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Duplo Clique | "O '5' está outro"

 

O programa 5 Para a Meia-Noite regressou à grelha semanal da RTP, mas longe de acertar os ponteiros. A 11ª temporada trouxe novos apresentadores, novas rubricas e um novo sofá. E que mais? Um novo cenário, tão novo que poucos espetadores o adoraram. O talk-show que torna a estação pública um canal “cool” chama-se 5 Para a Meia-Noite, mas tem parecido mais um laboratório para testar as formas de como descaraterizar um programa.

    
A renovação do leque de apresentadores é uma das principais razões para o público ter deixado esmorecer algum do entusiasmo com a nova temporada do 5. Luís Filipe Borges despediu-se das segundas-feiras; José Pedro Vasconcelos transitou para o vespertino generalista; Nuno Markl dedicou-se a um novo projeto cívico e Pedro Fernandes e Nilton mantiveram o lugar na apresentação. Ao formato regressaram, então, o humorista Fernando Alvim e a talentosíssima Filomena Cautela; enquanto Rui Unas se estreou num também reencontro televisivo com o colega da SIC Radical. A dança das cadeiras, colocada em prática consoante as disponibilidades profissionais dos apresentadores e as decisões estratégicas tomadas por Daniel Deusdado (diretor de programas da RTP) não agradou a gregos e a troianos, agora que o 5 está no ar há mais de uma semana. E o que é que a renovação dos apresentadores provocou?

    
Ritmos de apresentação nitidamente desiguais e uma sensação de que os “novos” apresentadores estão ainda a reconhecer o espaço que é deles uma vez por semana, ganhando à-vontade durante a hora em que apresentam o programa – com guião ou sem guião, com filtro ou sem filtro. A qualidade dos conteúdos continua, por sua vez, a ser um dos pontos fortes do 5 Para a Meia-Noite, com uma agenda temática atualizada e quase sempre colocada em moldes divertidos. Esse trunfo é marcado pelo pluralismo e deve-se, como sempre, aos apresentadores (que escrevem os próprios guiões), e em grande medida às personalidades que se sentam no sofá. 

Às segundas, Fernando Alvim é uma referência para muitos dos espetadores, mas domina o humor de uma forma que nem sempre se torna especialmente entusiasmante. Às terças, Rui Unas mostra-se uma boa e carismática contratação, especialmente depois de ter cortado a barba. A meio da semana, Filomena Cautela torna o programa agradavelmente elegante e feminino, mas com guião ou não, o melhor mesmo é falar mais pausadamente para que se perceba tudo o que diz. Às quintas, Pedro Fernandes continua a ter ordem de soltura como só ele sabe, ainda que a porta por onde entrava já não exista. Por último, mas não em último, Nilton: o apresentador que reforça a parvoíce “só porque sim”, colocando em prática, ultimamente, algumas das parvoíces vistas no Youtube. 


Mas o 5 Para a Meia-Noite já não é o mesmo, a partir do momento em que surge produzido segundo um conceito estético completamente diferente dos anteriores e incompatível com o modo de estar que até então todos elogiavam. O logotipo e o genérico tornaram-se bastante mais limpos, fluidos e também modernos (e até se interroga como o tema do genérico pôde permanecer o mesmo). No entanto, ao redefinir-se o design da cenografia em linhas mais geométricas, alguém forçou o programa a ser muito mais “direitinho” e institucional do que aquilo que é. Sem janela com vista para Lisboa, sem aquário, porta de estúdio e até sem mesa onde os convidados possam colocar a caneca laranja, que cenário existe? Definitivamente, uma conceção falhada, alvo de uma qualquer remodelação (entretanto já prometida) na tentativa de devolver parte das referências visuais do programa. 


O relógio desta nova temporada do 5 Para a Meia-Noite tem, com efeito, inúmeras engrenagens por olear, mas continua a marcar a hora do bom entretenimento humorístico do late-night, aquele que passa na RTP.

5 Para a Meia-Noite, para ver de segunda a sexta, na RTP.

Duplo Clique - Edição 68
Uma crónica de André Rosa