretudo com humor. Por mais simplista que seja o tipo de piada, é altamente imprevisível e consegue a nossa simpatia sem momentos cringe ou que nos encham de vergonha alheia, Klaus na sua loucura é “gente como a gente”. Sobre Luther cai um outro tipo de humor, mais engraçadinho para manter a coerência do homem forte que na realidade é um piegas. Não chega a agarrar-nos tanto na sua personalidade, porque ele próprio ainda não traçou bem o caminho para a sua vida. Fica sempre no limbo, mas mesmo assim tem uma das melhores catchphrases da temporada sobre o fim do mundo, afirmando a Number Five: «You always say that», deitando por terra aquilo que para muitos poderia ser uma falta de imaginação e tornando-o através do gozo em algo justificável dentro do storytelling. Mesmo assim, Luther talvez seja o elemento que menos tenha saltado à vista.

Aidan Gallagher volta a ser o grande protagonista da série entregando uma atuação que torna quase criminosa a falta de indicação do ator a alguma premiação. Ele é o maestro que reorganiza a equipa de volta, é a fonte de todos os problemas da família mesmo que dentro de todos os irmãos continue a ser o mais sensato e equilibrado. Number Five é o Ranger Vermelho de The Umbrella Academy com um talento transversal o suficiente para sair sem mácula nas viagens que faz entre a comédia e o drama. Como na season one, a personagem continua a ser o grande destaque dentro de um casting brilhante, com um trabalho de amadurecimento do ator mais jovem do elenco que envergonha muitos que são considerados estrelas em Hollywood. É ele a engrenagem que faz mexer toda a narrativa e nos entrega alguns dos diálogos mais sérios sem perder a compostura de homem preso no corpo de uma criança nem por um milionésimo de segundo. Os episódios a partir do cinco são um bom exemplo disso. Five toma as rédeas da situação para comprovar-se como o líder sensato no meio do caos enquanto pelo meio há espaço para uma sequência de ação que nasce do aumento do budget da season, que está claramente a criar novas expansões do seu universo à medida em que aprofundamos um pouco mais sobre tudo o que representa a Comissão. E falando na famosa organização encontramos um falso alarme. Aquele que pelos trailers e material promocional prometia ser o grande vilão foi na verdade um embuste para manter o segredo sobre o regresso de The Handler, que promete dar frutos nesta sua nova versão da Comissão, porque sim acredito que o regresso aconteça, e na sua relação com Lila. A jovem filha da vilã foi uma das melhores adições do elenco, apesar de nos primeiros capítulos nos passar uma imagem de empecilho. Contudo já na última metade, que serve, claramente, de ponte para a terceira temporada, ela apresenta-nos o seu potencial provando que nos próximos capítulos vamos ter um Diego bastante diferente, e talvez mais protagonista que coadjuvante como tem sido até então. Na verdade, Diego, ao contrário de Five, deixa-se engolir nas contracenas e nos diálogos. Não que isso seja um problema que prejudique a série, contudo fica sempre a sensação de que ainda não vimos o talento de David Castañeda no seu pleno. Talvez Lila ajude a isso.
The Umbrella Academy saltou para o top de favoritos da qualquer fã de super-heróis com uma segunda season que consegue ser a melhor de sempre dentro deste género. Ultrapassou várias posições no ranking e certamente vai conseguir trazer novos públicos para o show, uma jogada de mestre da Netflix que esperemos que ensine o serviço de streaming a gerir melhor o budget das suas produções. Até porque neste caso específico a concorrente mais “direta”, The Boys, transpira um orçamento elevado, e isso tornou a série da Amazon na mais lucrativa da plataforma, por isso se eles conseguem será assim tão difícil para a Netflix corrigir alguns erros relacionados com valores monetários? A experiência só melhora e dá resultados junto da crítica e assim uma maior credibilidade. Mesmo assim, com tanto de bom há uma clara preocupação sobre o futuro: Será que a terceira temporada vai conseguir superar? A fasquia está tão alta que é mais fácil errar do que surpreender, até porque os plot twists que nos venderam esta sensação de que tudo era eletrizante são difíceis de superar e são bons demais para cairmos numa repetição. As cenas finais amarram todos os núcleos da melhor maneira possível ao ponto de que caso terminasse agora conseguíamos ter um desenlace digno para a maioria das figuras. E isto depois de utilizar a experiência de viagem no tempo, que serve de base a todo o plot, para nos apresentar de uma maneira superinteressante temas importantes e sempre com a realidade histórica como pano de fundo. É bom ver o atrevimento dos autores que misturam factos e superpoderes no mesmo universo de uma forma ousada, mas lógica nos dois sentidos, tanto na representação do que historicamente aconteceu quanto para o universo em que a série se move. Os últimos três minutos, em que se encaram as consequências semelhantes às dos filmes Back to Future e Butterfly Effect, são o acrescento que vem virar o tabuleiro do avesso e entregar o link perfeito para todos os nerds se encherem de teorias. Podemos estar a beirar a mesma loucura de Klaus, mas o dois frames finais deixam antever que a terceira pode ser ainda melhor. Será possível? Certo é que The Umbrella Academy é uma das melhores séries originais da Netflix neste momento, com um argumento de luxo e um casting que só nos surpreende. A questão que se impõe é: Como é que ainda não viste?