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COMING UP | Pretty Little Liars: Original Sin

As Liars estão de regresso, o A também e o mistério vem de atrelado. Mas calma, desengane-se quem acha que vai ver algo ousado e que nos vicie. Apesar do seu clichê bem trabalhado e de uma piscada de olho ao terror que realmente empolga, Original Sin ainda é uma repetição da fórmula convencional com um draminha adolescente de fundo carimbado com a mesma tinta que Roberto Aguirre-Sacasa usou em Riverdale e The Chilling Adventures of Sabrina. O retorno do universo de Pretty Little Liars entra pé ante pé num muro bem fino com muitas armadilhas que a podem fazer derrapar. 

Contamos-te tudo sobre a nova aposta da HBO Max na edição desta semana do Coming Up, fica connosco porque há muita controvérsia à nossa espera neste reboot

Utilizar uma marca que já é conhecida pelo seu sucesso é o novo fetiche dos grandes estúdios de Hollywood, que se têm em mãos um título forte não descansam enquanto não o explorarem até ao tutano. 

Do ponto de vista comercial não podiam estar mais certos, é uma excelente jogada sobretudo tendo em conta a fasquia que a concorrência tem ditado. Porém, esse abuso do património tem de ser gerido com uma sensibilidade que falta em Original Sin

A linguagem da série até se estende, à primeira vista, para um género diferente com cenas que puxam o terror que contrasta bem com o cunho adolescente que Pretty Little Liars carrega, mas, essa criatividade desvanecesse a cada novo episódio, até que de surpresa faz marcha atrás e regressa a essa aposta para regressar depois ao mais do mesmo do género young adult.  

É como se esta história começasse no cume de uma montanha e fosse descendo com embalo em direção a um vale. Se no primeiro capítulo esse jogo básico, mas bem utilizado de trazer referências e situações típicas do terror nos deixa com vontade de ver mais, esse elemento acaba por perder o efeito mágico quando no segundo episódio damos de caras com mais uma produção regular de dramas adolescentes daqueles que já existem em monte em todos os catálogos dos vários serviços de streaming


E já que era para ser feito à luz dessa proposta que fosse a melhor delas todas, o que não se confirma. O mistério é fluido, e apesar de ter uma essência clichê acaba por satisfazer a nossa curiosidade, porque o charme de ser um Sherlock Holmes no sofá de casa é sempre imperdível. 


Contudo, parece que a série se sustenta apenas na força que o mistério lhe dá e acaba por deixar todas as narrativas em torno disso mornas, sem algo que nos adoce a boca e nos faça interessar pelas personagens. 


Há uns salpicos aqui e ali que até nos fazem olhar para as cenas com mais atenção, mas acabam por nos guiar para mais uma rivalidade adolescente recriando a fórmula Mean Girls pela centésima vez. 


Há figuras entre as protagonistas que até apresentam algumas nuances, mas até essas nuances acabam por ser absorvidas mais à frente para tornarem a história ainda mais preto no branco e encaixada no sistema das gavetas de personagens que são do bem e do mal, como acontece com Noa no terceiro episódio.



Aproveitando que falamos dela, Noa, apesar de ter sido tratada com algum facilitismo por parte dos autores continua a seguir como a melhor personagem desta história, assente no carisma da atriz Maia Reficco. 


No quarto episódio quando voltamos a ter uma narrativa que encaixaria perfeitamente num episódio de American Horror Story, Noa mostra que consegue roubar a cena e deixa a léguas a suposta grande protagonista da história, Imogen, que continua a andar aos círculos numa trama sofrida. 


Noa não tem um arco clássico ou óbvio, e é isso que nos capta a atenção, ela é introduzida como um personagem com algumas nuances, que carrega um peso grande nos ombros e que é dona de uma personalidade forte. 


Esses elementos que nos fazem cair de amores à partida ficam um pouco menos atraentes quando os autores lhe acrescentam uma explicação para esses defeitos e lhe tentam dar um altruísmo excessivo, mas apesar dessa beatificação ela ainda consegue ser o elemento com mais sumo dentro do grupo rivalizando apenas com Faran num duelo sobre qual das duas consegue carregar melhor a história nas costas. 


À exceção delas, o restante grupo de amigas é apenas mais do mesmo, mas tanto Faran quanto Noa parecem ser os motores do terror dentro desta narrativa e sendo este género aquele que realmente traz algo de novo para Original Sin, então, podemos confortavelmente dizer que se nos atirarmos de cabeça para assistir esta temporada até ao final grande parte da culpa será delas. 


E talento não parece faltar a nenhuma das duas, sendo que Faran tem ainda a difícil tarefa de carregar as frustrações do mundo da dança enquanto se inspira levemente na versão cinematográfica de Black Swan para demonstrar o quão competitivo é o mundo do Ballet e nos mostra o quão dramático e pouco saudável é este mundo.


Já falamos dos alicerces que montam Original Sin, das personagens, mas e a história em concreto? Num híbrido entre o típico drama adolescente onde o bullying é um ponto impossível de ignorar e o terror que os argumentistas tentam introduzir para fazerem desta série algo que seja do interesse de mais pessoas, Original Sin consegue a aprovação por se arriscar em alguns momentos, e por ser, precisamente, original. 


Temos com principal ameaça uma figura mascarada que aterroriza tudo e todos a partir da essência base do universo de Pretty Little Liars, num jogo que em alguns momentos é um lugar-comum de produções de terror. Contudo, essa nem é a melhor parte. 


O argumento eleva-se a partir do quarto capítulo em diante, quando a restante trama faz marcha atrás e deixa de parte o caminho de drama teenager que estava a seguir até ao terceiro episódio e regressa à sua aposta inicial no terror com uma perseguição e pressão psicológica que justifica a classificação etária da série. 


A introdução do arco da troca das gémeas Karen e Kelly, chegou no momento certo para nos prender e não nos fazer olhar para Original Sin como apenas mais uma história teenager já vista e revista. Pintada em tons escuros, esse acrescento à atmosfera do terror foi uma jogada de mestre que comprova que há uma mente muito criativa a planear este spin-off e que soube usar as referências certas para não produzir mais uma série com um argumento industrial. 


A isso junta-se, ainda, ingredientes mais clichê como a vingança, as perseguições e a iminência de uma morte certa para grande parte dos personagens, tudo isto já foi utilizado antes, mas ajuda e muito a manter o ritmo da série numa velocidade que a torne absorvente enquanto ajudam a retirar personagens de uma forma fácil do centro da ação quando os seus arcos já não se justificarem.



Dos pontos positivos passamos para os negativos começando já por falar no facilitismo com que o grupo principal se reúne e da forma como as relações entre elas se estreitam do dia para a noite com uma profundidade pouco realista. 


É certo que todas parecem ter uma inimiga em comum, mas isso não serve de justificação para que de um momento para o outro se tornem figuras indispensáveis na vida umas das outras. 


Imogen, é apresentada como a personagem principal que terá a responsabilidade de liderar o grupo e que à primeira vista tem um drama pessoal que merece atenção e espaço de discussão retratando uma gravidez na adolescência. Mas todos esses pontos fortes que deveriam assegurar o nosso gosto acabam por se desvanecer com a presença pouco marcante de Bailee Madison que é muito pouco ajudará pelo texto que a coloca quase sempre no papel de figura sofrida a quem tudo acontece. 


Há momentos em que Imogen parece um pinto a partir a casca pronta para se soltar e voar para trazer nuances e dualidades à sua protagonista, mas esse momento do grito do Ipiranga está constantemente a ser adiado, ficando sempre a ideia de que essa dualidade está a ser abafada à espera de um momento em que essa revolta traga consequências sérias para a história. 


É quase como se existisse uma poupança de recursos correndo o risco de que no momento em que essa “libertação” acontecer e ela tiver de facto uma atitude que comprove que ela não é o protótipo de bondade que nos estão a descrever até agora isso se torne algo desconexo com o que conhecemos até então da personagem.


Com espaço para teorizar e laivos de horror que a levam ao caminho certo, Original Sin, cumpre a proposta e consegue fazer valer a aposta em mais um spin-off de Pretty Little Liars


O anterior The Perfectionists talvez tivesse um elenco mais carismático, mas em termos de ação, Original Sin consegue superar e ganha por quebrar as amarras com o passado e trazer uma série que não pareça totalmente sustentada no sucesso da franquia enquanto se volta para o futuro entendendo que histórias de adolescentes já não podem, aos dias de hoje, ser algo totalmente raso sob pena de se tornarem previsíveis. 


No bom caminho, Original Sin tem uma boa dose de loucura que acaba por nos chamar a atenção e nos levar a uma maratona apetecível, mesmo sem nunca se tornar naquela série que nos deixa com água na boca pelo próximo episódio. 


Está na média, e isso já supera um pouco as expectativas, tendo em conta que até agora, todos os spin-offs de Pretty Little Liars ou os projetos de Aguirre-Sacasa além de Riverdale deixaram bastante a desejar. 


Em alguns momentos da história a construção de Riverdale é replicada, e não falamos apenas do ponto comum das duas serem obras voltadas para o público adolescente com cunhos de terror, não, falamos da construção louca de arcos que chegam cheios de potência mas que correm o risco de se tornar numa bomba relógio prestes a rebentar nas mãos dos criadores e a deixá-los sem opções. 


Esperemos que isso não aconteça porque, para já, Original Sin fez-nos comprar o bilhete para assistir esta primeira temporada até ao final. A medo, é certo, mas garantiu o interesse e isso já é um ponto muito positivo.