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COMING UP | Emily in Paris

 

As paisagens de Paris, um humor inteligente e Lilly Collins. Este é o cocktail perfeito que a Netflix conseguiu reunir é quase nos leva às lágrimas de tão bom que é! Depois de Katy Keene ter tentado no subtexto entrar pelo glamour de The Devil Wears Prada, Emily in Paris é o upgrade que quase supera o original do género, ou pelo menos dá-lhe o banho de contemporaneidade que nos agarra novamente a uma história como esta. Não há Cinderelas aqui e Emily já é uma profissional feita quando aterra neste novo lugar, mas há toda a beleza de uma primeira vez a encher-nos os olhos e fazer-nos apaixonar por toda esta loucura. A comédia está lá, mas é muito mais que isso é talvez seja esse o maior segredo de Emily in Paris, a capacidade de chegar a vários públicos e de conseguir que várias pessoas se apaixonem por uma trama que é descomplexada. O autor teve visão, o embrulho é perfeito e melhor que tudo isso é sentir, na hora em que estamos a ver, que as nossas expectativas não são defraudadas e que no final das contas é tudo realmente muito bom. Este é um sucesso, com todo o material para vingar e só esperemos que não deixem de arriscar porque é uma aventura com pano para mangas que merece uma, duas, três temporadas. A este ritmo? Dificilmente cansa. Já te deixaste apaixonar por Emily? Faz as malas e vem connosco na viagem deste Coming Up porque nós prometemos dar-te razões para isso! 

Na duração, na atuação e no tom, as agulhas acertaram-se e esta não é uma série que nos passe de barato, é alta costura de entretenimento com a capital francesa a servir de marketing perfeito. Quem não gosta de um bom passeio na romântica Paris? Até podemos ter uma cultura representada de forma estereotipada, mas na visão superficial de quem já foi turista em França é fantástico ver como todas as analogias encaixam no ponto certo. Todos os pormenores que saltam à vista numa primeira impressão estão na série e por mais dedos que se lhe apontem a verdade é que quem já calçou os sapatos de Emily já trouxe na bagagem uma ou duas histórias parecidas com as que servem de piada na série para contar aos amigos. Desconstruindo toda a seriedade, até porque estamos a falar de uma comédia, Emily in Paris brinca com a cultura com uma linguagem suficientemente inteligente para ofender apenas os que procuram ver maldade, para entrar numa brincadeira é preciso saber brincar por isso temos de nos deixar levar com Emily. E há tão mais na série do que piadas sobre dondocas, sexo ou cocó de cão. Mas mesmo isso ajuda a criar uma relação com quem já passou de visita. Sejamos sinceros até numa visita a outra cidade de Portugal vamos arranjar defeitos, por isso Emily torna-se facilmente no melhor guia turístico da capital francesa. Vamos ver as vistas e aproveitar o tempo. Até porque os episódios são orquestrados de forma tão exímia que conseguem fluir de forma que queiramos mais, e isso é algo extremamente raro nos dias de hoje, mesmo nas melhores comédias produzidas recentemente. Só neste ponto o show já conquistou um fã aqui.


E preparem-se porque a atuação de Lily Collins é de nos deixar rendidos. Ela não reinventa a roda nem vai a lugares nunca antes vistos, contudo a ingenuidade da personagem não conseguia assim tão facilmente melhor pessoa para a passar para o lado de cá do ecrã. Da mesma forma que somos tocados pelo drama mais cru, Lily Collins consegue arrebatar-nos com o seu talento natural para nos deixar apaixonados. É quase impossível que no final do primeiro episódio não estejamos já a desejar o melhor do mundo para ela. É tudo isto sem que ela caia no clichê da desgraçadinha ou da tonta que depois é uma fera à frente dos negócios. É isso que a torna diferente, que a torna humana e nos aproxima. É um ponto acima de uma Betty e de uma Andy, mesmo que existam claras referências dos universos de Ugly Betty e The Devil Wears Prada. Nós vemos a personagem crescer ao longo da trama a uma velocidade tão rápida quanto a da sua página de Instagram, mas sem que nos pareça acelerado. O seu lado romântico é uma trapalhada, porém damos um desconto pelo arraso que dá no que ao trabalho diz respeito. É ficção? Sim, mas no contexto de Emily in Paris não faria sentido que a história fosse menos colorida do que é porque só ganha com essa distância entre essa pequena fantasia e o mundo real porque nos faz sair da nuvem negra das preocupações do dia a dia para nos oferecer entretenimento puro.

Leve, mas envolvente, toda a trama desta season one é o equilíbrio perfeito entre a comédia e o drama nos timings certos para que nenhuma se sobreponha ao ponto de tornar Emily in Paris em algo sem sentido. Pelo contrário, até mesmo o romance foge das linhas básicas e se torna em algo muito mais realista. Não há ódio de estimação, nem ninguém que seja puramente vilão, e isso dá a toda a história alma, por ser humana. Mesmo quem acha que tem uma vida desinteressante se tivesse uma câmara sempre atrás até que ponto é que não teríamos momentos tão hilariantes quanto os de Emily? Ser turista não é fácil e só às nossas tentativas para falarmos uma língua que não é a nossa já rendem um manual completo de piadas. Juntando isso às contracenas perfeitas do elenco com destaque para a harmonia criada entre Lily Collins e Ashley Park, já temos motivos de sobra para tornar esta nova série num dos nossos guilty pleasures favoritos. Até porque é tão fácil entrar na vida destes personagens, a grande chave de esta ser uma das séries em que entramos sem resistência está na maneira como as figuras nos são apresentadas descomplexados, mas credíveis e humanas. Sylvie é uma adorable bitch com menos bitchy e mais como uma mulher tipicamente francesa mergulhada no glamour típico da high fashion culture. Julian é a típica representação LGBTQ+, mas mesmo com todos os trejeitos não foge demasiado para algo estereotipado, até porque a linguagem que assume é em tudo semelhante à de personalidade do mundo da moda com a mesma orientação sexual. Camille tem uma posição ingrata, contudo torna-se tão admirável que não chega a poder ser considerada antagonista quanto mais vilã. Gabriel é o moço bonito, mas é muito mais que isso, os valores que levanta neste universo onde tudo é esbanjamento e dinheiro são uma jogada crucial para trazer o guião à Terra, mesmo que a história de amor com Emily seja muito próxima de um conto fadas dos novos tempos. Sobre Mindy nem precisamos de comentar, vamos só dizer que precisamos de uma Mindy nas nossas vidas.

O digital é o upgrade que falamos em cima. Num mundo que já vive sob a nuvem negra do lado mau das redes sociais é giro voltar a descontrair e tirar o melhor partido deste universo. Emily in Paris fá-lo na perfeição da maneira como surge do nada uma influencer em frente aos nossos olhos também mostra que as melhores ideias vêm dos lugares mais simples, basta ter o sentido de humor aguçado na direção certa para que tudo surja. Assim nasce uma estrela, e uma estrela que nos fala de marketing, esse mundo que todos ouvem falar mas que pouco conhecem a fundo, está talvez não seja a trama que melhor aborda o tema mas na sua visão cor-de-rosa entrega-nos umas boas luzes do que são as estratégias que melhor funcionam hoje e ainda toca nos temas mais marcantes da atualidade, porque marketing é isso, é saber sentir o público. Uma excelente forma de nos vender a série como algo atual. É mesmo a relação com quem vê não podia ser melhor, o episódio seis está cá para provar isso com a referência a Gossip Girl a servir de mimo aos fãs e a guerra entre o que é brega e moda. Um debate de ideias na medida certa e com a leveza suficiente para nos deixar a pensar sobre o assunto sem nos apercebermos que o estamos a fazer. É muito isto que acontece em cada episódio, a moral da história vai sendo absorvida entre risos e cenários apaixonados. Vai de uma ponta à outra com a subtileza suficiente para não nos deixar com um gosto maçador, mais um ganho que a curta duração dos episódios nos traz. Uma boa prova de como a comédia funciona melhor com menos tempo do que em algo mais alargado. São extremos, mas mesmo alguns dramas também podiam tirar daqui uns exemplos. 

Dentro do género Emily in Paris termina a season com excelente taxa de aprovação. Sem resistência, esta é uma viagem em primeira classe para mais uma boa opção do catálogo da Netflix. Quem gosta do ambiente de The Devil Wears Prada este é passo seguinte na abordagem ao mundo da moda e Paris torna tudo ainda mais glamoroso, o casamento perfeito em que ganhamos uma vista guiada a um choque de culturas e do tradicional versus moderno. A essência está toda lá e depois de Emily quem ainda tinha dúvidas sobre o talento de Lily Collins está pronto para começar uma maratona nas produções de uma das novas rising stars de Hollywood. A série conquista na leveza, na beleza e mesmo que a protagonista tenha os seus momentos de atitudes questionáveis não consegue deixar de ganhar espaço no coração de um bom romântico. A segunda season até pode não estar confirmada, mas este é um show que exige uma continuação para ontem. Bem-vindos ao que se pode considerar o avant-garde das comédias recentes. Mesmo com um último capítulo mais puxado para o drama, a história de Emily, Sylvie, Mindy e Gabriel é, nesse ponto da narrativa, tão viciante que mesmo quem não suporta um bom clichê já não tem a coragem de se desligar. No final das contas Emily in Paris tem o encanto e a inocência de quem soube juntar os ingredientes certos na mesma receita de sucesso. Paris já é a cidade do amor e Emily foi a rima perfeita e conquista mais um lugar no top dos melhores lançamentos da Netflix em 2020, e isso já diz muito porque este está a ser um ano bem concorrido! Mais um aplauso para uma série que chega numa altura em que não podemos viajar fisicamente, mas que nos consegue transportar tão bem para outro país e devemos todos agradecer que Emily tenha sido a escolhida para ser os nossos olhos em França!