Header Ads

Francisco Beatriz veste a pele de Sebastião de Noronha em “1618”


Por cá ainda não tem data de estreia anunciada, mas lá fora 1618 é uma das longas-metragens que tem colocado Portugal nas bocas do mundo. A sequência dos eventos de A Luz de Judá abraça o período da inquisição, com um olhar histórico sobre a realidade da comunidade judaica no século XVII. Dias depois de ter conquistado mais um prémio como Melhor Ator Secundário no World Premiere Film Awards, Francisco Beatriz esteve à conversa com o nosso site e conta um pouco mais sobre o que podemos esperar da nova longa-metragem do realizador Luís Ismael, que soma já mais de vinte galardões ao redor do mundo.

Depois de uma primeira aventura na viagem histórica de A Luz de Judá, Francisco Beatriz volta a repetir o papel de Leonardo de Noronha, desta feita com a missão de instituir a Santa Fé na cidade do Porto. Ao Fantastic, o ator apresenta um pouco mais sobre a essência deste homem. Foi o Inquisidor responsável pela visitação que houve na cidade do Porto. A pessoa responsável de implementar a lei de perseguição aos judeus e de todas as heresias judaizantes. Mas na verdade, apesar da tarefa terrível que tinha em mãos ele era um homem recto, um homem da lei e que acima de tudo a queria ver aplicada de uma forma justa e correcta para todos os cidadãos”, defende o intérprete que nesta produção da Lightbox se opõe a António, personagem de Pedro Laginha, numa recriação de um passado que a cultura portuguesa tenta esquecer.

Em pleno século XXI, 1618 propõe-se a recriar ambiente, costumes e toda uma atmosfera que dêem ao espectador uma visão real do que realmente se passou na época em que os eventos se passam. O relato inspirado em facto verídicos preservados em textos da altura foram um dos instrumentos de trabalho fundamentais para a produção que investiu até ao mais ínfimo detalhe na veracidade do contexto apresentado. Para além da transformação física houve todo um trabalho de pesquisa sobre a época, sobre o próprio D.Sebastião de Noronha, sua família, as suas posições politicas, todo o seu percurso. Fiz um estudo sobre a Inquisição, muitas entrevistas com membros da Igreja que me deram uma visão mais intima de como funcionava a Inquisição e do percurso hierárquico dos seus membros”, revela-nos Francisco Beatriz.

Para o intérprete um dos grandes desafios foi criar uma estrutura de defesa para a sua personagem, de forma a que a sua representação se despisse das ideias pré-concebidas. “Houve um esforço em não julgar as acções da personagem. É chocante olhar para trás e observar as atrocidades que foram feitas naquela altura aos judeus Portugueses, por isso tive de fazer sempre um trabalho de procurar de onde vieram as suas motivações e escolhas sob um olhar adaptado ao séc.XVII e não XXI”, confessa o ator. O trabalho de construção, apoiado pela realização de Luís Ismael ajudou a que no final das contas a história fosse contada exatamente como se passou na realidade, dando uma perspetiva educativa ao público que poderá não estar tão familiarizado com este período histórico. 

É muito comum nós falarmos do poderio do Império Português no período do pós Descobrimentos e da nossa prosperidade e espírito aventureiro mas a parte das atrocidades infligidas às nossas gentes que tinham somente tinham uma religião diferente é muitas vezes esquecida quando se fala da História de Portugal. É vital olharmos para trás e aprender com os erros do passado. Verificar as razões políticas e financeiras que levavam os poderes instalados a perseguir as minorias, algo que hoje volta a ser bem visível em todo o mundo”, ressalva Francisco Beatriz ao Fantastic. O projeto, que conta com o apoio de comunidades judaicas nacionais estreia-se primeiro em Israel, e só depois em Portugal, mas é em circuito fechado que tem ganho destaque. 

Apesar das sucessivas vitórias em Festivais de Cinema e de conquistado espaço em mais de 30 seleções internacionais, Francisco Beatriz lamenta a falta de expressividade que o projeto e a sua aclamação têm tido na comunicação social. Eu sabia que o filme tinha bastante qualidade mas não posso dizer que estava à espera de tantos prémios em tantos festivais diferentes. É mais uma prova da qualidade do Luis Ismael como realizador e de onde o cinema Português pode chegar. Mas tenho de dizer que ao mesmo tempo me entristece um pouco a falta de divulgação destes feitos por cá. Fico um pouco com a sensação que em Portugal os prémios e os galardões internacionais só contam quando são ganhos por alguns artistas da nossa praça”, refere o ator, que contracena com nomes como Heitor Lourenço, Paulo Manso, Catarina Lacerda, Afonso Pacheco, Rui Neto, Pompeu José, Hugo Olim, Jorge Pinto, Nuno J. Loureiro e Mafalda Banquart, que merecem os mais rasgados elogios de Francisco, caracterizando a equipa do projeto com uma “generosidade sem limites” que ajudou a que o objetivo do filme fosse alcançado.

A cidade do Porto e o Mosteiro de Arouca servem de cenário à longa-metragem, mas há também cidade cinematográficas construídas propositadamente para a produção, que promete romper com algumas barreiras habituais na ficção nacional. Os cenários como vão poder ver estão incríveis, imponentes, fortes. Foi muito fácil para mim como actor transportar-me para a época e focar-me apenas no meu trabalho e no dos meus colegas porque tudo foi feito com uma atenção ao detalhe fantástica”, adianta. As construções deverão seguir os mesmos moldes dos que A Luz de Judá apresentou, mas as inovações técnicas prometem estender-se, também, ao Som, Efeitos 3D e grafismo da película.

Em breve, Francisco Beatriz vai poder ser visto numa outra aventura histórica, desta vez na RTP numa co-produção que pretende contar a história de Fernão Lopes de Castanheda, um soldado desconhecido por muitos mas que terá desempenhado um papel fundamental na rebelião de Goa contra o Império Luso. Ao nosso site, o ator não esconde que estas viagens ao passado do nosso país são algo que enquanto ator o cativa, recordando a visão que o estrangeiro tem sobre a cultura nacional. Como pode não cativar? Portugal tem uma História riquíssima em feitos, em peripécias, em momentos que merecem ser contados e poder ser um veículo para que essas histórias se conheçam é algo que me dá "um quentinho" no coração muito grande. Quando vivia nos Estados Unidos falava muito em fazer filmes sobre Portugal e os Portugueses, por isso sempre que participo num projecto deste género sinto que estou a concretizar um sonho”, confessa o interprete que na produção do canal estatal vai contracenar com Diogo Morgado, Anabela Moreira, João Reis, Edgar Morais, Fernando Rodrigues, Manuel Wiborg, Paulo Calatré, João Craveiro e Pedro Ferreira num argumento assinado por André Mateus.