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COMING UP | The Politician



The Politician continua a sua cruzada para nos mostrar um lado mais leve e divertido da política, sem esquecer o que são os factos. Esta não é uma série para todos. Isso é compreensível pelo tema e pelo tom. Mas não se pode negar a facilidade com que chega ao nicho de mercado que a pode considerar como algo envolvente e vanguardista. Como já é habitual nas histórias que têm Ryan Murphy como showrunner o elenco é sempre algo muito mais potente que a própria trama, e neste caso tem a sorte de ter ao seu lado grandes talentos. Não tem a mesma qualidade que o recente êxito Hollywood, até porque The Politician carrega muitos dos vícios e tiques que Murphy tem em American Horror Story, sobretudo no desenvolvimento de personagens. Tal como acontece na antologia, aqui Ryan tem um leque de personagens bastante interessante, mas num número maior do que precisa e isso é bastante notório na hora de os desenvolver. Não há espaço de ecrã para todos, porque nem todos são importantes para que a trama se desenrole. Skye e Infinity são dois exemplos, em versões opostas, mas chegaremos a isso mais à frente. Por enquanto há que aplaudir a forma como o texto aborda sem qualquer problema temas que podem ser polémicos demais para o momento em que vivemos, e o salto temporal entre seasons que tornou a trama muito mais empolgante nesta nova temporada. É satisfatório, mas deixa-nos ansiosos por sabermos que poderia ser ainda melhor. Porquê? É o que te vamos explicar nesta edição do Coming Up.

Um dos maiores acertos desta nova leva de capítulos deve-se ao elenco. Sabemos que ter caras conhecidas ou grandes estrelas que aparentemente estejam fora do circuito do streaming, ou até das séries, é sempre um chamariz. Mas em The Politician, ter duas estrelas hollywoodianas com carreiras consagradas tornou-se um impedimento para podermos vê-las brilhar como mereciam. Baixar os standards com uma única estrela a servir para criar apelo na trama foi uma aposta arriscada, mas que traz um retorno bastante bom. Um episódio sem Gwyneth Paltrow é sem dúvida algo muito mais pobre. E é ainda mais interessante quando paramos para pensar que este potencial esteve sempre lá, ofuscado por Jessica Lange, que claramente não estava no melhor momento quando embarcou na aventura de viver Dusty. A personagem era bastante vazia apesar do contexto que representava, é uma versão simplificada da representação de Patrícia Arquette em The Act. Por outro lado, Georgina passou de uma coadjuvante, com uma atriz de primeira linha por trás, para um destaque que realmente nos faz querer ver mais e mais para descobrirmos onde nos levam as suas ideias completamente fora da caixa. Incrivelmente até os exageros de Ryan Murphy lhe caem bem e todo o background de imprensa cor-de-rosa que acompanha a vida de Gwyneth dá-lhe um toque bastante criativo. É como se para construir Georgina, a atriz usasse todos os estereótipos que a imprensa lhe atribui, toda a loucura de mulher rica, mas que ao mesmo tempo tem um poder de comunicação bastante peculiar. É um personagem feito claramente à medida da sua intérprete, e isso já sabemos que costuma ser a praia do autor. 


Temos de dar, também, o aplauso mais que merecido a Ben Platt que continua irrepreensível na pele de protagonista. Por mais expressivo que seja o ator, o que enriquece bastante a personagem, a verdade é que Ben consegue esvaziar toda a sua presença nos momentos em que nos dizem que Payton é oco. Ele não se descobriu, e é extremamente interessante ver retratado um personagem que por fora é a definição de segurança, mas por dentro se sente completamente vazio. Há um bom paralelismo com o que de facto são as figuras políticas, e como nunca podem assumir de forma veemente que gostam a cem por cento de algo, pois isso pode trazer-lhes um fardo pesado. Sobretudo quando falamos de política internacional, e ainda mais nos EUA onde tudo é escrutinado à exaustão, como vimos em Scandal ou Designated Survivor. Não sendo sequer tão sério ou romanceado como Scandal, é interessante ver como duas narrativas que acompanham um mesmo tema conseguem contar-nos pormenores idênticos. Há uma sensação de verdade no ar, por mais excêntrica que seja a visão de Ryan Murphy nas suas tramas. O público gosta de se sentir incluído, e gostamos sobretudo de entender e aprender quando estamos simplesmente a passar o nosso tempo. The Politician consegue dar-nos isso, sem se tornar demasiado sério. É importante referir aos fãs da voz de Platt, que o protagonista conseguiu superar-se. Se já tínhamos achado a interpretação de River algo muito próximo do auge de Glee, em Corner Of The Sky temos uma das melhores cenas da série, até agora. Com uma constante busca pela identidade, que já vem desde a primeira temporada, Payton traduz na canção aquilo que todos precisamos de ouvir: Que cada pessoa tem o seu lugar, que cada um de nós tem alguma espécie de dom ou talento. É a filosofia de Ryan Murphy, mas é sobretudo uma ótima banda sonora para os tempos que se vivem onde continuamos a viver polémicas baseadas em sexualidade, racismo ou intolerância.

Por outro lado, temos de falar sobre Infinity e o péssimo timing apenas comparado com os filmes Capote com Phillip Seymour Hoffman e Infamous protagonizado por Toby Jones. Depois de uma malograda primeira season em que a sua personagem foi atropelada pela exploração de The Act, tudo conseguiu pior nesta nova versão. Quando o argumento teve oportunidade de fazer o trabalho da atriz Zoey Deutch sobressair preferiu ignorá-la e deixá-la como um adereço com meia dúzia de falas. Ainda por cima com alguém que até ao final da primeira temporada era claramente uma coprotagonista. Infinity foi tratada com desprimor, e pareceu oca, quase como se não trouxesse nenhum tipo de consequências do passado dramático que vimos na temporada anterior. O interesse pela personagem morreu totalmente, e há sérias dúvidas que possa ser ressuscitado em futuras seasons. No entanto, no caminho de desenvolvimento de personagem há três apostas muito fortes para a terceira temporada, por motivos bastante distintos. Alice passou mais uma sequência em busca da sua personalidade, contudo o novo salto temporal parece ter colocado finalmente a personagem nos eixos e apesar de ter sido outra figura que aparentou ter apenas uma participação especial na história, valeu-lhe o seu extenso monólogo sobre a ambição pela autodefinição, pelo amor próprio, que serviu para rebentar a bolha da personagem de vez e lhe dar o rumo que merece. Porque apesar de uma presença pouco expressiva, a atriz Julia Schlaepfer tem-se provado bastante competente. A segunda aposta vai para Dede. A personagem manteve-se como coadjuvante, mas deixando transparecer em alguns momentos que vai acabar por atrair os holofotes para si. Dede foi a bandeira da passagem de testemunho, num discurso bastante bonito e que nos deixa alguma pena que estejamos perante um produto de ficção, porque todas as palavras e a interpretação da atriz estavam no sítio certo. Por fim, na lista de apostas, temos de referir Hadassah. Ela foi um alívio cómico, necessário, mas limitador. Teve piada? Bastante. Aliás Bette Midler soube encaixar-se bem nos meandros da série, mas perdeu-se a possibilidade de dar uma profundidade maior a uma personagem que tem mais para dar. Na terceira leva de capítulos esperemos que exista espaço para Dede e Hadassah ganharem mais protagonismo, ao género de Gwyneth desta vez.


Já que falamos de Hadassah e Dede, destaque, ainda, para a ousadia com que trataram o tema do poliamor. Não é novo, nem em The Politician nem em tramas de Ryan Murphy, mas pela primeira vez ganhou um destaque fundamental numa história do autor. Por mais que seja tratada como uma perversão, devido ao contexto da série, há também um fio condutor que lhe atribui a normalidade necessária para falar sobre este assunto que ainda pode ser bastante delicado aos olhos de algumas franjas do público. É diferente, mas na série não chega a chocar pela leveza com que é abordado, no meio caminho entre um retrato realista e a comédia. Mostrou que é muito mais do que ter relações sexuais com duas pessoas em simultâneo, é muito mais sobre provar que o amor se demonstra de várias formas. E pronto, lançou o assunto para a discussão, e discutir é torná-lo um pouco mais próximo da aceitação. Payton representa um processo falacioso, mas ao mesmo tempo progressista, no sentido em que tenta ser a voz dos jovens, ao mesmo tempo que mantém uma postura algo conservadora na maneira como vê uma eleição. E é isso que amarra toda a série, a forma conservadora como Payton trata as coisas, enquanto todos os assuntos que orbitam à volta daquela eleição são uma verdadeira pedrada no charco, sobretudo pelas personagens que lhes vestem a pele, isto pelo menos falando em Dede, William e Marcus. Aqui Ryan jogou todas as fichas e ganhou por mais uma vez provar que não há um personagem tipo para cada tema, porque no fundo na vida real cada assunto não se enquadra só num estereótipo.

The Politician tem uma linguagem diferente por detrás de um tema bastante sério. Tem um traço muito vincado dos temas que Ryan incute em todas as suas narrativas. Mas sufoca-nos por entendermos que há momentos em que há demasiados caminhos e que o autor não sabe escolher os spotlights que entrega. Ele acaba por deixar embrenhados em arcos algumas personagens que tem muito mais pano para mangas. Isso não é um problema de agora, mas é algo que torna The Politician um pouco mais longe da perfeição. A segunda temporada tem o péssimo timing de surgir depois de Hollywood, que foi provavelmente, e a par de American Horror Story: Asylum e Coven uma das obras primas da carreira do showrunner. Isso traz à tona os vários problemas que a série tem, apesar de no resumo de toda a leitura o saldo seja bastante positivo e consiga facilmente ter plots atraentes para a nova temporada. Queremos mais de Gwyneth e parece que vamos ter, felizmente porque a trama política precisa de manter aquela linha que transpõe para The Politician os clichês que todos dizemos sobre os momentos de eleições, alguém com poder que diga o que o povo pensa, por mais insano que isso possa parecer, é, de longe, um acerto gigante e uma necessidade que nem sabíamos que tínhamos. A nova season limou algumas arestas, mas o trabalho ainda não está totalmente feito, vamos continuar?