MOTELX 2019 - 13 anos de cinema de terror em Portugal
De 10 a 15 de setembro, decorreu em Lisboa a 13ª edição do MOTELX. Num ano em que a afluência às sessões foi particularmente grande, houve espaço para filmes de terror para todos os gostos. E até mesmo clássicos como “Sexta-Feira 13” ou “Alien” foram exibidos no Cinema São Jorge. O Fantastic esteve presente no festival de cinema de terror e conta-te o que aconteceu ao longo de seis dias.
Os vencedores
“Erva Daninha”, de Guilherme Daniel, foi eleita a Melhor Curta de Terror Portuguesa e torna-se, assim, o grande destaque nacional deste festival. O júri composto por Samuel Úria, Howard David Ingham e Raquel Freire escolheu a curta-metragem de Guilherme Daniel, uma vez que todos os elementos ficaram “fascinados e perturbados desde o início”, revelando que esta foi uma “competição muito forte”. O filme nacional soube, por isso, “comunicar verdadeiramente uma estranheza sobrenatural, e é um filme que nos dá a sensação de ser única e autenticamente português”.
“Erva Daninha” retrata a história de um casal que cultiva um terreno aparentemente infértil e que um dia encontra na terra uma semente negra que virá a crescer e influenciar os seus comportamentos. Este foi o segundo ano em que Guilherme Daniel se sagrou vencedor nesta categoria, uma vez que em 2018 tinha vencido com “A Estranha Casa na Bruma”. O júri decidiu ainda atribuir uma Menção Especial a “Häuschen – A Herança”, de Paulo A. M. Oliveira e Pedro Martins.
A nível internacional, “Why Don’t You Just Die!”, de Kirill Sokolov, venceu o Prémio MOTELX – Melhor Longa de Terror Europeia, uma escolha de David Gregory, Miguel Gonçalves Mendes e Rita Anjos. A “grande frescura e audácia” do filme, que se destaca pelos seus “múltiplos twists e humor negro” foi o grande factor que levou a esta vitória, adiantou o painel de jurados.
“Why Don’t You Just Die!” é a primeira longa-metragem do realizador russo de 29 anos e tem feito sucesso no circuito internacional de festivais. Trata-se de um jogo frenético de gato e rato entre um detective e “pior pai do Mundo”, uma filha ressentida, o seu namorado, um polícia enganado e um bandido enraivecido que é também um comentário cáustico sobre as contradições da sociedade moderna russa.
O júri atribuiu ainda uma Menção Especial a “The Hole in the Ground”, do irlandês Lee Cronin, pela “precisão e controlo da atmosfera de suspense” e por “interpretações excepcionais”. Já “Midsommar” foi o grande vencedor do Prémio do Público, sendo o escolhido entre os 26 filmes da secção Serviço de Quarto. O realizador Ari Aster apresentou o filme no festival, em antestreia nacional, uma vez que poderás vê-los nos cinemas portugueses a partir do dia 26 de Setembro.
Outros filmes que merecem a nossa atenção
O Prémio para Melhor Longa de Terror Europeia foi atribuído a “Why Don’t You Just Die!”, mas para além desta, foram exibidas outras obras europeias que merecem a nossa atenção. O Fantastic destaca algumas, quer pela sua particularidade narrativa, quer pela reação provocada junto do público.
A primeira trata-se de “All the Gods in the Sky”, uma longa-metragem de Quarxx, que nos relata uma relação doentia entre Simon, de 30 anos, e a sua irmã, Estelle, a sua irmã mais nova, que padece de uma deficiência grave, resultado de uma brincadeira na infância. A crueldade das imagens e as ações sujas – metafórica e literalmente – da personagem masculina ao longo do filme são puras e cruas. E se o realizador admite a inspiração em ícones como David Lynch ou Roman Polanski, essas referências estão lá todas – sobretudo se pensarmos no olhar de Polanski. Talvez o realizador tivesse ganho se não explicasse tanto na parte final do argumento, mas, ainda assim, “All the Gods in the Sky” merece a nossa atenção.
Já o francês “Get In”, trata-se de um filme especialmente apetecível, que acaba por se perder por não encontrar uma linha condutora equilibrada. Se, numa primeira parte, a crítica social é a protagonista da narrativa, os últimos vinte minutos de filme entram numa zona mais clássica e crua do puro terror. Mas se esta evolução poderia, à partida, ser vista com bons olhos, a verdade é que “Get In” falha pela heterogeneidade das suas duas grandes partes. Como um todo, é um filme que se perde a meio. Destaque mais do que positivo para a questão formal – a fotografia, a realização e a montagem são o o melhor da produção – enquanto a caracterização e desenvolvimento das personagens peca pelo exagero.
E se o ponto de partida de “Get In” era a ocupação de uma casa, sem o consentimento dos donos, e todo o processo de recuperação da mesma pelos proprietários, numa perspectiva totalmente diferente vamos encontrar esta temática – a dos “ocupas” – num outro filme exibido no MOTELX. Falamos de “I See You”. Spoilers à parte, o filme de Adam Randall é uma aposta do segmento “Serviço de Quarto” e não está em competição. Se se trata de um dos grandes filmes desta edição? Não. Mas para quem é fã do género de terror, aproxima-se mais do cinema mainstream, sem deixar de surpreender e trazer-nos algumas particularidades interessantes – como por exemplo, o facto de Randall brincar com os vários tipos de linguagem cinematográficos, com a mudança o ponto de vista do espectador a meio do filme e com os vários twists surpreendentes presentes até ao último minuto.
Para além destas propostas, importa ainda referir os seguintes filmes, exibidos neste MOTELX: o português e bem fotografado “Faz-me Companhia”, de Gonçalo Almeida; “Ma”, de Tate Taylor – sobretudo pela incrível prestação de Octavia Spencer; e o documentário “Horror Noire: A History of Black Horor”, de Xavier Burgin, pela sua importância na programação deste festival.
Fotografias: Direitos Reservados
Texto: André Pereira
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