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COMING UP | Control Z



Se trocássemos o plot de um assassinato em Élite por um leak de informações pessoais dos alunos do colégio de Las Ensinas, estaríamos perante a trama de Control Z. A nova série da Netflix não é uma reinvenção do género, mas no meio de algumas falhas consegue tocar em pontos essenciais do que é a sociedade de hoje. Do mundo que vive das aparências nas redes sociais aos esqueletos no armário do que é supostamente privado e o perigoso mundo da internet, Control Z torna-se numa consulta bem interessante para entendermos as prioridades dos adolescentes de hoje, mesmo que tudo se interligue de uma forma bem ficcional e superficial. Este é mais um show virado para os adolescentes, com todos os estereótipos associados a este tipo de produções, mas que vale menção por se tornar em algo com uma mensagem urgente para os dias de hoje. Os fãs de Riverdale, Élite ou até dos enlaces perfeitos dos casais de Julie Plec em The Vampire Diares, podem esperar uma linguagem ao bom e famoso estilo CW, mas não esperem uma superprodução. É a Netflix na sua perseguição por sucessos de baixo custo sem lhes dar bases sólidas. Mesmo assim vale a pena? Vamos descobrir tudo sobre uma das séries mais comentadas do momento nesta edição!

Esta é uma série Mexicana, mas dentro do universo das produções originais da Netflix faladas em espanhol, Control Z joga numa liga diferente, porém próxima da divisão de Toy Boy, apoiando-se numa narrativa como Élite, que já é uma marca, e tentando delinear um caminho seu com um orçamento que é descaradamente menor. Contudo, apesar do elenco não favorecer em nada a imagem da série, a história consegue ser altamente cativante e faz-nos parar uns segundos para pensarmos que segredos o mundo da internet guarda sobre nós. Com um ritmo fluído e uma duração que ajuda ao desenvolvimento sem grandes fillers, Control Z, sustenta-se nos segredos, com a exposição pública de vários personagens, e mostrando que todos temos algo menos bom ou pelo menos algo que queiramos manter só connosco. A rede wi-fi de uma escola dá pano para mangas aqui, com muita ficção à mistura, porque convenhamos que é difícil encontrar ou se quer esconder, segredos tão bombásticos ou impactantes sobre a nossa vida, quanto os retratados nos primeiros vídeos libertados pelo hacker de serviço. No intermédio entre Gossip Girl e uma premissa que aplica ao mundo juvenil os famosos escândalos Anomymous ou WikiLeaks, Control Z mostra-nos o outro lado da riqueza, e todos os podres que ela traz, enquanto espelha o bullying das escolas, o poder da aparência e imagem e o estereotipo de quem sempre teve tudo e procura uma “justiça” de Robin Hood sem medir as consequências, ou se colocar no lugar do outro.


O famigerado queer bait também está presente, alargado aqui à transexualidade, que é abordada de uma perspetiva interessante apesar do mau trabalho da atriz que dá vida à personagem. Mas há mais exemplos, como Gerry, o rapaz homossexual que é o bully, mas mesmo com ele há muitas questões que não ficam respondidas e deixa no ar a hipótese de que alguns leaks não são inteiramente reais, numa primeira instância. Será ele o único caso fabricado? Teremos romance com Luís? O texto da série aborda a diferença, mas ficamos pela superficialidade e repetição do bullying, não retiramos a razão e necessidade de chamar a atenção e colocarmos todos os sinais do quão errado, ridículo e agonizante é, mas o argumento podia ter escolhido outras opções e soluções para se tornar em algo mais consistente e com uma voz dentro dos temas que agarrou. Querem abordar a transexualidade? Então podem fazê-lo entregando um contexto e embasamento que realmente cause empatia e identificação de quem está do outro lado, porque nesta primeira temporada, Isabela não foi, claramente um exemplo para a comunidade. No entanto, podemos especular que esta poderá ter sido uma estratégia de jogo, para a segunda season, entretanto já confirmada, em que provavelmente vamos debruçar-nos sobre os segredos que escondem todos os vídeos revelados. Descoberto o culpado, será esse o caminho? Até pode ser interessante, no entanto precisa-se de uma intervenção no guião para que, de facto, os assuntos não sejam atirados para o ecrã sem uma exploração ou justificação. Até pode existir medo de chocar o público que, normalmente, assiste a este tipo de projetos, porém esse não pode ser, de todo, o caso, porque é precisamente esse público que precisa de ver retratados os temas de forma fundamentada para que, enquanto sociedade, possamos todos entender que a diferença não tem de existir, somos todos humanos no fundo.

Falemos da morte, um recurso que volta a ser utilizado desta vez, com o personagem Luís, sabemos que neste tipo de séries até vermos um corpo ou até um funeral uma morte falada nunca é 100% confirmada e esse pode ser um argumento que se aplique aqui, até porque todos os fãs de tramas adolescentes já conseguem antever que, no exemplo do caso de Javier, as consequências serão, provavelmente nulas. Já ninguém compra a história de que um argumento deste género corte um dos vértices do triângulo logo na primeira season. Já temos escola disso. Mas fica a grande pergunta: Será que vão cair no erro de usar esta mesma estratégia para “ressuscitar” dois personagens? Sendo esta ainda uma fase de conquista de público, esse seria um risco que poderá ter consequências muito elevadas e que despe totalmente a veracidade da história. Convenhamos que já nos tentaram enganar com o estalar de pescoço na queda de Luís, anunciando a morte do personagem, mas o guião fez questão de reformular essa indicação para depois nos dizer: Calma, o personagem está em coma. Este possível regresso de dois personagens de uma morte quase certa, com este antecedente, vai, certamente, deitar por terra a credibilidade de algo que ainda está no arranque. Mas, também temos de ser sinceros, The Vampire Diares já nos deu um treino intensivo de como trazer personagem à vida, com o detalhe que nesse caso tratou-se de algo sobrenatural e em Control Z pretende-se algo real.


Já que tocamos no núcleo protagonista, Sofia é uma mistura do Sherlock Holmes de Benedict Cumberbatch e Patrick Jane de The Mentalist, numa versão teen e, obviamente, à escala que a produção de Control Z exige. Apesar de entendermos que a personagem é tão observadora que consegue ler sinais pouco comuns ou até impercetíveis, nunca nos é dada uma razão para que ela seja assim, é algo que serve de forma magistral a premissa da história mas é também uma bola chutada para a lista de respostas que podemos esperar na nova leva de capítulos. Vale destacar o casting de Ana Valeria Becerril para o papel que nos oferece, como personagem principal uma atriz com traços de beleza diferentes do que é o dito comercial. Pode não ser uma descoberta que vá ter um enorme destaque no mundo da representação, mas, mesmo assim, é mais uma pedrada no charco que vale aplausos numa produção que tem a diferença, a exclusão e os estereótipos como pano de fundo da trama. Por outro lado, Raul é mais um link para a realidade de Élite, numa releitura de Carla aqui adaptada para um protagonista masculino mas com a mesma luta contra um pai corrupto e abusivo e um conjunto de ações mais ou menos egoístas que metem em causa o estilo de vida que sempre se habituaram a ter. É um síndrome de menino mimado que adota uma versão improvisada e indigna do título de Robin Hood sem medir bem as consequências. O único ponto que difere as duas personagens poderá ser o carácter e a índole deles, no entanto se pensarmos nas ações da Carla de Élite no final da primeira temporada talvez o paralelo se torne mais próximo do que aparenta ser. Más ações, em escalas graves, mas uma na pele de protagonista dos eventos e outra como a coadjuvante disposta a ajudar.

Control Z soma temáticas interessantes, mas um conjunto de erros e uma falta de contexto que não ajudam na hora de defender a série. É um potencial em bruto que pode facilmente ter uma segunda season uns furos acima desta, caso os argumentistas saibam conduzir os personagens no caminho certo. É um conjunto de mensagens ambicioso que se pode tornar numa grande confusão caso a nova sequência se perca por um novo mistério no lugar de fundamentar e explorar as consequências dos atos e arcos das boas figuras que nos apresentou. É um low budget que pode sonhar alto, sem se perder nos habituais labirintos a que nós fãs dos mistérios adolescentes estamos habituados. É hora de aproveitar a pausa para rever a meteria e entender quais são os tópicos que merecem uma abordagem mais profunda e qual é o posicionamento da série. Falar dos perigos da internet para um público que vive os seus dias mergulhado nas redes sociais é uma oportunidade de ouro, mas estará Control Z pronta a conquistar o objetivo de ser algo de verdadeiramente novo ou num storytelling que fala de estereótipos, ele mesmo se vai transformar num? Certo é que curiosidade conseguiu deixar, resta cumprir aquilo a que se propôs.