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COMING UP | Hawkeye

Está aberta a época natalícia! É hora de juntar a família e os amigos e fazer aqueles planos clássicos de convívio. Para ajudar à festa o Disney+ trouxe o presente (quase) perfeito com Hawkeye. O embrulho é uma história familiar dentro de universo rico que já conhecemos bem o humor goofy que lembra vagamente os vilões patetas de Home Alone. Mesmo com algumas imperfeições, o novo capitulo do MCU consegue entreter, divertir e apresentar novos e carismáticos heróis. Ainda que os dois primeiros episódios não tenham, ainda, revelado muito, o espirito está no ponto certo e o ambiente de Natal é tão certeiro como as filhoses na noite de 24 de dezembro. Fica connosco nesta edição do Coming Up em que te contamos tudo sobre esta nova aventura com o selo Marvel. 

Hawkeye é, provavelmente, o herói menos famoso dos Avengers. É o que tem habilidades mais mundanas e preocupações mais próximas da nossa realidade. Ingredientes que habitualmente não são atrativos fortes para encaixar em filmes de ação mas excelentes na hora de criar argumentos para uma série. Hawkeye peca por um ligeiro atraso da Marvel. 

Se não tivéssemos visto The Falcon and The Winter Soldier essa dimensão mais terrena do que é ser um herói reconhecido por todos em New York era uma pedrada no charco. Contudo, como ainda recentemente vimos essa dimensão explorado (e bem) noutra série, aqui perde-se um pouco o efeito surpresa e continuamos apenas a entender a forma como os habitantes veem cada membro da equipa que derrotou Thanos como celebridades.

Neste ponto há uma grande conexão e uma ideia de continuidade entre as duas obras do streaming da Disney, o que é até engraçado de se ver mas retira um pouco a surpresa. Parece que aquele arranque de Hawkeye se poderia enquadrar em The Falcon and The Winter Soldier


Contudo as semelhanças são quebradas de uma forma peculiar e divertida: o espírito natalício. Sim, ter uma época a servir de cenário foi uma jogada de mestre para nos deixar com a sensação de que estamos a ver algo diferente, temático, e para conseguirmos desprender-nos da comparação. O conteúdo é semelhante mas o embrulho chama a atenção e funciona ao ponto de ficarmos satisfeitos com o que vemos. 


Foi uma jogada de mestre numa série que tinha tudo para começar com dois pés esquerdos. Além da história de Clint se prender com o regresso à normalidade e estar ligada a problemas de comum mortal tal como Sam Wilson, a outra protagonista, Kate Bishop, precisava de ser apresentada aos fãs. 


E aqui está uma bomba relógio no colo dos criadores do MCU: Como contar a história de origem de uma simples jovem, que não foge dos padrões comuns, sem cair na mesmice? Pois bem, essa envolvência da quadra torna tudo como uma série evento e serve, também, para acelerar o ritmo e fazer com que as sequências mais assadores, que existem e que têm de existir para dar contexto a Kate Bishop, sejam mais curtas e deem lugar à ação. 


A dinâmica vai-se construindo no meio das batalhas num contrarrelógio que é bem típico das obras que utilizam o Natal como acelerador. A data não muda e parece que tudo tem de acontecer para na hora de nos sentarmos à mesa todos os problemas e dilemas estejam ultrapassados. 



Além de ser um excelente acelerador para a narrativa, ainda abre espaço para de um forma subtil explorar a dimensão humana e familiar tanto de Kate quanto de Clint sem melodramas forçados que não casam, de todo, com a fórmula típica das produções da Marvel Studios, salvo raríssimas exceções muito bem justificadas como a cena final de The Falcon and The Winter Soldier ou recentemente com The Eternals


E falando de fórmula, ela está toda aplicada em Hawkeye. Temos o companheirismo, a amizade, a ação bem produzida com budgets que tornam tudo verosímil, e até o humor capaz de fazer os personagens serem os primeiros a gozar com eles mesmos. Mas mais do que humor que traduz piadas como a que Clint faz sobre a sua comparação com Katniss Everdeen, a grande estrela da comédia é o grupo de vilões de Fato de Treino que trazem um humor bem familiar com piadas secas e patetas que nos remete imediatamente para os bandidos clássicos de Home Alone


Um mimo para quem assiste e mais uma forma de nos trazer um pouco para dentro deste género tão familiar para todos os que gostam de assistir a especiais de Natal. Obviamente não o tipo de diálogos que agradem a todos, mas são divertidos e casam bem com a desconstrução que os personagens da Marvel fazem sobre si próprios tanto no cinema quanto nas Bandas Desenhadas.


E falando em BDs, Hawkeye traz para os ecrãs uma transcrição bonita das histórias de Clint e mostra o potencial desperdiçado do personagem durante a era de ouro da Marvel. Passamos anos a vê-lo no background enquanto Clint tinha discussões interessantes para se verem refletidas no ecrã. 


O problema de audição de Clint, que num único frame fica explicado e percetível, já é familiar para quem leu as Bandas Desenhas, mas é agora adaptado numa tentativa que esperemos que seja bem sucedida da Marvel mostrar que todos podem ser heróis independentemente de terem algo que os coloque à parte dos estereótipos comuns. 


Já o fizeram em The Eternals e preparam-se para reavivar isso com o regresso de Charlie Cox e o seu Daredevil, mas fazem falta mais exemplos para criar essa proximidade e representação do público. É um gesto bonito e louvável, que esperemos que seja apenas um início de uma fase que acabe com os padrões e eduque o público para encarar a diferença como algo comum. Seja em que espectro for. 


À parte disso, Clint sempre foi um homem de família, pelo menos a partir do momento em que soubemos nos filmes que ele era casado e pai de várias crianças. A forma como a série constrói a ligação dos os filhos é tão natural que nos faz afeiçoar-nos ainda mais com o personagem e ainda torna muito mais credível a sua aproximação imediata com Kate Bishop. 


Enquanto pai, ele sente a necessidade de a proteger, ele quase coloca a sua própria filha na pele de Kate e pensa como seria a sua reação se fosse com ela. É uma construção bonita que é feita nas entrelinhas e que mostra o cuidado que existe na criação da série. 



Kate Bishop chegou com o pé direito e com uma personalidade forte e marcante que rouba a cena, tal como tem acontecido com várias outras novas caras do MCU. Aliás, as séries da Marvel no Disney+ têm sido uma ótima prenda para nos fazer sair da bolha típica. 


Kate é uma adolescente que quer ser heroína, com um sentimento de justiça que traz uma vingança velada e que poderá, se bem aproveitada, levar a personagem para discussões mais profundas e para possíveis revoltas muito parecidas com as de Yelena que pretende vingar Natasha. 


No fundo, a grande diferença entre as duas novas apostas dos novos Avengers está no sentimento. Yelena foi treinada para não ter empatia com o outro, é quase uma máquina de combate de carne e osso, enquanto Kate tem à flor da pele a rebeldia e a explosão de sentimentos de uma qualquer adolescente, o que pode resultar numa super proteção mas também numa raiva desmesurada que leva tudo e todos à frente. 


Hailee Steinfeld parece estar à altura do desafio, num desempenho que tem como base o mesmo tipo de personagens que nos trouxe em Pitch Perfect ou The Age of Seventeen e que parecem ter servido de escola para conseguir agora entregar um papel que é estereotipado no conceito mas cheio de nuances na forma como se comunica e apresenta. 


Em vários momentos ela carrega os episódios às costas, sobretudo nas cenas em que divide ecrã com Jeremy Renner, porque convenhamos, Clint é bastante interessante, mas Jeremy interpreta-o com a sensibilidade de uma pedra. 


A Marvel têm-nos dado uma certeza quase absoluta de que não sabe errar e tem aprendido com o tempo a fazer embrulhos bonitos para não oferecer aos fãs presentes repetidos. Aqui a garantia é continuar a coleção com a mesma coerência dos títulos anteriores e ao mesmo tempo que aproveita para dar contexto e nos fazer sentir saudades de uma despedida iminente de Hawkeye dá o passo certo para o futuro com mais uma figura carismática que promete colocar-nos muitos sorrisos. 


O elenco é caprichado e o argumento traz figuras dúbias sem vilões predefinidos que ajudam a manter o nosso interesse constante na tentativa de sermos detetives. Tony Dalton e Vera Farmiga prometem ser uma dupla que vai dar frutos pela sua construção dúbia, além de serem um acrescento da talento excelente para o MCU


Depois de Rachel Weisz em Black Widow, ter grandes atrizes em produções da Marvel nem sempre é sinónimo de ver o seu talento aproveitado, é um trauma que The Eternals ajudou a acalmar, mas que se estende agora com Vera Farmiga. 


Temos mais que uma mão cheia de provas do seu talento e torna-se quase uma exigência tê-la em destaque. Esperemos que se cumpra, e que o ritmo continue tão fluído e, sobretudo, tão divertido, como nesta introdução. Se for sempre assim é mais uma aposta ganha que engrossa a lista de aplausos que temos de dar à equipa de Kevin Feige. Temos encontro marcado para o terceiro episódio com bolinhos, gorros e luzes.