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COMING UP | The Woman In The House Across The Street From The Girl in The Window

Clichês, clichês e mais clichês. The Woman In The House Across The Street From The Girl In The Window é, tal como o extenso título indica, uma refeição pré-feita de todas as histórias dentro deste género mas que estranhamente funciona e faz da série uma aposta excelente para quem se quer distrair dentro do catalogo da Netflix. Por mais batidas que estejam todas as ideias que a série apresenta, o tom satírico misturado com um mistério altamente envolvente e recheado de repetições que fazem palpitar a nossa veia de investigadores, este é o típico produto que não nos deixa fugir no final do primeiro episódio e quando ganhamos consciência já estamos no final da temporada e pedir por mais clichês e frases feitas. É um claro exemplo de como aproveitar uma formula que funciona bem e torná-la em algo diferente, cativante e até divertido. Contamos tudo isto e muito mais na edição desta semana do Coming Up. 

Da tragédia à comédia, The Woman In The House Across The Street From The Girl In The Window aproveita ao máximo o talento para a comédia de Kristen Bell sem nos deixar perder o sentido trágico desta história. 

Mas vamos ao grande highlightda produção: A inspiração. Não é simplesmente o facto de ter grandes sucessos como rede para montar o argumento, mas sim, os sucessos que tem. 

Temos The Silence of The Lambs na mesma equação em que temos Orphan, e ainda o recente The Woman In The Window e o estranho de tudo isto é que o texto faz com que todas as linhas se interliguem numa improvável história que tem contornos estranhos mas que não perde, totalmente, a coerência.

Anna é o retrato estereotipado da mulher sofredora e os autores não se esforçam para quebrar a barreira do clichê porque, no fundo, serve em tudo a proposta da série e serve logo de cartão de visita ao que teremos nos restantes episódios: Um conto fiel do mais alto nível trágico com detalhes que a tornam leve e nos fazem rir ao mesmo tempo que nos fazem duvidar um pouco sobre a realidade dos factos. 


Aliás, essa brincadeira com a nossa crença é bastante interessante porque tal como a personagem ao longo da história se vai questionando sobre a realidade dos factos antes mesmo dela passar por isso já nós, espectadores, nos questionamos sobre o que é, de facto verdade em tudo aquilo. 


Convenhamos que é altamente suspeito termos um carteiro a arranjar todos os dias as caixa do correio, assim como é estranhamente peculiar que Anna tenha um número infinito de panelas exatamente iguais em casa ao ponto de poder partir uma em cada episódio sem que em nenhum momento lhe falte um panelinha para fazer o seu guisado. 


Se há uma coisa que podemos afirmar com toda a certeza é que a nossa protagonista é uma dona de casa extremamente cautelosa no que toca aos seus serviços de loiça. 


Mas todos estes detalhes, além de ganharem um destaque interessante para quem não consegue ficar indiferente aos pormenores ainda servem para aliviar todo o background dramático e ajuda a que comecemos a questionar tudo porque, no fundo, não parece existir uma linha limite para as opções do texto da série.



Mas se com Anna temos uma protagonista que é o protótipo perfeito deste género de histórias, com Neil e Emma temos todo o desenho de uma família perfeita, com mágoas é certo, mas nem por isso aparenta ser menos feliz. 


Contudo, ao contrário de Anna que o texto não se esforça para realçar os estereótipos e a deixa simplesmente viver livremente, com a família de Neil e Emma existe um esforço gigante para realçar essa perfeição que deixa logo antever que algo ali cheira a esturro. 


E a partir daí, quando a série abre essa brecha automaticamente começamos a definir o futuro e o final, que digamos que não propriamente uma surpresa, apesar de ser convincente, interessante e não estragar o trabalho feito até então. 


Temos o arco em que Neil é acusado, temos o momento em que Buell é o alvo, depois Anna, no fundo, a lista de suspeitos é riscada ao vivo e a cores, deixando-nos cada vez mais com certezas de que as nossas teorias iniciais estão corretas. 


Emma é a vilã menos óbvia, ao mesmo tempo que tem todos os indicadores que a tornam na principal suspeita pela sua postura de criança mimada e pela conversa que ela tem com Anna em que claramente ela mostra destreza suficiente para enviesar as opiniões de Anna sobre os factos. 


Ou seja, por mais que em alguns pontos o texto de The Woman In The House Across The Street From The Girl In The Window seja algo raso, soube, no caso de Emma, trabalhar o melhor que a personagem tinha para oferecer.


Mas à parte dos personagens, há outros detalhes que ajudam a que a série se torne ainda melhor. O primeiro ponto é o facto da história não nos fazer perder tempo, há sempre movimento, sempre novos detalhes a acrescentar e a adensar ainda mais o efeito trágico que se abate sobre aquelas personagens. 


Existe ritmo e tudo flui de uma forma bem natural apesar da série trabalhar com um conteúdo que é um tanto ou quanto psicótico. A duração dos episódios é outro ponto que aqui faz total diferença. Em linha com as tramas cómicas, os cerca de vinte e cinco minutos de cada episódio tornam tudo muito mais rápido, e deixam-nos com uma vontade gigante de maratonar tudo porque não temos aquela sensação de que em algum ponto as coisas se vão começar a arrastar. 


Além de tudo mais, ajuda imenso para que os ganchos façam sentido e sejam usados de forma credível. O corte da série é excelente e dá várias lições a muitas produções dentro do próprio catálogo da Netflix. 


No quadro técnico, a série ainda lucra pela fotografia incrível que nos absorve para a atmosfera que a série nos quer dar, com a sensação de que tal como a chuva é algo imprevisível, também aqui o próximo passo pode ser altamente surpreendente. 


No fundo, o tempo que é poupado em entregar uma densidade ou uma carga aos personagens foi utilizado para que todo o aspeto visual fosse exímio, e o resultado não poderia ser melhor. 



E elenco? Kristen Bell está no seu auge com uma personagem que tinha tudo para ser um grande vazio mas que se deixa embeber do melhor que a atriz tem para oferecer numa interpretação cheia de carisma e que prende até nos momentos mais toscos e que sabe manejar o drama sem que seja algo que faça chorar as pedras da calçada. 


Sente-se o sofrimento da perda de Elizabeth, sentem-se as suas duvidas, o momento em que ela já nem acredita nela própria, sente-se tudo isso mas é na contracena com Mary Holland que a vemos brilhar no melhor estilo cómico. 


Por mérito das duas atrizes, o argumento ganha mais força e nem o maior dos clichês destrói o bom trabalho que fazem. É quase mágico a forma como fazem o impossível tornar-se possível, trabalham com estereótipos e conseguem fazer desses mesmos estereótipos algo extremamente divertido e que nos fideliza ainda mais com a série a aguardar pela próxima tirada sarcástica que terão para oferecer. 


Tom Riley pode não ser propriamente o ator mais carismático, sobretudo quando comparado com Kristen Bell, mas mesmo assim cumpre bem o seu papel de galã ao qual não é dado tanto destaque quanto aquilo que esperávamos. 


Mas um dos grandes destaques em critério de interpretação vai para Samsara Leila Yett que entra para a lista de nomes a ter em conta em Hollywood depois da sua interpretação altamente convincente da sua Emma.


Tudo isto são motivos mais que suficientes para passarmos os olhos por The Woman In The House Across The Street From The Girl In The Window. Dentro dos seus clichês, esta é uma história envolvente, convincente e que nos absorve pelo seu estilo que é, no mínimo, diferente. 


E futuro? Por mais que esta história nos seja vendida como limitada, a verdade é que o final nos dá indicações de um pós-vida bem cativante que em traços gerais ainda nos parece mais apetecível do que o que vimos nesta primeira temporada sobretudo porque obrigatoriamente os autores teriam de trabalhar em cima de um contexto bem menos estereotipado e seria interessante analisar se existe arcaboiço dentro deste ambiente para construir uma história com raízes próprias. 


O que é facto aqui é que aquela participação de Glenn Close não parece, de todo, um mero apontamento. Nunca iriam buscar uma atriz com esta dimensão para introduzir uma ponta solta que não fosse desenvolvida mais tarde. Seria um desperdício enorme. Isto além, claro, de nos parecer altamente interessante ter uma atriz tão multifacetada quanto Glenn Close no universo de uma série, onde poderia ganhar um espaço de expansão para o seu talento como sabemos que ela consegue. 


Bingo, que venha daí a nova temporada, porque inesperadamente percebemos agora que precisamos dela para breve. A nota tem tudo para ser ainda mais positiva.