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COMING UP | The Falcon and the Winter Soldier

A Marvel não brinca em serviço, mas muito menos parece estar para brincadeiras e nesta segunda incursão no mundo das séries volta a elevar a fasquia com um projeto de cinema trazido diretamente para o mundo do streamingThe Falcon and the Winter Soldier vem com menos show de cores do que WandaVision, com heróis mais mundanos e a exigência de um maior trabalho de apresentação com um Sam Wilson que ainda tem muito por explorar. O que se poupa em efeitos especiais ganhasse em cenas de ação, e em apenas dois episódios já deu provas de que muitos blockbusters de ação ainda têm muito a aprender com o universo criado pela Marvel Studios. A expansão para o formato séries quando anunciado parecia servir apenas como um impulso para a incursão da Disney no mercado do streaming, mas até agora quem lucra é o MCU, que sem novos projetos a chegarem às salas de cinema conquista ainda mais público que vêm atrás da inovação e ainda aproveita para explorar as caras que se vão tornar nas principais caras deste mundo que têm vindo a construir. Com muitos fan services pelo caminho, mas sem se render ao que é mais apelativo em detrimento do que é realmente importante para a história, temos um Falcon em excelente forma, um Winter Soldier que facilmente vai reclamar mais protagonismo, e potencial para humanizar ainda mais este mundo paralelo. Vem connosco nesta edição do Coming Up onde vamos debater os caminhos que The Falcon and the Winter Soldier vêm abrir. 

Apresentado como se fosse um filme de seis horas, a série estreia-se com os mesmo ganhos que recentemente a versão de Zack Snyder trouxe em Justice League, com as cenas que tipicamente seriam cortadas neste tipo de produções a entregarem um maior contexto mas sobretudo uma densidade de personagem que salta à vista. Todos nós já conhecemos aquelas figuras, mas mais do que heróis, conhecemos muito pouco do lado humano de cada um. E nesse ponto estas cenas extra que chegam na série são um bom mimo para quem vê é uma oportunidade para dentro do mesmo universo todos terem personagens com várias camadas, tal como acontece nas bandas desenhadas. No fundo é tudo o que o mundo geek quer ver: Um retrato fiel da herança de Stan Lee. The Falcon and the Winter Soldier não só traz isso como ainda lhe dá um banho de realidade com o blip a assumir-se como um verdadeiro elemento de game changing, que noutra altura podia ser uma solução tipicamente irrealista destes universos, mas aqui serve como um bom paralelo do mundo em que vivemos nos dias de hoje. À parte disso, as dificuldades financeiras vividas por Sam são o verdadeiro momento em que a narrativa desce à terra, colocando os heróis num patamar de realidade que em muitos pontos é parecido com o que a série The Boys nos apresenta, mas despido da prepotência dos protagonistas da série da Amazon. Este pode ser o grande elemento que fará desta série algo memorável, o descer à terra de um universo que já estava a extrapolar para o lado galáctico, quando na verdade há personagens que são apenas seres de carne e osso com os mesmos problemas e limitações que qualquer um de nós teria naquela situação. 



Sam é provavelmente um dos personagens mais interessantes neste ponto do MCU, por ser a pessoa que num conjunto de seres com algum fator que os torna especiais não tem nada de exterior que o torne especial, é tudo fruto do seu trabalho. E esse parece ser o ângulo da série, no primeiro episódio. Temos o lado humano, o lado do homem que luta com as dificuldades de qualquer comum mortal, com uma família durante aqueles eventos extraordinários continuou a trabalhar como sempre, com a mesma visão de ganha pão que qualquer um de nós. Aliás, o “qualquer um de nós” torna a série muito mais abrangente, por ter um sentido de realismo que pode chegar a mais públicos do que os fireworks de WandaVision. Tudo isto com Anthony Mackie ao leme, numa interpretação que ainda está presa numa bolha à espera de rebentar e nos surpreender. O texto não lhe deu margem para mais ainda, e é algo um tanto ou quanto semelhante ao que aconteceu em Altered Carbon, em que o personagem tem pontos em que se arrasta para depois chegar àquilo que realmente é pretendido pelo texto. Já vimos o Falcon, mas a verdade é que para a maioria do público que não mergulhou ainda nas Bandas Desenhadas desconhece-se quem é o Sam, e neste ponto, o facto de termos uma atuação que é mais contida, com alguns pontos de piada, mas sobretudo muito mais reservada e intima é uma forma de fazer crescer a empatia por aquele homem como se estivéssemos a construir uma relação de proximidade real com alguém que acabámos de conhecer. 


No sentido inverso, Bucky por mais que não tenha tido ainda grandes momentos de protagonismo para além do segundo filme solo do Captian America, já traz consigo um background muito estruturado e muito mais desafiante para explorar. A introdução na série vai muito ao encontro do que vimos no regresso de Steve Rogers a esta realidade que conhecemos. Mas a base do personagem é outra, e em alguns pontos encontramos o mesmo processo de adaptação mas invertida, com Bucky a lutar com os seus próprios ódios, com as vinganças. Mas essa camada em que o personagem tenta vir ao de cima nesta depressão que o acompanha é mais um ponto que constrói essa linguagem de proximidade que a agarradiça tenta criar, é um espelho de identificação que consegue ligar-se com quem está em casa e é, também, uma forma de trazer para um público que habitualmente foge de temas mais pesados ou dos ditos dramas, um tema que é crucial para que a sociedade entenda. A saúde mental é algo que cada vez tem de ser mais debatido, que tem de ser retratado e trabalhado, com todos os públicos e é excelente ver como há um olho clínico da parte da Marvel em saber exatamente o que é que precisa de ser visto e discutido e com uma capacidade única de introduzir isso na história sem desvirtuar os personagens, sem desconstruir o universo, num exemplo de coerência com o qual a industria ainda tem muito para aprender. No fundo, por mais que os dois personagens não sejam o casamento mais óbvio, são aqueles que estão num patamar de maior proximidade com o público, e chegam com um sentido de responsabilidade de trazer para os ecrãs temáticas urgentes.



Mas vamos ao ponto menos positivo, que também os há. Os vilões ou antiheróis, por mais que neste momento casem muito bem com a construção coletiva que fizemos dos negacionistas, não deixam de ser uma ameaça pouco forte num argumento que soube edificar personalidades e narrativas paralelas mas que, até este ponto, não soube ainda dar um contraponto à altura do que o texto pede. Obviamente são escolhas para uma side story, porque em momento nenhum vão ser o principal foco ou a principal mensagem que nascerá de The Falcon and the Winter Soldier, mas não deixa de empobrecer um guião que está recheado de acertos. Contudo, estamos a falar da Marvel, e há sempre a sensação de que tudo o que aparece na história nos vai acabar por surpreender. Por outro lado, temos o arco do novo Captian America, que no segundo episódio percebemos que foi desenhado de forma perfeita. Wyatt Russell tem sim o carisma de vilão, nas primeiras cenas já conseguimos sentir aquele desprezo necessário para que o personagem faça sentido, mas sem que nunca se assuma inteiramente como um vilão. Não é um Loki a quem perdoamos tudo o que diga ou faça, mas também não chega a ser uma pessoa capaz de criar repulsa. No fundo, é o texto a deixar-nos propositadamente no limbo para não nos deixar antever o que aí vem e para, no fundo, deixar fluir o melhor marketing que tem: As teorias dos fãs. Tendo em conta que temos, até agora, vilões que ainda não convencem, as apostas vão todas para que seja Wyatt Russell o grande ponto de viragem da série, se bem que depois das surpresas que Agatha nos trouxe em WandaVision, a Dr. Christina Raynor também consegue deixar-nos com um pulga atrás da orelha em relação à sua personagem.


Em resumo, The Falcon and the Winter Soldier, tem o arranque de um filme de ação, tem o drama colocado pelas cenas que na ditadura do tempo do cinema ficam habitualmente de fora e que são tudo aquilo que os fãs sempre desejaram ver, e tem um desenvolvimento mais lento, sem perder ritmo. O facto de termos duas séries da Marvel no Disney+ com extremos tão diferentes só comprova a riqueza do universo, e prova que sabem o que estão a fazer. Do lado técnico está tudo exatamente como esperávamos, com uma qualidade de ponta, no elenco há margem para evolução quanto a Anthony Mackie, enquanto temos Sebastian Stan a fazer a corrida completa do espectro e a destacar-se na comédia e no drama numa velocidade abismal que voltam a provar que é um nome bastante desvalorizado em Hollywood em comparação com o talento que tem. Até agora, ao final destes dois episódios e com quatro ainda pela frente, a sensação é de que já aprendemos muito sobre os protagonistas, mas que ao mesmo tempo ainda não vimos nada da história que a série nos quer realmente contar. Esperávamos que Zemo e Sharon já tivessem chegado por esta altura e a curiosidade só aumenta. Será que Sharon sabe o que de facto aconteceu com Steve? O que aconteceu com a personagem depois de Civil War? Há centenas de questões para resolver com esta personagem e a tendência é de que surjam ainda mais, enquanto esperamos que a Marvel saiba explorar o talento de Emily VanCamp da mesma forma que já vimos em outras séries, como Revenge ou The Resident, mas que nunca teve o palco à sua medida no MCU. E Zemo? Será que a relação será tão conturbada quanto achamos? Será que não serão aliados de guerra? Será Zemo um futuro Avenger? Terá ele possibilidades de ser um par de Loki numa jornada de redenção? As questões sucedem-se e a riqueza nas possibilidades para expandir o esse universo só prova que o trabalho da Marvel Studios está a ser perfeito e que o sucesso é mais que merecido. Que chegue sexta-feira, e que as surpresas sejam em crescendo como em WandaVision, porque nesse ponto merecemos que as duas sejam iguais.