COMING UP | The Order
Na edição do Coming
Up dedicada à primeira temporada de The Order falámos do jogo de
referências interessantes que a série junta. Desta vez mantêm-se as
referências, porém perde-se o interesse por se resumirem a algo básico e
cruzarem a linha do clichê para oferecer um argumento que parece ter-se
sustentado em fórmulas que foram testadas e que funcionam. A segunda temporada
é insonsa e traz à luz os defeitos da série que foram mascarados pela sorte de
principiante. The Order vem sem rumo e cheio de empecilhos que ditam que
podemos estar próximos de um cancelamento precoce. Mas comecemos o texto por um
exemplo de como apesar de navegar num mar referências não soube aproveitar os
conceitos preliminares das outras histórias. Num dos plots, o grupo de
Cavaleiros, ou seja, a estirpe de lobisomens, despede-se de um dos seus
membros. O luto quase não existe, e passam-se várias sequências de aventuras
até que decidam realmente lutar para salvar a amiga. Só para nos lembrarmos de
algumas tramas sobrenaturais, podemos contabilizar quantas vezes Sam e Dean já
morreram, literalmente para se salvar? Ou quantas vezes Alaric ou Matt da saga
de The Vampire Diaries já foram ressuscitados? Bom, não queremos uma cópia,
mas pelo menos os bons exemplos de texto poderiam ter sido adotados. Ou será
que tudo isto foi feito para estender a cruzada da salvação para ter algum
drama que sirva de cola a toda a sequência de episódios? E o luto? Simplesmente
não existe porque convenhamos que Lilith ainda não suscita interesse suficiente
ao público, tem um peso quase nulo na intriga e ninguém precisa de mais uma
coadjuvante quando temos como secundária Gabrielle Dupres a roubar todas as
cenas. Há muitas questões e problemas na segunda season de The Order e
nós vamos discuti-los nesta edição!
Num universo
onde tudo é possível e as possibilidades são tão infinitas quanto às regras da
magia não é um pouco clichê cair no recurso da amnésia para garantir um plot
de uma nova temporada? Essa é a primeira questão que surge em The Order na
segunda leva de episódios. Felizmente os argumentistas conseguem entender que
essa seria uma proposta básica demais até para um show que se pretende
teenager. Percepção é, supostamente, a chave para entender as convicções e
para desconstruir vilões e “bonzinhos”. The Order chega desde o primeiro
capítulo com a bandeira de ser mais profunda nesta nova season,
focando-se menos nos mistérios que envolvem as sociedades secretas, mas sim em
contextualizar e humanizar os personagens que nos apresentou na primeira
temporada. A premissa é simples: Um braço de ferro do poder das duas fações,
sejam bruxas ou lobisomens, a verdade é que cada um defende as suas crenças,
até onde é que aquilo em que acreditam justifica as suas ações? Mas
isto tudo é muito bonito no papel, porque ao fim de cinco episódios já
conseguimos concluir que em vez de nos dar um contexto temos apenas um bilhete
de ida para uma viagem sem rumo e sem nexo que vai dar poderes extraordinários
a personagens que ainda nos primeiros capítulos eram aprendizes. E sim, é
inevitável comparar com Harry Potter, por muita força que o jovem bruxo
tenha, pelo menos é-nos entregue que aquele poder é fruto de algum esforço ao
longo dos anos, que há de facto algum trabalho que sustente o que está no ecrã.
Em The Order todos aparentam ser sobredotados e de meros alunos
ascenderam a figuras versadas no mundo sobrenatural capazes de derrubar até os
seus líderes em alguns momentos. No entanto deixam-se, depois, amedrontar em
outras situações que, na ótica do público, são bem mais razoáveis e fáceis de
solucionar. É uma energia que se baseia no conceito de Deus Ex Machina
ao sabor de um guião que usa isso como lhe melhor aprouver.
Não chegamos a
ter medo dos vilões, vivemos na ansiedade em cada episódio como se fosse um season
final. No entanto tudo é tão voraz que não conseguimos entender os maus da fita
como imbatíveis ou como uma real ameaça. É como se se tratasse de um filler elevado
ao expoente máximo. E tudo se tratasse de uma manta de retalhos com vários
espaços branco. Todos os vilões aparentam ser uma ameaça gigante, temos até
demónios com proporções apocalípticas, mas nem esses duram mais que dois
episódios. Quando a série reduz a dimensão da grandiosidade a soluções rápidas
encontramos um grande erro de balanceamento que coloca em cheque o futuro da
trama. É um erro? Não chega a ser, todavia no futuro talvez obrigue a uma
espécie de flashpoint que elimine as forças extra que foram cedidas aos
protagonistas. O único tema que chega a ser realmente interessante na temporada
tem a infeliz ou feliz coincidência de se aproximar da realidade que vivemos
nos dias de hoje. Um vírus mágico não é uma novidade para quem acompanhou The
Magicians mas é sempre um bom mote para levantar outro tipo de discussões.
Toda a base teórica criada em torno das mutações do vírus tornou o tom um pouco
mais ameaçador e que quase salvou a temporada, não fosse o tempo dedicado ao
tema praticamente nulo, por falta de uma linha condutora que realmente
priorizasse esta questão. Era o ponto perfeito para se desfazerem os problemas
que o próprio argumento criou e trouxessem à terra os heróis que depois de
enfrentarem aquele que seria um dos piores demónios de sempre num único
episódio quase que ganharam poderes de Deuses. Sinceramente neste momento da
história qualquer ameaça será pequena para a equipa. É urgente que algo
exterior venha emendar. Uma espécie de Thanos ou se quiserem aproveitar algo
que foi introduzido, uma questão genética que traga malefícios às práticas dos
feiticeiros.
Em termos de
personagens, Vera Stone e Gabrielle Dupres foram os grandes destaques e as
únicas que realmente nos prendem à narrativa. Vera não chega a ser uma Fiona ou
Cordelia Foxx, mas certamente iria conseguir uma posição no Coven desta
irmandade. Com a graciosidade na medida certa e alguma volatilidade que nos faz
sempre ter um pé atrás na confiança que lhe atribuímos, Vera consegue fazer-nos
querer vê-la como líder da Ordem, porque apesar de dúbia, tem contexto, tem
decisões tomadas com algum humanismo, e no mundo de bruxos e lobisomens é
facilmente a personagem com quem nós conseguimos relacionar. Puxa-nos a tomar
um partido, e isso é um fardo pesado numa série o de os personagens principais
estão longe de ser os alicerces do storytelling. Até o pseudorromance
com Hamish conseguimos comprar. Na mesma sequência, Gabrielle Dupres, como já
referimos consegue roubar todos os holofotes para ela. Tornou-se na nova
favorita dos fãs com muito mérito da atriz Louriza Tronco, que soube dar toques
de Madison Montgomery e Margo Hanson à sua personagem. Até pode ter sido apenas
uma coincidência, mas parece uma clara adaptação destas personagens de séries
“mais adultas” ao universo de The Order. Na verdade, este é o típico
caso em que se vê uma clara construção de personagens e vinda de uma figura que
na primeira season se baseava a ser simplesmente irritante.
Alyssa é chata e
por mais que a atriz se esforce, a personagem é completamente limitada. Ela
sofreu lavagens cerebrais, ficou sem medo, teve uma série de momentos que
podiam de facto acrescentar algo mais ao seu arco, mas o resultado foi uma
construção morna e bem abaixo da primeira temporada. Nem a contracena com Jack
se safou, com um par romântico meloso e totalmente insosso. Alyssa sofre com
uma interpretação que não passa além da margem do aceitável e que transmite
sempre a mensagem de arquétipo de bondade, até mesmo quando troca de lado.
Precisa de mais força e fogo, e já é tarde para um novo casting, porque na
verdade mesmo sem fugir dos universos criados pela CW, há uma larga lista de
atrizes que podiam perfeitamente carregar este papel de uma forma muito mais
credível e apaixonante que Sarah Grey. De Julieta dos tempos modernos a
odiável, é aquele estereótipo de personagem que nos chega a causar raiva e nos
leva quase ao extremo de pedir para que desapareça da história, apenas para
termos a possibilidade de dar espaço a outros arcos.
The Order
cai ainda numa armadilha patética dentro dos sítios onde se inspira. A profecia
que envolve Jack é uma completa patetice. Em Harry Potter a lógica foi
abordada e serviu de exemplo. A questão é que a estratégia de JK Rowling está
replicada até à exaustão e não tem nenhum caminho novo para onde nos possa
levar. E isso só ajuda a tornar Jack num limbo entre Harry Potter e Archie
Andrews sem pender para nenhum dos lados. Contudo, o papel de paladino já está
tão batido que se torna constrangedora a falta de definição de propósito e
carácter do personagem. Dentro do mundo de fantasia Jack Morton conquista
facilmente a medalha de pior protagonista. Ele luta, ele defende valores, mas
nada que de facto o faça tornar-se inesquecível. É, simplesmente, um intermédio
de vários personagens construído a partir de uma manta de retalhos usando as
várias referências de que falamos na primeira season. No final das
contas, a continuar assim, o abismo da deceção só vai aumentar, e The Order corre
sérios riscos de se despedir de forma abrupta. São demasiados problemas para
resolver de maneira a tornarem uma nova temporada, de novo, empolgante. Ter
Gabrielle como lobimulher vai ser bonito de se ver, mas lá está, é um arco
totalmente paralelo. Talvez esta seja uma das poucas séries em que os
protagonistas poderiam evaporar-se e isso realmente favorecer a narrativa. Até
porque há várias personagens que ficaram em stand by e que são muito
mais merecedoras de tempo de antena, como Randall. Aliás Gabrielle e Randall
formam uma dupla muito mais apetecível, imaginem o cenário. Oferecemos a solução,
ainda há tempo. Nesta edição lançamos o repto: #savetheorder pelo bem
dos fãs e do legado do sobrenatural.
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