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Especial | "Uma Aventura - 21 Anos"


Em 2000 chegava à SIC a adaptação televisiva de uma das coleções literárias mais lidas de sempre. O sucesso passou dos textos para o pequeno ecrã e Uma Aventura é, possivelmente, a série infanto-juvenil portuguesa mais vista das duas últimas décadas. 

Foi a 14 de outubro, numa manhã de sábado, que a SIC exibiu o primeiro episódio da série. Em 2021, assinalam-se 21 anos desde a estreia da série e o Fantastic recorda o percurso da produção que acompanhou as aventuras de Teresa, Luísa, João, Pedro e Chico.


Uma Aventura na Cidade marcou o início da primeira temporada, que contou com sete episódios, emitidos semanalmente pela SIC. Nos papéis principais estavam os então estreantes Manuel Moreira (Pedro), Cristóvão Campos (Chico), Mafalda Mendes (Teresa), Filipa Mendes (Luisa) e Sandro Silva (João). Se os três últimos não voltaram a trabalhar como atores depois da experiência em Uma Aventura, o caso de Manuel Moreira  e Cristóvão Campos é diferente.

Os dois atores continuaram a ser presença assídua em produções televisivas e não só. Nos últimos anos, Manuel Moreira tem integrado diversos projetos, como é o caso da telenovela Única Mulher, da TVI, o musical Avenida Q, que esteve em cena em 2017, ou o programa Super Swing, que apresentou no Canal Q. Já Cristóvão Campos tem feito cinema e televisão, estando atualmente no elenco da telenovela Alma e Coração, da SIC.

A gémea Filipa Mendes revelou ao Fantastic que, depois de Uma Aventura, a sua vida seguiu um rumo completamente diferente. “As pessoas já não me reconhecem fisicamente porque não tenho nada a ver com o que era. Passaram-se alguns anos e por isso é natural que tenham havido algumas mudanças. No entanto, é curioso como há pessoas que me ‘apanho’ sempre quando falo”, explicou a Luísa das duas primeiras temporadas.

Mafalda Mendes e Filipa Mendes foram as gémeas das duas primeiras temporadas
 
A irmã, Mafalda Mendes, explica que pensar em Uma Aventura é como imaginar um “sonho” que aconteceu há alguns anos e que trouxe uma série de vantagens, pessoal e profissionalmente. “A nível profissional posso dizer que esta experiência trouxe-me a teatralidade e capacidade de improvisação que tantas vezes são imprescindíveis ao exercício da minha profissão: a advocacia”, contou Mafalda.

A jovem recorda ainda que, na altura em que participou na série, as gravações “não passavam de uma brincadeira”, por não ter experiência na área e ser muito nova. “Para a restante equipa tratava-se das suas profissões. Saber que o sucesso e trabalho dos outros poderia estar condicionado pelo meu mau desempenho, levou-me a perceber o sentido da responsabilidade e a ver facilmente problemas de várias perspectivas”, acrescenta a Teresa da série.

A ideia original de adaptar a colecção escrita por Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada para o pequeno ecrã partiu de Helena Pedro Nunes, a mentora da série. “Os livros já existiam, eram escritos por duas autoras que eu conhecia e lembrei-me de ir ter com elas e ficar com o exclusivo dos direitos", contou a Helena Pedro Nunes ao Fantastic.

Helena Pedro Nunes foi a mentora das duas primeiras temporadas
 
A artista plástica confessou ao Fantastic que, para criar um projeto como este, "tem de haver muita qualidade, muita criatividade". Depois da ideia surgir, Helena decidiu avançar com a produção. "Eu era a diretora geral de uma produtora, a Focus, constituí a minha própria empresa e criei a série”, explicou.

O facto do elenco principal ser estreante em televisão foi, para Helena Pedro Nunes, um desafio. “Tentei também trabalhar com atores já consagrados para alavancar esses jovens. E saíram-se muitíssimo bem, considero que foi uma excelente equipa. Tive que gerir isso tudo, eles estavam na idade de estudar, mas conseguimos. Eles desempenharam muito bem o seu papel. Com certeza que terei sempre uma ternura muito especial”, contou a produtora da série.


Depois dos sete episódios iniciais, a SIC acabou por produzir uma segunda temporada, que estreou um ano depois, a 13 de outubro de 2001. Os nove novos episódios contaram com um elenco diferente e só as atrizes que interpretam as gémeas transitaram para a nova temporada. A elas juntaram-se João Marta (Pedro), Alexandre Personne (Chico) e Salvador Nery (João).

Helena Pedro Nunes voltou a assumir a produção desta nova temporada, a última na qual esteve envolvida. “As próprias autoras liam os guiões e envolveram-se muito, daí que foi um projeto com tanto sucesso”, revela a produtora.

Para João Marta, o Pedro da segunda temporada, “é uma emoção” lembrar-se de Uma Aventura. Orgulho-me e tenho vaidade por fazer parte duma equipa que marcou parte de uma geração. Fica a saudade e a vontade diária de achar uma máquina do tempo... Saudades das nossas histórias nos bastidores, das nossas zangas, dos raspanetes dados pela produção quando fazíamos asneiras, saudades das pessoas, saudades dos cheiros das coisas”, contou o ator ao Fantastic.

Atualmente, o mundo da representação continua a fazer parte da vida de João Marta, para quem Uma Aventura significa a realização de um sonho quando ainda estava a meio do curso de representação”, tendo sido a sua estreia como ator profissional.

Salvador Nery foi um dos apresentadores de "Art Attack" no Disney Channel
 
Salvador Nery, que na altura em que participou na série tinha 11 anos, acabou por seguir a sua carreira como ator e atualmente integra o elenco de várias peças de teatro e de produções televisivas, tendo sido em Vidas Opostas, da SIC, que interpretou a sua personagem mais recente em televisão. Nos últimos anos fez participações especiais em outras séries e telenovelas e deu ainda a cara pelo formato Art Atack, no Disney Channel, que marcou o seu regresso à televisão de forma regular depois de Uma Aventura.

O jovem ator recorda os tempos de gravações, que decorriam “durante as férias do verão, até ao Natal, mais coisa menos coisa”, explicando ainda que cada “aventura” demorava “mais ou menos uma a duas semanas a gravar, o que era de longe tempo suficiente para tirar o máximo partido de cada localidade e ao mesmo tempo, suficiente, para nos fazer sentir parte daquele local”.

Para Salvador, “o facto da série ter sido gravada maioritariamente em exteriores” era uma das grandes vantagens, uma vez que “promovia uma sensação de que de facto aquilo estava a acontecer”.

Helena Pedro Nunes partilha da mesma opinião, realçando a importância pedagógica da série, uma vez que se passava em locais reais, em diversas regiões do país. “A série preocupava-se em mostrar o Património Nacional, como o Palácio da Pena, a Quinta das Lágrimas, a Torre de Belém, o Mosteiro dos Jerónimos... Havia um certo lado pedagógico. Tenho vontade de pegar noutro projeto destes e desenvolvê-lo, porque sou muito a favor disso”, conta a também artística plástica.


Entre 2004 e 2007 foram para o ar mais três temporadas de Uma Aventura, com um elenco completamente novo. Ao longo de 21 episódios, foram Francisco Areosa, Rudy Rocha, Maria Figueiredo, Diana Figueiredo e Pedro Nolasco que deram vida, respectivamente, ao Chico, João, Teresa, Luísa e Pedro. Esta é considerada a “segunda era” de Uma Aventura, não só pelo intervalo temporal em relação à temporada anterior, como também pelo formato de produção ser diferente.

Dos cinco atores que fizeram parte destas três temporadas, apenas Francisco Areosa se manteve no meio televisivo de forma regular. O ator participou em projectos como Morangos com Açúcar, da TVI, ou Sinais de Vida, da RTP1. Para Francisco Areosa, Uma Aventura é um projeto que recorda com muita saudade. “Foram tempos de alegria, trabalho, mudança, diversão, aventura, risco, conquista, e muita amizade”, explicou o ator ao nosso site.

A grande razão pela qual sou ator, apesar de não ter sido o meu primeiro trabalho, foi com as gravações da série que decidi que este seria o meu caminho... Digamos que a minha aventura começou aí e está longe de terminar”, remata.

"Uma Aventura na Casa Assombrada" estreou nos cinemas em 2009
 
Em 2009, foi ainda produzido um filme para cinema, intitulado Uma Aventura na Casa Assombrada, adaptação do livro com o mesmo nome. O filme conta as aventuras do grupo que saem em busca do "Espírito do Mundo", um suposto diamante asteca que havia sido roubado vários séculos atrás.

Da série, apenas Francisco Areosa transitou para o grande ecrã, voltando a interpretar o papel de Chico. Já as gémeas Teresa e Luísa foram agora da responsabilidade de Margarida e Mariana Martinho, enquanto César Brito deu vida a João e Luís Lucas Lopes a João.

A produção cinematográfica foi o filme português mais visto em 2009, tendo acumulado até ao dia 31 de dezembro desse ano um total de 102.309 espectadores. A realização ficou a cargo de Carlos Coelho da Silva.


A série está há 21 anos no ar, tendo sido exibida na SIC e também na SIC K, ao longo de quase duas décadas. Apesar das inúmeras repetições, os 37 episódios continuam a ser emitidos, conseguindo bons resultados de audiência.

O sucesso deve-se, no meu entender, às suas autoras e à relação que a série tem com os livro”, começa por dizer Francisco Areosa. “Uma Aventura é um livro que ensinou gerações a ler e a ter o gosto pela leitura, daí a série continuar a ter o sucesso que tem. É claro, e quero acreditar também, que se deve à paixão e ao excelente trabalho que todos os envolvidos nestas cinco temporadas tiveram”, conta o Chico das três últimas temporadas.

Para Mafalda Mendes é também “muito bom ver que há várias gerações de pessoas que ainda se lembram da série e que a recordam com carinho e saudades”. A irmã, Filipa Mendes, considera que “esta série é didáctica, com pessoas reais e também ela é quase real na sua abordagem visto que vem chamar a atenção para os problemas da criminalidade e vem apelar à não violência”.

A protagonista das duas primeiras temporada explica ainda que ela e a irmã sempre gostaram de arriscar e de viver historias perigosas quando eram mais novas. “Esse espírito sempre esteve latente em nós e continua bem marcado. Talvez isso possa ter contribuído de alguma forma para tornar a série mais intensa e mais vivida, tornando-a mais autêntica e mais próxima de quem a via”, conclui.

A coleção foi iniciada em 1982 e em 2018 conta já com 60 livros
 
Helena Pedro Nunes vai mais longe, considerando que Uma Aventura é um “case study, porque na altura os jovens que viam a série hoje já são adultos e ainda a recordam com muito carinho”. A produtora dá o exemplo do seu filho. “Ele tem a mesma idade que a série, nasceu em 2000 e ele próprio sempre viu e gostou, desde pequenino”.

Salvador Nery diz que a série “tem todos os ingredientes para dar certo”, uma vez que “o tema vai ao encontro daquilo que o público alvo da série procura naquela idade: partir à descoberta de algo novo, desvendar mistérios e sair com os amigos sem que os pais saibam o que estão a tramar”.

Em jeito de conclusão, Filipa Mendes acha que “esta grande aventura significa que os anos passam e as recordações ficam para sempre connosco, independentemente dos caminhos que seguimos pela vida fora”, uma vez que “a vida é Uma Aventura que deve ser vivida intensamente em todos os seus momentos, cada um único e especial, por isso há que "respirá-la" e aproveita-la da melhor forma que conseguirmos. De preferência, sempre com um sorriso nos lábios”.


ESPECIAL "UMA AVENTURA - 21 ANOS"
Texto: André Pereira
Fotografias: SIC, InParties, Editora Caminho, N-TV, Valentim de Carvalho, Arquivo Global Imagens
Agradecimentos: Filipa Mendes, Mafalda Mendes, Salvador Nery, Francisco Areosa, João Marta e Helena Pedro Nunes

NOTA: AS ENTREVISTAS AOS ATORES E PRODUTORA DE "UMA AVENTURA" FORAM REALIZADAS EM OUTUBRO DE 2013