Crónica. "O declínio das salas de cinema em Portugal em tempos de COVID"
Fortemente criticada pela Associação Portuguesa de Defesa de Obras
Audiovisuais, esta medida é vista como uma “violação de dispositivos constitucionais”,
confessa Paulo Santos, diretor-geral da associação. A venda de refrigerantes e
comida era um dos poucos suportes da atividade, que agora se vê ainda mais desamparada
com as novas restrições. Em protesto para com a medida, um dos argumentos de Paulo
Santos é o facto de se poder comer nos aviões sem distanciamento social e nos
restaurantes, “com distanciamento inferior ao que existe nas salas de cinema”.
No decreto-lei lê-se: "Nas áreas de consumo de cafetaria, restauração
e bebidas destes equipamentos culturais devem respeitar-se as orientações
definidas pela DGS para o setor da restauração, não sendo permitido o consumo
de alimentos ou bebidas no interior das salas de espetáculo ou de exibição de
filmes cinematográficos”.
Muitos cinemas correm agora um maior risco de encerrar por todo o país pois
não conseguem suportar as rendas. Antes da pandemia, as salas de cinema portuguesas já registavam
quebras de receitas significativas que foram agravadas pelo impacto dos confinamentos e restrições. Em janeiro deste ano registava-se uma média de 1 milhão de
espectadores nas salas de cinema. Depois, este número baixou para uns meros 200
mil em março e registou um total de 0 espectadores em abril e maio,
apresentando uma descida de 100% relativamente aos três primeiros meses do ano.
A partir de junho as salas de cinema começaram a poder ser frequentadas e podia ver-se um crescimento lento, mas positivo. Os números continuaram a subir até setembro mas em outubro houve novamente uma redução, registando-se apenas 249 mil espectadores, representando uma descida de 82,1% relativamente ao período homólogo - os dados são do Instituto do Cinema e do Audiovisual.
No entanto, as salas prontamente desenvolveram algumas opções para
tentar combater as dificuldades enfrentadas. Foi o caso dos UCI Cinemas que
possibilitaram desde inícios de novembro a reserva de uma sala de cinema para
um evento privado, com lotação de até 20 pessoas. O serviço custa 220 euros por
grupos de 20, ou seja, 11 euros por pessoa.
Inseridos nesta oferta estão as salas no El Corte Inglés, em Lisboa; no
UBBO, na Amadora; e no ArrábidaShopping, em Vila Nova de Gaia. Os espaços podem
ser utilizadas para outros eventos sociais como festas de aniversário,
conferências, reuniões, entre outros. Todas as regras de segurança sanitária e de
distanciamento social estão asseguradas.
Outra medida tomada pelas salas de cinema foi suprimir as últimas sessões
diárias e anteciparem horários para as 20h00. António Paulo Santos, diretor-geral
da Associação Portuguesa de Defesa de Obras Audiovisuais (FEVIP) alertou em Novembro que “se estas empresas encerrarem, e estamos a falar de mais de 50% das
salas de cinema que podem encerrar até ao final do ano, deixamos de ter uma
oferta eclética e cultural a nível do território nacional e que os portugueses
gostam de ver”, aqui citado pelo “Observador”.
O diretor da FEVIP realçou ainda os custos abissais da exibição em Portugal
e pediu medidas como financiamentos com taxas de juro baixa para as entidades
exibidoras e uma flexibilidade efetiva nas rendas de aluguer de espaços,
maioritariamente localizados em centros comerciais.
Resta a esperança de tempos mais risonhos para as salas de cinema portuguesas. Esta, que está de mãos dadas com a necessidade de apoios que vai aumentando a cada dia que passa. Paira no ar a questão de quando será possível voltar aos cinemas 'mais ao menos' normalmente, se estes estiverem abertos. Por enquanto, a grande tela permanece maioritariamente a negro.
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