Coming Up | A Canção de Lisboa
O remake de A Canção de Lisboa, escrito e realizado
por Pedro Varela, estreou nos cinemas em 2016. Mais de 80 anos depois do
lançamento do filme original, regressou assim, ao grande ecrã, a história de
amor entre Vasco e Alice, numa versão integrada na trilogia intitulada de Novos
Clássicos. Para além deste, foram ainda produzidos os remakes de O Pátio das Cantigas e O Leão da Estrela. A qualidade narrativa
foi crescendo desde o primeiro filme – que se tornou na película portuguesa
mais vista de sempre no cinema, mas que deixou muito a desejar no que toca à
qualidade. Um dos pontos mais positivos de A
Canção de Lisboa é o facto de este ser o filme ser aquele que mais se
afasta do original.
Com o filme de 1933, a nova
versão de A Canção de Lisboa tem em
comum a intriga inicial e as personagens centrais. Na história, Vasco, um rapaz
que já reprovou várias vezes no exame oral de medicina, mente às tias,
dizendo-lhes que já é médico, e tem de as receber em Lisboa, quando elas vêm
para visitar o consultório do sobrinho e este tem de resolver o imbróglio. Ao
mesmo tempo surge Alice, a apaixonada de Vasco e cujo pai rapidamente se
interessa pelo eterno estudante, graças à fortuna das tias. Para além disto,
quase tudo o que vemos no ecrã não está diretamente relacionado com o original.
César Mourão e Luana Martau são
os protagonistas de A Canção de Lisboa.
O ator que interpreta Vasco supera o papel que interpretou em O Pátio das Cantigas e, desta vez,
vemo-lo na sua plenitude enquanto ator e cantor. Enquanto isso, Luana Martau,
desconhecida do público português, conquista a plateia com a sua genuinidade,
simpatia e beleza, juntando-se a César Mourão num dueto magnífico na música Será Amor.
Desta vez, Alice é brasileira e
filha da personagem interpretada por Miguel Guilherme – que passa de alfaiate a
candidato a primeiro-ministro. Os três atores cumprem o seu papel e acabam por
ser responsáveis pelo melhor leque de protagonistas dos três filmes. Miguel Guilherme
confirma-se como um dos melhores atores em Portugal, com uma personagem que
facilmente passa do drama à comédia e, desta vez, sem grandes estereótipos e
exageros – aquele que foi um dos maiores erros do primeiro remake.
A banda sonora do filme, que
conta com três temas originais de Miguel Araújo, é outro dos grandes destaques.
A escolha do cantor e compositor foi a mais acertada e a sequência final, onde
ouvimos a música, acaba por ser uma das mais bem conseguidas de todo o filme. Destaque
ainda para o grande flashback em que a personagem Vasco recorda a forma como
conheceu Luana, resultando quase como uma curta-metragem independente – um
filme dentro de outro filme. Esta sequência é, possivelmente, a melhor deste
remake, no que diz respeito à coerência narrativa e visual.
Do elenco fazem ainda parte Maria
Vieira e São José Lapa, as tias de Vasco, que nesta versão não são irmãs, mas
sim um casal. Também Carla Vasconcelos e Dinarte Freitas se juntam ao elenco,
interpretando duas personagens cómicas que prometem conquistar as gargalhadas
do público e até Ruy de Carvalho faz parte da história, no papel de um
professor universitário.
A ideia de apostar nestes Novos Clássicos pode não ter sido a melhor, pois os clássicos originais são icónicos e foram produzidos num determinado contexto temporal. Partir de uma matéria-prima tão bem-feita à época e adaptá-la para a realidade atual pode não ter resultado tão bem como seria esperado. Ainda assim, com A Canção de Lisboa encerra a trilogia da melhor forma, redimindo-se com uma história coesa e divertida, em que as piadas fáceis estão presentes, mas não dominam o guião.
A ideia de apostar nestes Novos Clássicos pode não ter sido a melhor, pois os clássicos originais são icónicos e foram produzidos num determinado contexto temporal. Partir de uma matéria-prima tão bem-feita à época e adaptá-la para a realidade atual pode não ter resultado tão bem como seria esperado. Ainda assim, com A Canção de Lisboa encerra a trilogia da melhor forma, redimindo-se com uma história coesa e divertida, em que as piadas fáceis estão presentes, mas não dominam o guião.
André Pereira
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