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[Cinema] Velocidade Furiosa 7 - Crítica


Velocidade Furiosa 7 chegou aos cinemas portugueses no dia 2 de abril e por pouco não lhes rasgou as telas. Em apenas quatro dias de exibição, tornou-se o quarto filme mais visto a nível mundial. Por cá, no mesmo período arrecadou 1,3 milhões de receitas de bilheteira, em 116 salas de cinema. O novo filme de perseguições e tiros a alta velocidade reúne todas as condições para marcar o passo à indústria dos blockbusters – e a homenagem a Paul Walker tem suscitado ainda maior curiosidade. Segue-se a crítica.

A saga Velocidade Furiosa é das mais rentáveis a nível mundial. Porquê? Porque tem uma história vazia de argumento e cheia de aparato visual. Como um típico filme de ação destinado à experiência de entretenimento, não exige grande capacidade de concentração aos espetadores, não apresenta um enredo complexo e reúne um elenco aceitável para as personagens que coloca em cena. Os efeitos especiais, dotados da tecnologia de ponta de que dispõe a Universal Pictures, garantem filmes de ação no estrito sentido de termo, com cenas visualmente bem trabalhadas apesar de, na realidade, serem impossíveis de acontecer. É esse efeito, entre outros, que fascina o espetador de cinema.

Apesar de ser considerada uma saga “comercial” naquilo que o termo tem de depreciativo, Velocidade Furiosa tem qualquer coisa de especial no seu ADN. O facto de ter marcado a melhor semana de estreia em Portugal, com 359 mil espetadores, prova isso mesmo.   



Em 1998, o jornalista Kenneth Li escreveu um artigo sobre corridas de carros ilegais em Nova Iorque, e publicou-a na revista Vibe. Rob Cohen, o realizador do primeiro filme (2001), foi o responsável pelo resultado cinematográfico de adaptação dessa história, a cargo dos argumentistas Gary Scott Thompson e David Ayler. Racer X está na lista dos 20 artigos de jornalismo e não-ficção que inspiraram os produtores de Hollywood, o que torna a ideia desta saga original.

A história desenrolou-se sempre em ambiente urbano e policial, assente na rivalidade entre criminosos e autoridades. Das corridas ilegais de street racing em Los Angeles às autoestradas dos Emirados Árabes Unidos, o acelerador foi pisado a fundo. De tal maneira que Velocidade Furiosa 7 já nada se identifica com as perseguições amadoras dos primeiros filmes nem com os crimes de droga cometidos por gangsters de bairros de lata. Ao longo dos anos, os argumentistas esforçaram-se por tornar os acontecimentos dos filmes mais “sofisticados”, respondendo assim às exigências do público já fidelizado e mais maduro.

Desenvoltas fisicamente, mas pobres em construção psicológica, no geral as personagens da saga corresponderam ao potencial de representação dos atores. Será relativamente aceite que Vin Diesel, Paul Walker ou Michelle Rodriguez nunca trabalharam para o óscar individualmente. O elenco sempre se mostrou empenhado no desenvolvimento das suas personagens, planas e estereotipadas. Ainda que a sua “bagagem interior” tenha sido timidamente explorada ao longo dos filmes (ao ritmo de avanço dos acontecimentos), Velocidade Furiosa sempre foi uma série de ação em que a componente física do elenco se sobrepôs às suas capacidades de dramatização.


Velocidade Furiosa 7 mantém uma narrativa linear, do jogo entre “gato e rato”, com os acontecimentos a sucederem-se cronologicamente e de forma previsível. Os homens e mulheres condutores continuam abençoados pela imortalidade, imunes a qualquer sensação de medo ao pôr a sua vida e a dos outros em risco. As personagens mostram, também, a apetência pela ilegalidade, pela violência e a frustração de tentarem levar uma vida longe do volante, sem sucesso. A mensagem inócua que se transmite é a de união de amizades numa grande família.

A equipa liderada por Dominic Toretto (Vin Diesel) acaba sentada à mesa, num churrasco, de Corona na mão. Passam o dia a espancar pessoas e a destruir património, mas antes de comer dão ações de graça. O público encara-os como os “bons da fita”, uma vez que lutam – literalmente – por devolver ao mundo alguma paz social e segurança (não sem lucrarem como é devido), uma espécie de redenção dos crimes praticados nos Estados Unidos que lhes valeriam décadas de cadeia.
O elenco do filme é o mesmo, desta vez com a entrada de novos atores, dos quais se destaca Kurt Russel num papel de poder governamental. Vin Diesel “agarra” o papel com todas as suas forças (o que aliás não lhe será difícil). O ator desempenha o papel principal com a conveniência esperada e contracena bem com o elenco, especialmente nas sequências de luta corpo-a-corpo. Paul Waker, o ator que faleceu em novembro do ano passado, aos 40 anos, também manteve o nível de representação de Brian O’Connor, apesar da sua fraca expressividade.


No elenco secundário, Michelle Rodriguez protagoniza as passagens emocionalmente mais trabalhadas do filme. Jason Statham confirma que é dos atores mais requisitados pela indústria neste género de cinema, tendo em conta a sua performance musculada. Como se percebeu desde sempre na saga, o nível primário de representação do elenco deve quase tudo à própria natureza dos filmes.

Ação a rodos foi, desde sempre, a aposta forte destas produções. Desde o quinto filme, pelo menos, que os eventos no asfalto escalaram o nível do espetáculo visual, quase infantil de tão exagerado, impensável e irrealista. O texto empobrecido – minado de lugares comuns e vocabulário básico – é compensado com sequências de ação sucessivamente maiores e melhores. Abandonando as corridas noturnas de carro e apostando nos golpes a grande velocidade, Chris Morgan, o argumentista do filme em exibição, elevou definidamente a parada. Por essa razão, o que se vê no cinema é um filme que ultrapassa todos os limites do exagero tolerável nestas produções. As perseguições são levadas ao extremo e envolvem artilharia militar pesada. As acrobacias, com os automóveis e com as personagens, de tão surreais, tornam-se risíveis.

A nível técnico, o filme não desilude, e esse é um dos seus pontos fortes. A Realização de James Wan mostra-se inventiva na maneira de captar os diferentes tipos de ação, especialmente os confrontos físicos. A perspetiva de visão dos espetadores é atribulada pelos movimentos de câmara em sintonia com as quedas/arremessos das personagens, o que torna a película ainda mais frenética. A aposta nos grandes planos, especialmente em paisagens, e nos enquadramentos estéticos é também evidente.

Os efeitos visuais traduzem o investimento de milhões na produção: foram destruídos 230 automóveis durante a rodagem, a uma média de 25 por dia, de marcas como a Mercedes e a Aston Martin Vanquish.

A composição sonora original, de Brian Tyler, e a adição de conhecidos êxitos da Pop e do Hip Hop tornam o filme uma montra das preferências musicais do grande público. Neste aspeto, a Realização não resistiu a tornar os ambientes festivos verdadeiros videoclips, com destaque para os corpos tonificados, bikinis quase obscenos e DJs.

 

A velocidade abrandou com a morte de Paul Walker, uma das personagens principais. Ao estrondoso sucesso de bilheteira não terá sido alheio o fator curiosidade, já que o seu rosto foi trabalhado digitalmente a partir das feições dos seus irmãos – e o público quis perceber se as diferenças eram visíveis no ecrã. O argumento também foi reescrito, adensando o final emotivo em jeito de despedida e homenagem ao ator.

Velocidade Furiosa 7 é o mais impactante e brutal filme da série – um suprassumo para os fãs do género e um subproduto para quem acha que o bom cinema não tem carros a voar nem homens a partir paredes. 
André Rosa

Este artigo apresenta informações retiradas de:
http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/velocidade-furiosa-7-bate-recordes
http://www.autoportal.iol.pt/noticias/geral/velocidade-furiosa-7-mandou-230-carros-para-a-sucata

Fotografias: www.fastandfurious7film.com/