COMING UP | Aladdin
Colocar a mão
num clássico da infância de todos nós é sempre um perigo, mas Aladdin é a prova de que a Disney sabe
bem com se mexer em areias movediças. Depois de algumas alterações questionáveis
em adaptações live action de outras
histórias, nesta trama o update foi
feito no sítio certo para nos mostrar que a empresa continua com um olhar clínico
sobre a representatividade neste novo mundo ideal.
O filme de animação
que todos conhecemos foi lançado em 1992, vinte e sete anos depois muito mudou.
A nova versão não chega a ser uma reinterpretação, todas as memórias especiais
que temos são mantidas intactas, mas há mudanças quando falamos da motivação de
algumas personagens. Jasmim é o destaque neste ponto. Longe de ser a típica
princesa, é hora de lhe dar parte ativa na política de Agraabah. O amor passa
para segundo plano, dando espaço a um arco bem mais contemporânea que
quer governar de forma justa e provar que a mulher não é um adereço de beleza. Speechless, música original da edição de
2019, é o instrumento perfeito para empolar ainda mais a força da mulher.
Sabemos da importância que a Banda Sonora tem em filmes com a marca do Mickey
Mouse e este tema é um mergulho na atualidade com o timing perfeito.
Os efeitos
especiais, bem polémicos depois dos primeiros trailers, saem praticamente sem
mácula. A animação quer do Tapete Mágico quer do macaco Abu ou do tigre Rajá são
realistas na medida do possível e deixam as expectativas em alta para o próximo
filme do line-up de live actions: The Lion King. Por outro lado, o génio continua a ser o ponto fraco
dos efeitos visuais. Apesar das melhorias o tom azul não convence e causa
alguma entropia. Contudo, o que não é conseguido com efeitos é ganho com o
talento de Will Smith. Não há volta a dar nem espaço para discussão, o veterano
rouba todas as cenas em que entra carregando as partes mais lentas às costas. É
o casamento perfeito entre um talento e a memória coletiva que temos do génio
gozão. O argumento ajuda, mas nos
momentos em que se perde em autoexplicações é a piada de Will Smith que nos volta
a trazer para a magia da longa-metragem.
Ele dança, ele
canta, ele é a cola que une toda a história. Friend Like Me é o auge da sua prestação, e aqui notam-se até toques
pessoais necessários para trazer a história para uma época mais atual. Não é uma
cópia de Robin Williams, para quem viu a versão original do desenho animado,
mas sim o Will que vimos em todos aqueles filmes de comédia esculachada a ser
contido no humor transversal da Disney. É responsável, ainda, por uma das melhores
contracenas de toda narrativa, com Nasim Pedrad. Os momentos do romance com
Dália e todos os cortejos conseguem segurar-nos, fazer rir e identificar-nos
com as coisas toscas que fazemos por amor.
Mesmo com um
guarda-roupa diferente, o Aladdin da ação é fiel ao que sempre conhecemos. O
ladrão com boas intenções, divertido e ingénuo. Mena Massoud tem o sorriso matreiro
e o look do herói. Bem diferente do protagonista, Jafar é aquele a quem todos
podemos apontar o dedo. Falta-lhe pujança, falta-lha garra e voz. Não é culpa
do ator, simplesmente uma escolha errada de casting. Um ator mais maduro e
talvez mais experiente podia ter dado a alavanca para que fossem preenchidos
todos os requisitos da recriação.
Depois de Beauty & The Beast, Cinderella e Mogli, a nova produção talvez tenha sido um acerto maior em
que a palavra de ordem é fidelidade. Ao contrário de outras produções de
Hollywood, até a origem dos personagens foi respeitada na hora de selecionar o
elenco. Pouco falha, é familiar, é respeitador com as nossas expectativas, Will
Smith cala os críticos e a Banda Sonora é simplesmente perfeita. Speechless tem a força para se tornar um hit das rádios, e talvez não seja
presunçoso achar que pode atingir o patamar de Let it Go. Um aplauso à direcção de Guy Ritchie que continua a ser mestre em cenas aceleradas, este é um projeto que merece ser visto numa sala de
cinema.
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