Duplo Clique | "Pisa a Música"
Agarra a Música remete muito para o universo de Vale Tudo,
que também juntava a “prata da casa” da SIC numa série de desafios,
alguns quase circenses, e numa cacofonia televisiva desinteressante.
Dois
grupos de famosos da televisão aos pulos, uma dupla de apresentadores
aos gritos e um jogo musical acelerado e pouco estimulante, foi esta a
imagem transmitida pela estreia de Agarra a Música, o novo programa de
domingo à noite, estreado dia 15 de Janeiro, com que a SIC ambiciona
vencer audiências.
O Agarra a Música português, adaptado
do original americano Cue The Music, convoca as estrelas da televisão
(leia-se da televisão de Carnaxide) para uma hora e meia de competição
entre duas equipas de três elementos, na tentativa de proporcionar um
bom entretenimento. E se a mecânica de jogo até tem algum potencial,
falha no resultado final.
O primeiro grande problema é a anarquia rapidamente instalada: cada participante fala – ou grita – para seu lado, provocando amigavelmente os colegas adversários, e quase todos conseguem o seu momento de humor. Os famosos não param quietos e a dupla de apresentadores muito menos, com dificuldade em recuperar a ordem em estúdio.
O primeiro grande problema é a anarquia rapidamente instalada: cada participante fala – ou grita – para seu lado, provocando amigavelmente os colegas adversários, e quase todos conseguem o seu momento de humor. Os famosos não param quietos e a dupla de apresentadores muito menos, com dificuldade em recuperar a ordem em estúdio.
João Paulo Rodrigues começou o
programa agarrado a um tablet (sim, na era da televisão moderna já não
se usam cartões) e ao longo da emissão mostrou ser uma âncora na
condução do programa. A seu lado, Cláudia Vieira, sempre elegante,
continua a não impressionar pela sua prestação enquanto anfitriã.
O
programa é um quiz show que testa os conhecimentos musicais dos
participantes famosos, por meio de perguntas e faixas musicais, e está
visto que privilegia assumidamente a música dita comercial, o que agrada
aos telespectadores mais jovens e afasta os mais adultos.
A
componente tecnológica é evidente e funciona. Em estúdio, os famosos
têm de responder à questão colocada pisando um botão interactivo, mas
respondem demasiado rápido, não deixam escutar a música ou então saltam,
literalmente, para responder, o que não deixa de criar momentos
risíveis.
Em casa, os espectadores jogam numa aplicação
interativa sincronizada via áudio com a emissão, que obriga a olhar
desnecessariamente para o ecrã da televisão porque não mostra as
respostas. Na estreia, a aplicação funcionou sem problemas e mostrou que
a SIC fez bem o seu trabalho de casa nesta matéria.
Mas
nem tudo são rosas em relação a este second screen pioneiro no
entretenimento do canal. Por existirem demasiadas perguntas – o que
obriga, à partida, que o espectador esteja sempre de dedo em cima do
ecrã táctil – desfrutar do programa torna-se uma tarefa enervante e mais
divertida pondo de lado a aplicação.
Agarra a Música
remete muito para o universo de Vale Tudo, que também juntava a “prata
da casa” da SIC numa série de desafios, alguns quase circenses, e numa
cacofonia televisiva desinteressante. A nova aposta da SIC pode ser uma
alternativa mentalmente mais sã que o programa líder da concorrência, e
até pode oferecer um serão hilariante para as crianças que sofram de
insónias, mas está longe de ser música para os ouvidos de quem procura
mais do que um desfile de famosos e diversão forçada num programa de
televisão.
Agarra a Música, para ver na SIC, aos domingos, depois de Jornal da Noite.
Duplo Clique - 90ª Edição
Por André Rosa
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