Miúdos que já são Graúdos | Beatriz Costa: "Cada momento foi e é sempre o melhor momento"
Estreias-te em televisão com apenas 11 anos, no programa Uma Canção Para Ti. Como é que tudo aconteceu?
Na altura, vi na televisão que ia haver um casting para um programa com crianças que soubessem cantar e pedi à minha mãe para me levar. E fomos. E acabei por ficar.
Ficaste em segundo lugar no concurso, tendo ganho rapidamente muita popularidade junto do público. Como foi passar por todas estas mudanças, sendo tão nova?
Eu não compreendia bem a dimensão do programa nem o que significava, tanto que a parte da competição nunca esteve presente, eu queria cantar, e ali (no programa) estavam pessoas que me queriam ouvir, e isso era tudo. Quando me via na televisão não compreendia bem. Quanto ao público, lembro-me das pessoas serem muito simpáticas e queridas.
Em 2009, ganhas um papel de destaque na série Morangos com Açúcar. Na altura, já sonhavas ser atriz?
Sim. Antes dos Morangos, até mesmo antes do programa, já me tinha estreado profissionalmente em teatro (no musical Música no Coração, do Filipe Lá Féria) e em cinema (no filme Amália, o Filme, do Carlos Coelho da Silva e A vida privada de Salazar, do Jorge Queiroga, no mesmo ano). Já tinha tido contacto com a profissão e já tinha decidido que era o que queria fazer. Tive a felicidade de até hoje, não ter mudado de ideias. Na altura, os Morangos foram, naturalmente, uma alergia muito grande!
Como foi participar nesta série juvenil?
Foi maravilhoso. Foi o meu primeiro projeto de longa duração em televisão. Foi uma descoberta. Aprendi muito e diverti-me à brava!
Atualmente, mais de dez anos depois, ainda és associada à imagem do programa de talentos da TVI?
É muito raro. De vez em quando aparece alguém que associa automaticamente, mas a maioria das pessoas só percebe depois e ficam muito admirados por ser essa menina do Uma Canção Para Ti. Já passou muito tempo, mas as pessoas ainda têm o programa muito presente na memória. Ainda hoje há quem diga “votei em si”. É delicioso! Há uns tempos fiz um post com imagens do programa e foi lindo ler mensagens de pessoas que não faziam ideia que era eu, mas que se lembravam muito bem!
Quando regressas aos ecrãs, as mudanças físicas são bastante visíveis. Como reage o público ao perceber que és aquela "menina" do Uma Canção Para Ti?
Com espanto e com ternura. Foi um programa que marcou muito as pessoas. Há colegas nossos, que hoje são grandes cantores e fadistas, que vieram dizer que começaram a cantar por causa do programa. Isso é fortíssimo.
Depois de participares em produções como Mar de Paixão, O Beijo do Escorpião e Onde Está Elisa?, voltaste à ficção da TVI em Festa é Festa. Como encaraste este convite?
Apanharam-me completamente desprevenida. Acho que nunca contei esta história, mas foi numa altura em que estava muito parada enquanto atriz, e decidi reiventar-me. Ia mudar de rumo e fazer algo completamente diferente. Começava dali a uma semana. Até que recebo um telefonema da minha agente a dizer que tinha um casting para a TVI e eu fiquei contente mas pensei “pronto, mais um…não fico de certeza, mas vamos.” Não tinha nada a perder. Mas assim que recebi o texto fiquei muito entusiasmada. Achei um piadão à Vuitton. Comecei a experimentá-la e estava a amar.
Era um registo completamente diferente e uma aposta completamente inovadora, era para ser uma série, inclusive. Fui ao casting, correu bem. Passado uns dias recebo um telefonema da minha agente a dizer que tinha ficado. Chorei muito, saltei, dei voltas pela casa eufórica. Era algo que queria há muito tempo. E era uma personagem que sabia que ia amar interpretar. E assim foi. Liguei para o outro trabalho que ia começar dali a uma semana, e disse que afinal, já não ia.
Como descreverias esta tua personagem? E como tem sido interpretar a Vuitton?
A Vuitton é muito divertida, ambiciosa e esperta, muito esperta! É um pouco snob mas no fundo tem bom coração, a miúda! Tem uns pais doidos e portanto desculpam-se os devaneios que por vezes tem, é de família! Tem sido uma aventura muito bonita e desafiante. Temos uma equipa de profissionais maravilhosos, muito criativos e muito especiais. Uma boa energia e bom ambiente no trabalho. Divertimo-nos muito com este projeto e uns com os outros. Sinto-me muito feliz e grata por fazer parte disto.
Festa é Festa marca o regresso de um formato mais popular à ficção da TVI, sendo assumidamente uma novela mais curta e onde o humor terá um papel forte. Achas que esta produção é diferente do habitual? Porquê?
Sim. Muito diferente. E penso que marcou por isso. Fugimos ao drama das novelas que as pessoas estavam habituadas. Aqui não há vilões nem bonzinhos, há pessoas doidas e muito engraçadas que arrancam gargalhadas a qualquer um. As pessoas identificam-se. Está muito bem escrito. Temos uma maior liberdade criativa na realização, na edição, na escrita e na interpretação. E depois, temos este elenco talentosíssimo. Isto foi um risco muito grande, mas, na minha opinião, não podia ter corrido melhor!
Recuando alguns anos, em 2016 interpretaste a Mariana da longa-metragem A Mãe é que Sabe. Como foi participar neste projeto em cinema?
Foi delicioso. Já tinha saudades de fazer cinema. A equipa também era fantástica, fiz amizades que se mantêm até hoje. E foi um filme muito bonito de se ver, já agora!
Ao longo dos últimos anos investiste também na formação artística. Estiveste na Escola Superior de Teatro e Cinema, no ramo Atores. Qual a importância deste curso para a tua carreira?
O curso foi fundamental não só para a minha carreira, mas para mim enquanto ser humano. Cresci muito. Foram anos muito bonitos e duros ao mesmo tempo. Mas necessários, absolutamente imprescindíveis. Comecei a olhar o mundo de forma diferente e a ver coisas onde antes apenas olhava sem me aperceber realmente. Li autores que edificaram o que hoje chamamos Arte. Foi uma descoberta. Abriu a minha percepção. Ganhei um respeito e uma reverência pelo trabalho que existiu antes de nós, e pelo que hoje se faz. Debatemos muito muito. Olhei para dentro, e para fora. Aprendi a pensar o mundo, porque isso também se aprende e se ensina. E não trocava esses anos intensivos de coragem e aprendizagem por nada deste mundo.
Em 2020, foste uma das concorrentes do programa The Voice Portugal, da RTP1. O que é que este regresso aos talent-shows te trouxe de bom, enquanto artista?
O The Voice foi um mergulho. Não pensei muito, apareceu essa oportunidade, estávamos no meio de uma pandemia, fechados em casa, e pensei “porque não?”, e lá fui eu. Trouxe-me acima de tudo amizades que hoje são fundamentais. Percebi também o que quero e o que não quero, na altura não sabia muito bem, estava a experimentar e a tentar perceber que rumo queria tomar enquanto artista. Foi uma prova de coragem, um “deixa lá ver”.
Em 2021, lançaste o tema Facilitar, que tem tido uma muito boa aceitação por parte do público. Como tens encarado o sucesso deste teu tema?
Com muito alegria e gratidão. O Facilitar foi um tema gerado em amor, e foi bonito ver que as pessoas o sentiram.
O que podemos esperar de ti, enquanto cantora, nos próximos tempos?
Verdade, acima de tudo. Tenho coisas para dizer e quero muito dizê-las. E em breve vão poder ouvir…estou ansiosa para que as oiçam!
Fazes 25 anos a 26 de abril de 2022. Como encaras esta Beatriz, agora na idade adulta?
Com mais amor do que nunca.
Olhando para trás, quais os melhores momentos da tua carreira enquanto atriz e cantora?
Cada momento foi e é sempre o melhor momento. Não sou saudosista. Portanto, diria que estou neste momento a viver o melhor momento da minha carreira.
Qual é a principal diferença entre a Beatriz Costa de hoje e aquela que vimos em Uma Canção Para Ti?
A de Uma Canção Para Ti tinha a inocência e a esperança que hoje quero resgatar, o brilho no olhar e a despreocupação saudável, que nos permite sermos quem somos sem nos julgarmos, sem pensar no que os outros pensam de nós ou se vamos bem ou vamos mal. Só ser. Tenho no meu Instagram a descrição que penso que melhor me descreve: “Sobre a exuberante tentativa de Ser”. E é isso: ser o que se é, sem egos nem medo nem pretensão, como a menina de Uma Canção Para Ti. E fazer da minha religião a mesma que a da minha honrada homónima, Beatriz Costa, que dizia “a alegria é a minha religião”. É isso.
Miúdos que já são Graúdos - Beatriz Costa
Por André Pereira
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