COMING UP | What/If
Um bom piloto é
meio caminho andado para garantir o sucesso de uma série pelo menos num estúdio
que não seja a Netflix. What/If é um
drama carregado de mistério, com um plot
bem peculiar e a vantagem de ter Renée Zellweger como cabeça de cartaz. Os
ingredientes corretos que talvez sirvam de fachada para nos entregar uma
história mastigada em que tudo é previsível.
O capítulo inicial
segue a estratégia de How To Get Away With
Murder ou I Know What You Did Last
Summer, alterando as sequências para adensar o mistério e nos levar a crer
que um sacrifício verdadeiramente macabro teria sido feito. Até aqui ponto
positivo. Aliás continuaria a ser se este recurso tivesse sido mantido por mais
episódios. Pareceu que nos estavam a enganar e que a profundidade da narrativa
não era mais do que aquele pequeno gancho. Sim deixa curiosidade para saber o
que se passou, mas não é argumento que aguente uma temporada inteira. Falta-lhe
sumo.
Anne Montgomery,
a magnata vilã, surge de um combo perfeito entre o estilo e aparência de Fiona Goode
de American Horror Story: Coven com o
poder e laivos maquiavélicos de Victoria Grayson de Revenge. É o centro de tudo, realmente. Ela rouba todas as cenas e
falta-lhe um par que esteja à sua altura para garantir algo de épico. É uma
vilã convencional, que apesar de lhe ser atribuído um background não deixa de transmitir que é má simplesmente por ser
má. Salva-se o trabalho de Renée que carrega às costas as enrolações que o enredo
oferece.
What/If em vários momentos faz lembrar
as telenovelas do antigamente. O único clichê que não aborda é o da menina pobre
que se apaixona pelo menino rico. Até porque é importante falarmos do
empoderamento feminino, algo que hoje em dia é usado de forma tão massiva que
quase se torna gratuito. Contudo é aquela luta pelas empresas que assistimos
por exemplo em Anjo Selvagem ou a
procura pelo filho perdido de Mar Salgado.
É uma comparação ousada, estamos a falar de outra realidade, mas na raiz da
questão é quase o mesmo assunto apenas com uma embalagem mais moderna e
americanizada.
A série parece
estar condenada a servir todas questões do momento. Além do empoderamento
feminino, aborda a homossexualidade, onde quase passa o risco para dar razão a
alguns críticos da conduta gay.
Faltou alguma normalização neste ponto ou pelo menos espaço de antena suficiente
para que a mensagem não fique confusa. Os núcleos secundários não são
cativantes. O pior ponto de tudo é o arco de Todd e Angela, os dois amigos do
marido da protagonista Lisa, que parecem ser personagens saídos de um spin-off de Grey’s Anatomy. Tal como é recorrente na produção da ABC, a interna
Angela acaba por se envolver com o seu Chefe, deixando de lado o marido que tem
em casa. Mas se este ponto em comum não é suficiente, tudo é ainda mais bizarro
quando o médico com quem a mulher se envolve é na verdade um psicopata que vai
atentar contra a vida dela. Na verdade, nem Shonda Rhimes foi tão longe assim
em 15 anos.
Blake Jenner é
outro problema. O ator é um tiro no pé na credibilidade da história. Ele não
encaixa na descrição que nos é dada sobre o ex-jogador Sean. A imagem não cola e
a química com Lisa, ainda menos. Nota-se que há ali potencial, mas para outra
história que não esta. Ao lado de Renée Zellweger protagoniza contracenas sofríveis.
É facilmente esquecível e pouco empático, erro crasso quando falamos de uma das
personagens que mais reviravoltas tem ao longo da sua jornada.
Em análise
final, os primeiros cinco capítulos são bem construídos, coesos e com o
mistério no ponto. Depois disso é a imersão no drama maçador e já revisto. Um desperdício
de uma boa premissa que poderia ser um hit
se as soluções utilizadas não fossem tão básicas. Poucas questões restam para
uma segunda season mas esperemos que
Renée seja remanejada para uma outra produção que esteja realmente ao seu
nível.
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