MOTELX 2018 | O cinema de terror está bem e recomenda-se
Foto: MOTELX |
A 12ª edição do MOTELX decorreu de 4 a 9 de setembro, em Lisboa, e trouxe novamente o cinema de terror à cidade de Lisboa. Hagazussa, A Estranha Casa na Bruma, Agouro e One Cut of The Dead foram os grandes vencedores desta edição, mas o festival contou com outros destaques e algumas surpresas.
Este foi o ano em que, pela primeira vez, o cinema português esteve em competição na secção de longas-metragens. Primeiro, com Inner Ghosts, uma coprodução luso-brasileira do cineasta Paulo Leite e que conta com um elenco internacional com nomes portugueses. E depois, com Mutant Blast, de Fernando Alle.
Foto: Hagazussa, de Lukas Feigelfeld |
A competição de longas-metragens acabou por ser ganha por Hagazussa, um filme bastante sensorial, realizado por Lukas Feigelfeld. Este é um conto negro sobre a luta de uma mulher contra a sua própria sanidade, num tempo em que as crenças pagãs das bruxas espalham o medo pela mente das pessoas. A ambiência criado pelo realizador austríaco remete-nos de imediato para a rotina daquela mulher, chegando a ser uma experiência perturbadora assistir a este filme. Uma vitória justa, num filme que marcou a diferença nesta edição do MOTELX.
Na competição de curtas-metragens nacionais, foi A Estranha Casa na Bruma que se sagrou vencedora. O filme de Guilherme Daniel segue um peregrino perdido que encontra uma estranha casa à beira do abismo, com um misterioso ocupante. Com Daniel Viana e Carlos Fartura no elenco, a curta-metragem destaca-se pela sua estética surpreendente, o cuidado com a fotografia e pela prestação do protagonista.
Agouro, de David Doutel e Vasco Sá, venceu ainda uma Menção Especial do MOTELX. Neste filme, dois primos que vivem juntos, vão atravessar um inverno rigoroso que gelou um rio próximo e também as relações entre ambos, que acabam por atingir o limite.
O Prémio do Público foi entregue a One Cut of The Dead, um filme de Shinichiro Ueda. A longa-metragem segue uma equipa de rodagem que filma aquele que aparenta ser um filme de zombies convencional, num armazém abandonado onde alegadamente o exército terá efectuado experiências com seres humanos. Mas de repente, um zombie real entra no enquadramento e acaba por gerar o caos.
Foto: "Cam", de Daniel Goldhaber |
Para além dos vencedores, o MOTELX contou ainda com outros filmes que merecem destaque. É o caso de Cam, de Daniel Goldhaber, um filme surpreendente e original, que acompanha a história de uma camgirl, que se exibe em chat rooms online a troco de dinheiro. O terror aqui é transporto para a história através da perseguição feita à protagonista, que acaba por cair em paranóia, depois de ver a sua identidade roubada. O desempenho de Madeline Brewer acaba por destacar-se, trazendo a espiral e sufoco no qual a sua personagem se vê envolvida.
Fake Blood, de Rob Grant, é também uma das surpresas do festival. O filme é uma mistura original de documentário e thriller, explorando as ténues linhas entre realidade e ficção, desafiando a capacidade do espectador para as distinguir. Protagonizado pelo próprio realizador e pelo melhor amigo e ator Mike Kovac, Fake Blood é um filme onde a ironia e a tensão andam lado-a-lado, merecendo a nossa atenção enquanto apreciadores de cinema.
Ghostland foi um dos filmes mais esperados do MOTELX e, apesar de ter um ponto de partida igual a tantos outros, acaba por marcar pela frieza com que a acção de desenvolve. Na história, depois da morte da sua tia, Colleen e as filhas herdam a sua casa. Durante a primeira noite passada no novo lar, intrusos entram pela casa adentro, obrigando Colleen a lutar pela vida das suas filhas.
A partir daqui, o filme de Pascal Laugier consegue surpreender os espetadores até certo momento da história, brincando até com alguns dos maiores clichês deste género de filmes. Mas o argumento, que acaba por ser o ponto forte do filme, acaba por nunca ir muito além do esperado. Ao mesmo tempo, a montagem não traz grandes sustos ao ecrã e fica a sensação que não foram exploradas todas as possibilidades de um filme com um grande potencial.
Foto: "Coração Revelador", de São José Correia |
De destacar ainda a poesia e subtileza de Don't Leave Home, de Michael Tully e a beleza do filme fantástico Cold Skin. No que respeita a curtas-metragens, também Coração Revelador, de São José Correia, merece a atenção do público, em especial pela esmagadora e surpreendente interpretação de Rui Neto que consegue, nesta adaptação de um conto de Edgar Allan Poe, um dos papéis da sua vida.
O MOTELX está de volta em 2019, trazendo novamente mais cinema, quizzes, debates, livros, muito terror e a certeza de que todos os visitantes deste festival são apaixonados pelo melhor cinema nacional e internacional, em particular pelo terror. Esta é a prova que este género, muitas vezes renegado para segundo plano, está bem e recomenda-se.
Comente esta notícia