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Fantastic Entrevista - Cris Aysel

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Cris Aysel é bailarina, professora de Dança Oriental, proprietária do espaço All For Dance, e pioneira na organização de festivais nacionais dedicados à Dança Oriental e Dança Tribal e Fusões. Nesta parceria com o Instagram Dança Oriental Portugal, a artista falou-nos do seu percurso, das dificuldades de gerir uma escola de dança, do surgimento dos festivais portugueses e da sua opinião relativamente ao panorama da Dança Oriental nacional.

1. Quando é que começaste a dançar?
A dança começou cedo na minha vida. Sempre fui uma criança cheia de energia, mas a verdade é que iniciei-me no Ballet aos 4 anos, juntamente com a minha irmã, por recomendação médica, mais precisamente pelo ortopedista. O médico aconselhou os meus pais a colocarem-nos nas aulas de ballet para ajudar-nos a corrigir os joelhos juntos e pés chatos. A dança ajudou a melhorar, juntamente com as botas ortopédicas 😊. Apaixonei-me pelo Ballet, mas também pela dança em geral. Em casa fazia jogos com dança, divertia-me a dançar ao som das músicas que tinha, vibrava com o Fame e tentava reproduzir o que via. Importante dizer que era e sou muito tímida, mas quando dançava nada mais importava. Lembro-me que quando tinha 5 anos, numa festa da escola, participei num concurso de dança (samba... nasci no Brasil) e fiquei em segundo lugar. No entanto, o que me lembro muito bem é da minha mãe a contar sempre a história de que quando me viu no palco nem acreditava que era eu, por ser tão tímida e por ter me oferecido para participar 😂.
Pratiquei ballet até vir para Portugal e depois a dança ficou em stand by, pois havia outras prioridades. No entanto, em casa nunca parei. Retomei à dança quando estava na faculdade, comecei com as danças africanas tribais e com danças brasileiras e depois, quando descobri a dança oriental, ao ver uma bailarina a actuar no ISPA, onde estudava, foi paixão à primeira vista e quis experimentar. Nunca mais a deixei, foi aquela em que me descobri...passei por outras danças também, como o jazz, Flamenco, por exemplo, e penso que tudo ajudou a ser uma bailarina de oriental mais completa.

2. Quais as tuas maiores influências artísticas?
Pergunta difícil... tenho várias em vários campos. Sou uma apaixonada pela arte e literatura no geral, e até gostaria de conhecer muito mais coisas e mais aprofundadamente...mas acho que tudo o que gosto de alguma forma influencia-me. Na dança oriental não posso deixar de valorizar mestres que tive e tenho como por exemplo, Shokry Mohammed, Joana Saahirah, Munique Neith entre outros, mas sinto que músicos e grupos como Dead Can Dance, Ludovico Einaudi, Dead Combo, Massive Attack, Portishead, influenciam-me artisticamente. Poderia dizer muito mais artistas, na verdade...

3. És criadora do estilo Indie Fusion. Podes falar-nos um pouco mais sobre a criação deste estilo e sobre as suas características?
Criei o estilo, ou antes, dei o nome ao estilo ( talvez o que faço não seja muito diferente do que muitas bailarinas de fusão fazem) em 2010, mas uma ideia que já marinava na minha cabeça desde 2008 ou 2009. Sou uma apaixonada por dança oriental, mas também por música. E talvez de uma linha mais alternativa ou independente. Cheguei a uma altura da minha carreira em que pensei: quero mesmo dançar as músicas que adoro, em que a dança oriental será o meu ponto de partida, mas em que poderei usar os outros estilos por que passei e ainda pela minha criatividade e interpretação pessoal. Na altura, dei um nome, porque sentia que não era fusão tribal, mas que também não era dança oriental. A escolha de Indie Fusion foi então totalmente marcada pela música ( Independente), onde toda a música que não fosse oriental seria alternativa. Confesso que inspirei-me para o nome, num programa de rádio que ouvia e ainda ouço, quando tenho possibilidades, o Indiegente, do Nuno Calado. Achei a brincadeira com a palavra deliciosa e verdadeira e adoptei o indie para o meu estilo, ehehe.
Portanto, poderia dizer que o que caracteriza o estilo é: a música escolhida; haver dança oriental e uma abertura para outras linguagens que claro que deixam de ser só Ballet, jazz, contemporâneo ou outras danças, pois tudo se fusiona e ganha outra forma; a escolha dos movimentos tem de ir ao encontro à personalidade da música, portanto, posso dizer que a capacidade interpretativa é muito importante;
Há passos que sinto que são "indie", pois são muito usados por mim desde o início da criação do estilo e que passo às minhas alunas. No entanto, sinto que é uma fonte inesgotável, pois estamos em constante mutação, crescimento e logo isso reflecte-se na dança e nos movimentos.
Divirto-me imenso a criar neste estilo e sinto que ali consigo colocar todos as minhas facetas e influências artísticas. É portanto, o meu lado mais visceral e emocional na dança... quer seja algo alegre, brincalhão, misterioso ou triste.

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4. Tens uma escola de Dança, a All For Dance em Alfornelos, que oferece vários estilos de dança. Quais são os maiores desafios de gerir uma escola de dança?
Não é muito fácil, pois gerir um espaço exige muito. Gerir um estúdio onde és a que faz tudo, mais ainda. É pequeno e portanto mais fácil de controlar, claro, no entanto, por outro lado és gestora, secretária, empregada de limpeza, responsável do marketing, relações públicas, psicóloga, professora, produtora e muito mais. Tenho várias falhas a vários níveis, mas vou sempre tentando que o espaço cresça. A ajuda dos meus pais foi fundamental para ter o estúdio, pois foram eles que quiseram e me permitiram ter um espaço na sua loja...e sinto uma falta enorme deles...para me aconselharem, para me darem na cabeça, para estarem sempre do meu lado nos bons e nos maus momentos. No entanto, agradeço o que fizeram por mim e por ajudarem a tornar quem sou e agradeço também à vida por ter sempre pessoas fantásticas ao meu redor que me ajudam e apoiam. Já vou conseguindo pedir mais ajuda e foi algo que fui aprendendo com o tempo, eheheh.

5. És professora há vários anos e já formaste várias bailarinas portuguesas. Quais são as maiores dificuldades em ser professora de Dança em Portugal?
Comecei a dar aulas há 17 anos...dar aulas aconteceu por acaso, ou seja, não foi um plano meu. Quando era aluna, a Liliane Viegas, que era a responsável do parte da dança do ginásio do ISPA e da escola Sétima Posição (uma referência no mundo da dança no anos 80, 90 e 2000, até ter encerrado) disse-me que achava que tinha perfil e aos poucos foi-me chamando para substituir aulas. Ela e o Marco Silva, também da Sétima, confiaram em mim para ser substituta de uma professora de oriental da escola, que foi de férias durante um mês. Ela nunca mais voltou...e eu fiquei, durante 12 anos, até a escola encerrar.
Ser professora de dança não é fácil, pois a arte é sempre uma área complexa. Ser professora de dança oriental ainda mais, pois vive também de modas do momento. Não posso me queixar, pois consegui sempre ir tendo alunas, no entanto, mesmo quando só tinha ou tenho 1 ou 2 eu mantenho a aula, pois acredito sempre que vai resultar, ou que pelo menos para aquelas alunas está a resultar. Acho que para viver com a incerteza dos rendimentos, para não saber como será o próximo mês ou próximo ano, para lidar com o facto de haver muitos professores bons de dança oriental e não tantas alunas assim, é preciso amar muito a dança, mas acima de tudo amar ensinar. Se decidirem dar aulas só pelo dinheiro, será complicado. Mas se investirem em vocês enquanto bailarinas ( fazer formação, ver muita dança), serem boas pessoas ( obviamente que isto é relativo, mas acredito que um bom coração é uma bela ferramenta de trabalho) e terem real vontade de passar conhecimentos é possível continuar a ser professor de dança no nosso país. Deixei o meu emprego na área da psicologia, para ser bailarina e professora a tempo inteiro e não me arrependo um único dia.

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6. És fundadora do único festival de Fusão Tribal em Portugal, o Tribal X, e juntamente com a Filipa Nawaar, fundaste o primeiro festival de Dança Oriental português, o East Fest Lisbon. Como é que surgiu a ideia para estes dois festivais?
A ideia surgiu depois de começar a viajar para fazer formação. A dança oriental começou tarde em Portugal e apesar de ter crescido muito mesmo nos últimos anos, antes a formação que chegava até nós era mais escassa. Eu tentava fazer tudo o que conseguia, sempre gostei de fazer aulas e a verdade é que comecei a ser professora quando ainda era muito verde, mas sempre tive a consciência que era preciso continuar a aprender para crescer e ser melhor professora. Quando fui ao meu primeiro festival no exterior, Egipto en Barcelona da Munique Neith, em 2009, fiquei literalmente siderada. A experiência foi intensa: ver dança durante horas, aprender durante horas, conhecer um mar de gente e partilhar experiências fez-me desejar que algo assim acontecesse em Portugal. Em conversa com a minha amiga Filipa Nawaar, sobre o assunto, começámos a pensar em como poderia ser bom criar algo assim. Nesse mesmo ano fui a outro Festival, na Suécia, e foi a confirmação de que tinha mesmo de haver um festival grande em Portugal. Nada como ter um evento para as bailarinas portuguesas, em que pudessem ter acesso a muita formação e espectáculos e não ter de pagar estadia, deslocação tão cara e poder desfrutar no seu próprio país. A Filipa e eu fomos loucas o suficiente para passar do sonho à realidade! No Tribalx foi da mesma forma. As minhas companheiras de viagem de Festivais eram as Mahtab, grupo do qual fiz parte durante uns anos. Algumas de nós gostávamos muito de fusão e ainda me lembro da Silvia e da Sofia terem comentado que seria muito bom fazermos algo mais tribal, já que de oriental já havia. Assim, começámos a falar e todas estávamos de acordo que também fazia falta algo mais específico em Portugal, onde pudesse haver espaço para o tribal e outras fusões. Assim, em 2011, a Sílvia Orchidaceae, a Sofia Franco, a Veronique Divine e eu decidimos começar o Tribalx e muito orgulho temos no nosso festival especial que tem crescido na comunidade e também com mais um membro na organização, a Piny Orchidaceae.

7. Quais são os maiores desafios de organizar festivais de Dança Oriental?
Um dos maiores desafios é não haver grandes apoios. No máximo consegue-se sponsors para a competição, mas penso que as pessoas não fazem ideia do trabalho e investimento que tem de ser feito para um festival. Tudo tem de ser pago com a participação do público (e do nosso próprio bolso), o que coloca um novo desafio na equação. O festival pode ser magnífico, ter excelente ambiente e professores, mas se não houver grande adesão, torna-se complicado. Não somos um país rico, é certo, mas há muitas praticantes de dança oriental...se todas as pessoas se interessassem em conhecer um pouco mais, fazer formação, seria fantástico. Alegar não ter dinheiro, quando jantam fora e saem à noite apenas indica que a prioridade é outra. Profissionais então, devem sempre querer aprender mais...ver videos não chega. Os professores devem incentivar os seus alunos a fazerem formação, a verem outras coisas e ver com os seus próprios olhos, como a dança é vasta e rica.  Outra questão complicada é que não há muitos equipamentos onde se podem realizar os espectáculos. Felizmente, quando se trabalha há algum tempo na organização de eventos, criam-se contactos, no entanto, se não houver disponibilidade na altura em que queremos, é um problema arranjar alternativas. É uma luta constante, mas que no final é muito prazerosa criar momentos especiais na dança. E muito se fez e se faz, apesar das dificuldades, por cá.


8. Desde a criação do East Fest Lisbon e do Tribal X, surgiram mais festivais no panorama nacional tal como o Oriental Dance Weekend (organizado pelo Mário Araújo e Maria João Soares), Dancing World (Mairim Perez) e o We Can Dance Festival (Sara Silva). No que é que os festivais mudaram o mercado de Dança Oriental nacional? 
Acho muito bom surgirem novos projectos, novos festivais... é sinal de que a dança está a crescer ainda mais. Haver mais oferta para as bailarinas é fundamental... cada festival tem a sua particularidade e acho que nós, enquanto artistas, devíamos apoiar o que se faz cá, não importa quem organiza. Somos uma comunidade pequena, mas ainda somos umas belas centenas no país a praticar, desde profissionais a amadores.
Sinto que o facto de haver mais festivais no nosso país, mudou realmente o nosso mercado. A oferta foi se especializando, e cada festival oferece algo específico para os seus participantes, o que acho que é muito interessante. Uns oferecem um ambiente mais familiar, outros um glamour, enfim, seja o que for, nota-se que querem atrair e com qualidade mais e mais bailarinas. Em termos de marketing houve um crescimento brutal...acho que quem pratica dança oriental há muitos anos como eu, consegue ver como o mercado mudou e sei que muito é devido aos festivais...e à internet. A fama e a procura dos bailarinos começa na internet...redes sociais, YouTube, modas de estilos. Também isto faz um festival.

9. O que é que os festivais trouxeram à Dança Oriental nacional?
Acho que, de facto, os festivais deram um novo fôlego à nossa dança. Começamos a ver muito do que se faz lá fora e começamos a trabalhar mais, penso. Os festivais são um fantástico complemento para a formação regular e acho que o crescimento tem sido notório. Acho que temos excelentes profissionais cá, a qualidade é cada vez maior e começamos a ser mais conhecidos lá fora. Antes só tínhamos o reconhecimento da Joana Saahirah pelo mundo, hoje muitas passaram a ser uma referência. E muitas delas, começaram a mostrar-se em festivais cá, depois lá fora. Espero que os eventos continuem a acontecer por cá, pois têm muita qualidade. Basta ir ao estrangeiro, para ver como o que se faz cá é muito bom!! Tal como disse na pergunta anterior a dança está completamente diferente hoje em dia por cá. Obviamente que a dança no seu âmago, cresce, altera-se e está em constante evolução...começamos mais tarde e se calhar com uma linha mais mística, não sei se será o termo correcto. Era linda a dança, mas é linda a dança agora também e sei que o facto de haver festivais que trazem os seus ídolos cá ou quem os organizadores acreditam que possa ser uma mais valia para a população portuguesa e estrangeira (sim, porque também é importante atrair participantes estrangeiros que possam conhecer o nosso país e os nossos bailarinos) mudou muito a forma como dançamos hoje. Acho que um um bom bailarino é aquele que se reinventa sempre, sem perder a sua essência.

10. Em 2010, foste com as tuas colegas do grupo Mahtab ao Cairo, concorrer no festival Nile Group Festival onde arrecadaram o 1ºLugar. Como foi esta experiência?
Foi uma experiência brutal!! Infelizmente não regressei ao Egipto desde então, mas foi algo mágico na minha vida. Não foi só o prémio, foi ter dançado no berço da dança oriental para muita gente de todos os cantos do mundo, mas para muitos egípcios também. Ainda por cima era categoria folclore, em que tentámos ter a essência da dança na coreografia, mas com muitos toques criativos penso. Fomos escolhidas e foi muito importante para nós esse reconhecimento. Ia com receio, porque tinha medo de falhar, de não ser suficientemente boa no Egipto, no entanto, fui de coração aberto para aceitar o que fosse. Não importava ganhar, mas sim dar o melhor. E com os nervos, o melhor nunca é o nosso real melhor, eheh. Na verdade, sinto que a minha dança começou a crescer mais depois destas experiências. Para além disso, passear no Cairo, ver aquilo que conheço desde de criança por livros e filmes, e depois se uma forma mais profunda com a dança, foi muito, mas muito especial. A dança tem me permitido conhecer muitos países e pessoas tão interessantes e talentosas que sinto como uma dádiva na minha vida.

11. Como bailarina já concorreu e professora que tem várias alunas em competições nacionais e internacionais, qual é a tua opinião sobre os concursos nos festivais de Dança Oriental?
Acho que os concursos são uma boa forma de trabalhar e de crescer enquanto bailarino. Não é a única forma, obviamente, e não acho que o facto de ganhar seja sinal que sejam as melhores, mas que naquele momento e para aquele júri foram. Não participei em muitas competições, apenas em 3 e consegui ficar em primeiro no Egipto com as Mahtab e em segundo em Londres, com as Sabaah. Na outra foi a solo e não consegui nenhum prémio, mas sempre trabalhei um pouco mais o meu solo, visto estar sempre a improvisar a solo.
Acho que o importante é serem humildes e que participem de coração aberto, aceitando os resultados e acima de tudo, ouvirem realmente o feedback que tenham para vos ajudar a evoluir mais.
Agora se não se identificarem com os concursos, não há problema nenhum, não é a única forma de crescer na dança ou de mostrar os seus dotes de bailarina/o :).

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12. Qual a tua visão sobre a Dança Oriental portuguesa actualmente?
Sinceramente, acho que a dança oriental cá é muito boa. Temos crescido muito e temos muito boas bailarinas e professores. No entanto, acho que é preciso estarem abertas a todos os estilos...vejo que infelizmente não procuram tanto o estilo egípcio, e acho que só ficaríamos a ganhar se tudo fosse valorizado. Não sou fundamentalista, não acho que só a dança mais egípcia é a válida, sou até bastante ecléctica e acho que isto ajuda-nos a sermos mais completas, conhecer de tudo um pouco. Mas ir de encontro às raízes e como a dança tem sempre evoluído lá é igualmente importante.
O talento é muito por cá e suponho que cada vez haverá mais bailarinas de grande calibre por cá. Acho que o facto de sermos mais emocionais, torna a nossa dança especial.

13. Que dicas dás às bailarinas que estão a surgir e que querem seguir a Dança Oriental de forma profissional?
Aconselho a serem sempre curiosas, a quererem saber mais, a irem mais a fundo nas suas aprendizagens e a valorizarem aquilo que pode parecer que não tem importância, ou que é apenas para iniciadas. O Shokry Mohammed disse-me uma vez, no final de uma formação que fiz com ele, quando me perguntou há quantos anos dançava, pois ia acompanhando a minha evolução nos últimos anos, que estava a crescer, mas para nunca menosprezar o que já se aprendeu. "Um oito hoje não é igual a um oito amanhã", acrescentou ele. Isto ajudou-me a nunca perder o foco, de que uma boa bailarina não é aquela que só faz os movimentos da moda, é aquela que faz de uma forma limpa e madura um movimento Básico...e que depois combina com técnica mais avançada.
No entanto, para mim, uma boa bailarina (ou bailarino) não é só a que é boa tecnicamente. A forma como interpreta a música, a forma como se expressa, como comunica com o público, como mostra os seus sentimentos a dançar é fundamental. Bailarina com muita técnica há muitas, mas porque é que umas nos tocam e outras não? É este lado, que é ainda mais difícil de trabalhar. Para umas pessoas pode ser mais fácil, isto sai facilmente, para outras não, por isso aconselho que não bloqueiem às primeiras tentativas...cometam erros, tentem, vão muitas vezes para palco, isto permite crescer. Valorizem cada pequena evolução e mantenham-se humildes!
Por fim, tentem ser únicas... não queiram ser clones, serem iguais à vossa professora/professor ou às grandes estrelas...bebam deles, mas sejam vocês mesmas! No entanto, reconheçam sempre quem vos passou conhecimento de vida e de dança :).
Ah, serem boas no marketing será igualmente bom, para poderem tornar o seu trabalho conhecido...algo que tenho de aprender a fazer melhor, por exemplo.

14. O que achas que se pode fazer para a Dança Oriental se desenvolver mais em Portugal?
Acho que estamos no bom caminho, mas continuar a ter eventos é fundamental... festivais, Workshops, palcos para actuar, aulas regulares e continuar o trabalho de desmistificar a dança oriental, para o público em geral ter a noção de que é uma arte. Ideias inovadoras serão sempre bem vindas para que a nossa comunidade cresça e de forma unida, preferencialmente :).

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15. Se te pedisse para nomeares um livro, uma peça de dança e uma música que aches que toda a gente precise de ler, ver e ouvir, quais seriam? E porque é que os escolherias?
Muito complicado eheh, só um de cada?? Bom, livro talvez seleccione um do Gabriel Garcia Márquez. Foi um escritor que marcou-me muito e penso que ele faz magia com as palavras, é como se dancasse com elas. "Cem anos de Solidão" foi o primeiro livro que li dele e foi inesquecível. Portanto, caso não leram, aconselho vivamente. 
Uma peça de dança que adorei e que foi extremamente intensa para mim foi "iTMOI - In the Mind of Igor". As músicas, os movimentos, a forma como interpretavam a música de forma imprevisível, com uma fusão de estilos (contemporâneo, mas por vezes flamenco, dança indiana, entre outros) sempre de forma, intensa e poderosa.
Finalmente, quanto à música, vou escolher a música "Experience" do Ludovico Einaudi... é uma música linda, intensa e que adoro dançar... é extremamente emocional para mim e nos últimos tempos a vida tem sido mais dura e a música e dança também funcionam como uma catarse...e também para ajudar a lembrar das experiências passadas.

16. O que é que ainda gostavas de alcançar na tua carreira?
Por vezes tenho a sensação que falta alcançar tanta coisa... olho para trás e sinto orgulho no que consegui até agora, apesar de achar que poderia ter feito mais.
Gostaria de ser melhor bailarina, melhor professora e continuar a dançar por muito mais tempo, apesar de saber que a vida é uma incógnita e no meu caso mais ainda...mas continuarei a tentar dar o meu melhor pela arte e pelas minhas alunas!! Elas são minha família também e sinto um orgulho enorme ao vê-las crescer na dança...e na vida!


Fantastic Entrevista - Cris Aysel
Por Rita Pereira
Junho 2019