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Segunda Opinião | Filha da Lei


Em 2013, nasceram Os Filhos do Rock. Três anos depois, a Stopline Films e a RTP voltam a juntar-se na criação de uma série portuguesa. Filha da Lei surge envolta em grande expetativa e a nova aposta da estação pública não desilude, provando que é possível fazer uma ficção boa e diferente em português.

A história de Filha da Lei arranca quando a Inspetora-Chefe Isabel Garcia (Anabela Moreira) é designada para comandar a investigação do assassinato de uma jovem encontrada junto ao rio. Neste novo caso, a 5ª Brigada vai contar com a ajuda de um novo elemento, o Inspetor estagiário Samuel Lopes (Tomás Alves).

Se procura uma das típicas séries policiais a que estamos habituados a ver em Portugal, Filha da Lei não é para si. Não tem tanta ação como O Bairro (TVI) nem é demasiado familiar como Inspetor Max (TVI). Na verdade, a nova série da autoria de Pedro Varela acaba por ter uma linguagem visual e narrativa muito própria, não podendo ser comparada a nenhuma outra produção. Será, acima de tudo, uma série bastante real. Uma realidade nua e crua, como é raro ver em televisão.

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A direção de fotografia de William Sossai destaca-se entre os vários aspetos técnicos. Formalmente irrepreensível, Filha da Lei adota um visual dark, próximo daquele que vimos em Os Filhos do Rock, mas agora com uma estética bastante moderna e próxima do que se faz em séries americanas. Não será, por isso, exagero se dissermos que a imagem de Filha da Lei será tão boa quanto a de CSI ou Investigação Criminal, por exemplo.

A série portuguesa vai mais longe, ao voltar a aproximar-se da linguagem cinematográfica. Depois de Terapia, esta é provavelmente a série da RTP1 que melhor consegue isso. A direção de arte de Nuno Mello é também responsável pela criação dos ambientes, espaços e dinâmicas completamente adequadas à ação da história. Por momentos, acreditamos que "aquela casa" é mesmo "a casa daquela pessoa" e não um cenário montado para a série.

Yuri Alves e Sérgio Graciano são os realizadores e o seu trabalho é também de assinalar. Dos dois primeiros episódios, destaca-se a sequência que acontece na casa de Jaime (Ivo Canelas), quando Isabel vai procurar a filha (Alba Baptista) à casa do ex-marido e encontra-o com Olívia (Bárbara Lourenço). As opções de realização e a interpretação dos dois atores principais acabam por trazer uma tensão necessária à cena, algo desejável nesta produção.

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Filha da Lei e Terapia têm ainda em comum o destaque dado a cada ator, embora este assuma diferentes graus de importância em cada uma das produções. Mais do que em outras séries, aqui os atores têm espaço para brilhar e mostrar aquilo que realmente valem. O que perdemos, por vezes, em ação, ganhamos em tensão dramática, com diálogos bem conseguidos a trazerem ao de cima as várias facetas de cada personagem. E, muitas vezes, com cenas em que não existem sequer palavras e são os gestos que mais importam no trabalho dos atores.

Anabela Moreira e Ivo Canelas são duas das caras que vieram de Os Filhos do Rock e que assumem aqui o protagonismo, destacando-se, por isso do restante elenco. Ainda assim, nomes como Alba Baptista ou Tomás Alves vêm provar que a nova geração de atores tem ainda muito talento por revelar. 

Enquanto isso, Filha da Lei continuará a ir para o ar às terças-feiras, pelas 22h15, na RTP1. Mesmo que a as audiências não sejam boas, é inegável que esta série deixará a sua marca na televisão portuguesa, ainda que passa despercebida à maioria dos telespectadores.

Segunda Opinião -  73ª Edição
Por André Pereira
Uma rubrica em parceria com o Diário da TV