COMING UP | Sex Education
Tão sexual
quanto o título obriga, mas sem perder a compostura. Sex Education é a
série que navega o limbo entre o too much e o educativo, e nesta segunda
temporada só se volta a afirmar como série que nos vicia. É muito mais do que
sexo, fala de tolerância, de enfrentar os problemas que qualquer teenager tem
na “flor da idade”. Para cada um existe um pequeno “fim do mundo” que vai
florescendo ao longo da temporada que explora temas bem mais complicados que a
primeira e “piscando o olho” aos problemas dos adultos. Ser adolescente no tom
é “ok”, o exagero que atribuímos aos problemas destas idades tornou-se
a porta de entrada perfeita para mostrar que muitas das descobertas e dos dramas que enfrentamos nesta fase dizem muito sobre o tipo de adultos que
vamos ser. Ousadia não falta, nem na nudez nem nos temas, mostrando que aqui há
muito mais de serviço público do que o ar cómico faz prever.
Além de
apresentar as respostas sem pudores às questões que muitos de nós já fizemos ao
Google sem que ninguém soubesse, Sex Education volta a afirmar-se como
uma série inclusiva e uma representação autêntica de tudo o que há no mundo
real. Nada é esquecido, num trabalho de argumento que só melhora de episódio
para episódio e que faz desta segunda season muito mais fácil de maratonar
que a primeira. É o mesmo ritmo com novas personagens sem se ter perdido o
fio condutor nem deixando de lado o novelo que nos apresentaram antes. É jogada
de mestre que mostra mais uma vez a qualidade da Netflix em não se perder por
caminhos secundários nas suas produções originais de maior sucesso. Nunca deixa
de ser o sexo o principal motor da série, até porque é isso que move a cabeça de
grande parte dos jovens que a série aborda, mas é apenas um isco para nos falar
mais uma vez de Bullying, dos desafios da parentalidade e da comédia que
são as tendências dramáticas dos adolescentes. Mais do mesmo? Podia ser, se a
forma como nos é apresentado não fosse tão diferente e ao mesmo tempo próxima
da realidade.
Há muitos
romantismos e obviamente algumas situações são completamente pura ficção, mas muitas
das questões são casos bem realistas mostrando que mesmo que a diversidade
esteja no topo das discussões mundiais ainda sabemos muito pouco do que
significa realmente ser diferente e que mesmo os que são dados como comuns têm
as suas pequenas diferenças. Exagerado? Ou apenas a forma mais colorida do
gigante do streaming ir ao fundo da questão sem se tornar demasiado
séria ou chata? Afinal de contas, debitar matéria não é divertido e resulta em
pouco sucesso. Mas casos completamente inusitados, ridículos ou situações que
podiam dar espaço para se criarem memes torna tudo muito mais fácil de
absorver. Mesmo que para isso sejam necessários alguns clichês básicos, como a
paixão de Adam por Eric. É algo quase impossível de acontecer, parece-nos algo
muito forçado pelos autores, mas mesmo assim serve de base para mostrar que o Bullying
se baseia muitas das vezes na baixa autoestima do agressor ou até numa pequena
inveja. É o outro lado do Bullying com o qual a maioria das produções
não consegue lidar com clareza sem tornar o carácter do personagem ridículo ou
oco. Da mesma forma que Eric deixa de ser o personagem estereotipado como uma
espécie de Síndrome de Estocolmo para dar lugar a alguém que realmente percebe que
tem valor próprio e que merece ser amado. Tal como acontece com Ola, que se vai
descobrindo depois de ter entendido que a linha entre a amizade e o namoro às
vezes pode ser confusa.
O mesmo serve
para Jackson que tem um dos melhores desenvolvimentos desta season
mostrando que ser o mais popular nem sempre garante um futuro risonho, e que
mesmo que tudo pareça desenhar-se de forma a que venha a ser um presidente ou
um atleta medalhado, como Aimee o descreve na primeira temporada, tudo pode
acabar de um momento para o outro. Mesmo no auge ter um plano de reserva é
sempre a melhor opção, sobretudo para quem vive na bolha da perfeição.
Perfeição essa que nos leva a um dos principais arcos desta nova leva de
episódios: As expectativas. Todos queremos ser excelentes, e muitas das vezes
acabamos por fazer as coisas para agradar e não por nos sentirmos bem connosco.
É uma lição, também, para os pais e da forma como respeitar os filhos nas suas
escolhas e nas suas opções torna tudo bem mais fácil. Esta é sem dúvida uma história
que precisa de ser vista pelos pais, porque é na verdade uma carta aberta sobre
como entenderem os seus filhos.
Tudo isto deixou
pouco espaço para Maeve brilhar, mas mesmo assim, o seu núcleo trouxe para a
mesa dois grandes plots: A reconstrução de uma família quando já tudo
foi dado como perdido, a rejeição da sociedade porque nos prendemos a ideias
pré-concebidas sem darmos segundas oportunidades, e ainda o encaixe de alguém
com deficiência num grupo. Sim, em pleno século XXI ainda é importante alertar
para que a alguém com alguma limitação também pode ser divertido, também pode
ser parte de uma equipa, e que mesmo com a essa ressalva continua a conseguir
ser um parceiro tão grande como qualquer outra pessoa. A série consegue voltar
a relembrar-nos disto, mesmo que de uma forma subtil sem ser necessária alguma
introdução ou situação embaraçosa. É uma chegada de uma nova pessoa, igual a
qualquer outra, que passa por problemas diferentes, porque sim existem
problemas, mas que continua a ter o mesmo espaço que qualquer outro personagem.
Foi o equilíbrio feito no ponto certo.
Bem, Asa Butterfield
é mais um dos casos em que o cinema nos faz crescer com um ator. A quem o
conheceu como um simples rapaz pela mão de Martin Scorsese e o viu viver um
amor impossível em The Space Between Us, chega a hora da parte mais
complicada: O sexo! Embaraçoso? Nada que a comédia não resolva. Porque no
fundo, Sex Education é muito isto: Trazer as questões mais embaraçosas,
os temas mais polémicos, os dramas de qualquer um, com a leveza que torna tudo
muito mais simples. A segunda temporada conseguiu não se trair a ela mesma, mantendo
exatamente a fórmula que usou na primeira, sem deixar de lado a nudez
necessária, os tabus, e com a introdução de mais personagens adultas com
destaque só podemos esperar que a terceira season será um manual ainda mais
composto. Bem-Vindos à história que todos deveríamos ter visto na nossa adolescência!
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