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Crónica. "O declínio das salas de cinema em Portugal em tempos de COVID"

Foto: Felix Mooneeram

“É proibido comer pipocas nos cinemas em Portugal”, eis uma frase que dificilmente se esperava ouvir há um ano, ou mesmo uma frase que se esperava ouvir de todo. Esta proibição encontra-se no decreto-lei que regulamenta o novo estado de emergência, em vigor desde o passado dia 24 de Novembro. Está, portanto, proibido pela DGS o consumo de pipocas e refrigerantes dentro das salas de cinema, de forma a reduzir o risco de contágio do novo coronavírus. Para o setor, é mais um duro golpe que é descrito como “a cereja no topo do bolo para acabar com a atividade”.

Fortemente criticada pela Associação Portuguesa de Defesa de Obras Audiovisuais, esta medida é vista como uma “violação de dispositivos constitucionais”, confessa Paulo Santos, diretor-geral da associação. A venda de refrigerantes e comida era um dos poucos suportes da atividade, que agora se vê ainda mais desamparada com as novas restrições. Em protesto para com a medida, um dos argumentos de Paulo Santos é o facto de se poder comer nos aviões sem distanciamento social e nos restaurantes, “com distanciamento inferior ao que existe nas salas de cinema”.

No decreto-lei lê-se: "Nas áreas de consumo de cafetaria, restauração e bebidas destes equipamentos culturais devem respeitar-se as orientações definidas pela DGS para o setor da restauração, não sendo permitido o consumo de alimentos ou bebidas no interior das salas de espetáculo ou de exibição de filmes cinematográficos”.

Muitos cinemas correm agora um maior risco de encerrar por todo o país pois não conseguem suportar as rendas. Antes da pandemia, as salas de cinema portuguesas já registavam quebras de receitas significativas que foram agravadas pelo impacto dos confinamentos e restrições. Em janeiro deste ano registava-se uma média de 1 milhão de espectadores nas salas de cinema. Depois, este número baixou para uns meros 200 mil em março e registou um total de 0 espectadores em abril e maio, apresentando uma descida de 100% relativamente aos três primeiros meses do ano.

A partir de junho as salas de cinema começaram a poder ser frequentadas e podia ver-se um crescimento lento, mas positivo. Os números continuaram a subir até setembro mas em outubro houve novamente uma redução, registando-se apenas 249 mil espectadores, representando uma descida de 82,1% relativamente ao período homólogo - os dados são do Instituto do Cinema e do Audiovisual.

No entanto, as salas prontamente desenvolveram algumas opções para tentar combater as dificuldades enfrentadas. Foi o caso dos UCI Cinemas que possibilitaram desde inícios de novembro a reserva de uma sala de cinema para um evento privado, com lotação de até 20 pessoas. O serviço custa 220 euros por grupos de 20, ou seja, 11 euros por pessoa.

Inseridos nesta oferta estão as salas no El Corte Inglés, em Lisboa; no UBBO, na Amadora; e no ArrábidaShopping, em Vila Nova de Gaia. Os espaços podem ser utilizadas para outros eventos sociais como festas de aniversário, conferências, reuniões, entre outros. Todas as regras de segurança sanitária e de distanciamento social estão asseguradas.

Outra medida tomada pelas salas de cinema foi suprimir as últimas sessões diárias e anteciparem horários para as 20h00. António Paulo Santos, diretor-geral da Associação Portuguesa de Defesa de Obras Audiovisuais (FEVIP) alertou em Novembro que “se estas empresas encerrarem, e estamos a falar de mais de 50% das salas de cinema que podem encerrar até ao final do ano, deixamos de ter uma oferta eclética e cultural a nível do território nacional e que os portugueses gostam de ver”, aqui citado pelo “Observador”.

O diretor da FEVIP realçou ainda os custos abissais da exibição em Portugal e pediu medidas como financiamentos com taxas de juro baixa para as entidades exibidoras e uma flexibilidade efetiva nas rendas de aluguer de espaços, maioritariamente localizados em centros comerciais.

Resta a esperança de tempos mais risonhos para as salas de cinema portuguesas. Esta, que está de mãos dadas com a necessidade de apoios que vai aumentando a cada dia que passa. Paira no ar a questão de quando será possível voltar aos cinemas 'mais ao menos' normalmente, se estes estiverem abertos. Por enquanto, a grande tela permanece maioritariamente a negro.