Contos Bastardos • "Um esquilo chamado Jéssica"
Um esquilo chamado Jéssica
Tinha 14 anos quando fui a uma palestra de um autor que admiro.
Alguns presentes tiravam apontamentos em blocos de notas pretos, aqueles típicos de quem sonha estar um dia do outro lado do autógrafo.
Apresentava o novo romance. Eu acabara de o ler e agora ouvia-o falar, maravilhada.
No final, as perguntas dos leitores. Ainda não era jornalista, estava longe de o ser, mas previ algumas - isso diz mais da previsibilidade daquele público do que da minha precoce subtileza jornalística. Acredito que todas as perguntas do mundo já foram criadas e que não há nenhuma por inventar - apenas falta de coragem para trazer algumas ao plano da realidade.
Perguntaram-lhe quando descobriu que queria ser escritor. Respondeu que fora ao ler um livro especial - O retorno, de Dulce Maria Cardoso.
Curiosa com esse poder mágico, apressei-me a agarrar num exemplar do livro em questão e não saí da loja sem ele.
O retorno, de Dulce Maria Cardoso, continua na minha estante.
Passaram 12 anos e nunca o abri. Desconheço a alquimia das suas páginas - perdi o interesse quando preferi, nessa mesma noite, pegar num caderno e numa caneta para escrever.
Percebi que não dependia da magia que, num impulso consumista, julguei estar escondida naquele livro. É que, desde os 10 anos, quando criei - não numa gaiola, mas em dois cadernos cor-de-rosa pautados - um esquilo-fêmea marinheiro que navegava oceanos em mil aventuras, que sei que é escrever que me faz respirar.
Um dia, se um vírgula escritora suceder a minha assinatura, se alguém me questionar onde nasceu esta vontade, se reunir blocos pretos curiosos à minha volta, talvez romantize e escolha um livro bonito que me tenha inspirado durante o percurso. Deus me livre de admitir que está um roedor imaginário por detrás de toda a história.
Alguns presentes tiravam apontamentos em blocos de notas pretos, aqueles típicos de quem sonha estar um dia do outro lado do autógrafo.
Apresentava o novo romance. Eu acabara de o ler e agora ouvia-o falar, maravilhada.
No final, as perguntas dos leitores. Ainda não era jornalista, estava longe de o ser, mas previ algumas - isso diz mais da previsibilidade daquele público do que da minha precoce subtileza jornalística. Acredito que todas as perguntas do mundo já foram criadas e que não há nenhuma por inventar - apenas falta de coragem para trazer algumas ao plano da realidade.
Perguntaram-lhe quando descobriu que queria ser escritor. Respondeu que fora ao ler um livro especial - O retorno, de Dulce Maria Cardoso.
Curiosa com esse poder mágico, apressei-me a agarrar num exemplar do livro em questão e não saí da loja sem ele.
O retorno, de Dulce Maria Cardoso, continua na minha estante.
Passaram 12 anos e nunca o abri. Desconheço a alquimia das suas páginas - perdi o interesse quando preferi, nessa mesma noite, pegar num caderno e numa caneta para escrever.
Percebi que não dependia da magia que, num impulso consumista, julguei estar escondida naquele livro. É que, desde os 10 anos, quando criei - não numa gaiola, mas em dois cadernos cor-de-rosa pautados - um esquilo-fêmea marinheiro que navegava oceanos em mil aventuras, que sei que é escrever que me faz respirar.
Um dia, se um vírgula escritora suceder a minha assinatura, se alguém me questionar onde nasceu esta vontade, se reunir blocos pretos curiosos à minha volta, talvez romantize e escolha um livro bonito que me tenha inspirado durante o percurso. Deus me livre de admitir que está um roedor imaginário por detrás de toda a história.
Texto: Sónia Costa
Ilustração: Filipa Contente
Ilustração: Filipa Contente
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