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COMING UP | Dangerous Lies


Como fazer um suspense se tornar tão light que toda a família pode gostar, teorizar e até mesmo gostar? Dangerous Lies é a resposta a esta questão numa trama que não muda uma virgula no conceito do mistério de cinema, mas mais uma vez comprova o bom uso de um baixo orçamento para oferecer uma película que realmente possa conquistar. Previsível ou não, todos temos momentos em que queremos bombear a nossa veia de Sherlock Holmes e neste filme há espaço para isso. Cada detalhe é importante num argumento amarrado que não se deixa iludir por enredos muito complexos ao mesmo tempo que tenta fazer uma critica social sobre educação, diferenças sociais e até sobre o que é viver uma vida a dois. Embrenhado num mistério que não nos tira o folego, mas que consegue aguçar a curiosidade chega aquela que pode ser uma boa aposta para um serão de fim-de-semana em época de confinamento.

Camila Mendes colocou a sua Verónica em pausa. E pela primeira vez a Netflix parece ter realmente oferecido algo diferente a alguém saído de uma série juvenil depois das experiências com Kiernan Shipka, KJ Apa e a nova coqueluche dos sucessos teenager, Noah Centineo. Mudou a idade, mudou a história e deu-lhe um background consistente que rendem à atriz um desafio completamente diferente nesta sua aventura como protagonista de uma longa-metragem. No entanto, os momentos iniciais da trama são um susto para quem espera ver algo diferente de Riverdale. Um assassinato num pequeno restaurante onde um dos ameaçados é o dono, que tem uma figura física parecida com um certo personagem da série da CW, deixa no ar a questão: Onde é que já vimos isto? Felizmente este arco resolve-se em poucos segundos, e despejada deste cenário, Camila ganhou vida e fez-nos esquecer da icónica personagem. Tarefa nada fácil, tendo em conta que Verónica Lodge é cheia de maneirismos e vive num universo onde o mistério vive em cada canto. E este é um ponto onde as duas tramas se cruzam.


Todo o plot se baseia numa grande teia de crime numa cidade onde por mais distância que se percorra tudo se parece relacionar entre si. Katie e o marido Adam são os alvos involuntários, deixados por um rasto de crime que os coloca numa posição bem difícil junto dos espetadores. Duas mortes invulgares presenciadas pelas mesmas pessoas com algum benefício para ambos? Bom, há motivo para desconfiar! Porém é aqui que o argumento nos troca as voltas e apaga as chamadas do velho ditado que diz “onde há fumo, há fogo”, estamos perante um conjunto de coincidências onde há dizeres populares que se aplicam muito melhor. Na verdade, conseguimos resumir todo o drama deste jovem casal na frase “estar no local certo na hora errada”, porque por muito ridículo que nos pareça é o que acontece em cada uma das situações em que se envolvem. Dito assim até pode parecer que nos estão a relatar uma comédia muito macabra, mas não. É apenas mais uma prova de que o mundo é uma pequena aldeia, e numa cidade tudo pode ser uma única rua.

Dangerous Lies é mais uma daquelas fitas que parece obedecer à regra de ter um bom equilíbrio entre pontos altos e baixos, que nos deixam sem uma opinião formada. O romance entre os protagonistas sobressai como algo muito básico, que pedia mais tempo e explicações para nos vender a ideia de que existe amor ali. Apesar de nos entregarem boas prestações, com Camila a destacar-se da sua contracena, faltou química entre os dois e nada melhorou quando mergulhamos finalmente no grande arco do filme. Adam revelou-se como um ser egocêntrico, ganancioso, egoísta, e mais um par de defeitos que nos vende o personagem como alguém de mau carácter. Por mais que seja isto que eleve o storytelling, por nos deixar sempre com um pé atrás sobre quem são de facto os vilões, dá-nos pouca empatia e representa um contraste tão grande com a personalidade e os valores de Katie que se torna quase impossível acreditar na ideia de que há ali um relacionamento.


Críticas à parte, vale a pena reconhecer a forma como o guião nos vai entregando as nossas pistas para adivinharmos o mistério deste Cluedo. Quem é fã assíduo de narrativas deste género descobriu o mistério muito antes do enlace final, mas mesmo assim há pontos em que a argumentação da polícia é tão convincente que nos leva a duvidar das teorias que fomos criando.  É fácil cairmos nos engodos do filme e isso ajuda a torná-lo em algo mais divertido de assistir num argumento com uma linha condutora e um ritmo que não se perdem deixando sempre no ar a velha máxima de que “menos é mais” e com o grande destaque de não deixar espaços em branco na sua solução. Estamos longe de falar de um sucesso que nos vai deixar de queixo caído ou de algo que chegue perto do hit bem recente Knives Out, mas não deixa de ser uma boa aposta dentro do que estamos habituados a ver classificados como Originais Netflix. A grande vitória está na leitura da sociedade que faz, e que quase cruza a mesma linha que o recente Hogar, no debate sobre até onde estamos dispostos a ir por dinheiro? Temos realmente um preço?

É o suspense light que cumpre as regras básicas sem se perder por grandes malabarismos mas sem falhar a proposta de nos oferecer algo bom, arranjado e consistente com a vantagem de que ganha muito mais quando visto acompanhado para dar margem de manobra a que a várias guinadas da resolução do caso principal entrem na sua cabeça e nos obriguem a desfazer o puzzle, longe de ser tão complexo como é habitual neste género. Com um bom e comercial elenco à cabeceira, é hora de voltarmos a colocar a polícia em cheque e provar que somos o melhor detetive da família. É facilmente esquecível? Sim, não entrará para o seu top de longa-metragens favoritas, contudo chega no momento perfeito para nos distrair e fazer-nos relaxar sem sairmos do sofá.