Fantastic Entrevista... António Raminhos
FANTASTIC ENTREVISTA
TEMPORADA 5 / EDIÇÃO 3 / SETEMBRO DE 2013
António Raminhos é a teceiro convidado da 5ª temporada do "Fantastic Entrevista". Nesta que é a 42ª edição da rubrica do Fantastic, iremos estar à conversa com o humorista, que regressa à televisão na próxima semana, na nova temporada do "5 para a Meia-Noite".
1 - António Raminhos estreia-se em televisão no "Sempre em Pé" da RTP2. De que forma tudo
começou?
Começou comigo a receber um email de amigos que faziam
stand-up sobre um programa que ia estrear e resolvi mandar também um video.
Sorte ou azar recebi logo uma resposta positiva. Agora tudo começou antes com o
mundo do desemprego no jornalismo e o facto de ter ficado em casa com um
fantástico subsidio de desemprego de 289 euros. Comecei a ler comédia, a ver comédia e,
consequentemente, a escrever comédia. Felizmente conheci o Carlos Moura que me
incentivou para experimentar stand-up. No fundo, ele não queria sofrer sozinho
e então juntava sempre malta!
2 - Em 2009 passa a
fazer parte da equipa do "5 Para a Meia-Noite" e até hoje foram 4
anos a criar semanalmente novas personagens e muitos sketchs. Como vê o
percurso deste programa e como é trabalhar com esta equipa?
Nenhum de nós esperava este sucesso. Começou por ser um
programa que se sabia inovador, mas que seria de nicho... A coisa cresceu e deu
no que deu. Apesar de muita gente dizer que na RTP2 “é que era” nós mantemos a
mesma vontade e liberdade para criar e isso é um ponto a favor. A única
diferença é que na RTP2 não havia tanta publicidade, mas isso é um factor
natural das televisões. Trabalhar no 5 para a Meia-Noite não é fácil. Muita
gente pensa que isto de fazer piadas e ser engraçado é na boa. Todos nós somos
engraçados e fazemos piadas o difícil é ter que fazê-lo numa base diária e
quando nos dizem “olha houve aqui um problema é preciso que improvises aqui uma
cena”.
3 - Onde vai buscar a
inspiração para as suas personagens? E qual (ou quais) foi a que mais gostou de
trabalhar?
A realidade é a melhor ficção. Por exemplo, muitas das
frases do agricultor indignado são reais de situações que vi em notícias, na
rua, etc... A história do “é uma bergooonha” é baseado num homem que se
queixava que era uma berggoooonha estar a nevar uma bergoonha porque neva neva
neva e só depois vem o limpa-neves. O João Bigorne, o drogado que curte a moca,
é baseado num pobre rapaz que vi numa bomba de gasolina e que não saía da
frente do meu carro, porque estava sempre a quase a cair.
4 - Existem
personagens difíceis de interpretar? Quais?
O problema é variar nas personagens. Já são muitas e tentar
ir buscar pormenores que não se pareçam com outras é que é mais
complicado. Houve duas ou três
personagens que quando dei por mim tinham o mesmo tique hehehe ou então o tique
é mesmo meu e nem dei por isso!
5 -Depois do sucesso
alcançado através do programa, acaba por ganhar o seu próprio espaço. Lança os
seus próprios epectáculos de Stand up comedy e o seu próprio livro. Quem é o
Raminhos de hoje e o que mudou em relação a 2007?
Hahahaha O Raminhos de hoje é mais velho. Já não tem a
aspiração de ser jornalista da bola, nem de ter sexo com duas louras. A parte
das louras já não tem essa aspiração porque já percebeu que não consegue.
6- Tem ainda uma
página do Facebook com mais de 50 mil fãs. Se tivesse que explicar o sucesso,
de que forma o faria?
Como diria Octávio Machado “trabalho, muito trabalho” e
sobretudo ser genuíno. Eu procuro agradar a todas as pessoas e sei que isso não
vai acontecer mas procuro. Quando alguém não gosta do meu trabalho ou me
insulta no facebook eu não excluo essa pessoa, procuro saber porque pensa
assim. Procuro responder a todas as
pessoas seja na net ou na rua, porque se tenho algum sucesso é graças às
pessoas que gostam do meu trabalho. Se pudesse, em sinal de agradecimento,
teria sexo com todas elas inclusivé familiares meus e velhos.
7- Se alguém lhe
dissesse que queria ser humorista, que conselhos lhe daria?
Ser comediante não ver o Seinfeld e vestir um blazer. É
trabalhar, ser genuíno e, sobretudo, não copiar material Pode ter inspiração,
ideias, etc... Mas copiar deliberadamente é proibido.
8- Há uns meses, gravou
a série Depois do Adeus, na RTP1. Como foi a estreia numa produção dramática,
que ainda por cima mistura a recriação histórica com a ficção?
Tramada! Um grande elenco! Tudo grandes actores habituadas
àquelas andanças. Eu não! Venho da comédia e do jornalismo! Não há cá escola de
actores e isso deixou-me, pelo menos na minha cabeça, em desvantagem. Sofri
bulling por parte do António Cordeiro sobretudo e ainda hoje continua a
agredirmente verbalmente, mas agora já gosto.
9 – Também pudemos
vê-lo em “Feitos ao Bife”. Porque aceitou o convite e como está a ser a
experiência?
Aceitei porque tinha que aceitar. Não tenho que aceitar
tudo, como é óbvio, mas ainda estou naquela fase que tenho de mostrar trabalho
e coisas para fazer. Se o canal e a produção apostaram em mim, quem sou eu para
recusar! Para além disso, explicaram-me que o formato ia ser diferente. Mais
virado para a comédia e isso também ajudou. Foi uma grande experiência. Malta
porreira, um apresentador 5 estrelas, todos demos a opinião e temos ideias.
10 - Acha que fazem
falta mais séries do género em Portugal? Como vê a TV portuguesa actualmente?
O que nós achamos que faz falta não faz muita diferença,
porque não vende. O que vende é o que já se sabe: novelas e reality tv. E é
nesse panorama que está a tv portuguesa... “escandaleira” com fartura, sexo,
gente burra, voyerismo, etc... E eu vejo também! É óptimo para fazer piadas e
falar mal. E, na verdade, do ponto de vista ético são programas maus, do ponto
de vista televisivo, são bons! Estão pensados para audiências.
11 - A verdade é que
em qualquer canal português hoje em dia rege-se pela concorrência e, de uma
forma ou outra, acaba por lançar os horários da sua programação em função das
outras estações. O que pensa disso? Concorda com as medidas tomadas?
O que eu acho uma parvoíce é haver contratos de
exclusividade, e estações que não deixam as suas “estrelas” irem a programas de
outros canais... Como se nós fossemos um país gigante com milhares de vedetas à
escolha. O mais engraçado é que a América do Norte é gigante (EUA e Canadá) e
as estrelas vão aos canais da concorrência e brincam e gozam sem problema.
12 - Como explica a
drástica queda das audiências da RTP1 nos últimos meses? Acredita e preocupa-se
com as audiências?
As audiências são estranhas, principalmente com a entrada
das novas medições. É uma confusão... Se antes já não corresponderia totalmente
à realidade, agora ainda menos. As
medições são feitas em mil e tal aparelhos espalhados por aí em casa de pessoas
que têm mais do que uma tv e que podem estar a ver outra coisa noutro espaço da
casa.
13- Programas como
"Big Brother", "Casa dos Segredos", "Splash!" ou "A Tua Cara não me é estranha" são todos
'farinha do mesmo saco' ou consegue encontrar qualidade em algum destes
formatos?
Foi como expliquei na questão acima. Valem e cumprem o seu
objectivo.
14- André Ferreira,
realizador do "5" lança a ideia do Maestro António Raminhos D’Almeida. A personagem cresce e torna-se numa
das mais marcantes do programa. Afinal, o "atirei o pau ao gato"
encaixa mesmo em todas as músicas?
Seguramente em 95% das músicas até mesmo na da Fanny que nem
música é e já testei. Aliás, agora em muitos espectáculos levo um cd com
músicas e as pessoas escolhem uma faixa e eu adapto na altura.
15 - Qual é a
diferença entre o António no dia-a-dia e o Raminhos na televisão?
Seguramente nenhuma. Basta perguntar à minha mulher que,
infelizmente, tem que conviver com isso mesmo. Não são poucas as pessoas que
têm dificuldade em perceber se estou a falar a sério ou a gozar em determinadas
situações. Há uma diferença substancial apenas: digo mais asneiras no
dia-a-dia... e nos espectáculos... e nos bastidores. Pronto afinal é quase
igual.
16 - Qual é o futuro
da cultura em Portugal?
Sei lá! Desde que continue com ofertas diversificadas isso é
que conta. Para mim tudo é cultura, a partir do momento que faz parte da nossa
formação e conhecimento da realidade... Tudo é cultura. Lá está... mais uma vez
a música da Fanny é cultura. Agora há uma nova dos outros dois da Casa dos
Segredos, o segredo deles devia ser “não sabemos cantar”.
EM POUCAS
PALAVRAS
A crise é...uma merda
Fazer humor é... uma merda. Sim é muito giro para quem vê,
um stress para quem faz.
Um filme... Space Balls
Um programa de televisão... Chapelle Show
Uma cara da TV... Herman e Conan... Duas caras vá.
Um político...Obama pá! É o maior! E o Clinton também! Por
outras razões é o maior!
Um ódio de estimação... Os políticos portugueses... Por isso
é que só falei em americanos em cima.
Um ídolo... Mitch Hedberg, Conan, Herman não sou gajo de um
só gajo
Uma ambição... Continuar a crescer a fazer parvoíces e ser
reconhecido por isso!
O António Raminhos é... Uma pessoa com vários problemas.
FANTASTIC ENTREVISTA - Edição 42
Convidado: António Raminhos
Produção: António e André
Fantastic 2013
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