COMING UP | To All The Boys P.S. I Still Love You
Farto de
entupir a sua cabeça com informação nesta quarentena? É tempo de começarmos
novas franquias, aquelas histórias que fomos deixando para depois pela falta de
oportunidade. O Coming Up tem uma sugestão bem recente: To All The
Boys I Loved. Com uma premissa altamente clichê, é a narrativa perfeita
para nos distrairmos com uma boa história de amor, que por mais adolescente que
possa parecer continua a conseguir levar-nos a torcer pela paixão dos dois
protagonistas. E se de repente a sua vida vira-se de pernas para o ar, e os
seus desejos e paixões da infância voltassem todos ao de cima? É isso que
acontece com Lara Jean, uma rapariga ostracizada na escola que decidiu escrever
uma carta de amor a cada uma das suas paixonetas. Guardou-as todas durante
anos, e quando a vida parecia estar a seguir o seu curso normal, a irmã mais
nova decide intervir e a partir daí já podemos adivinhar… Nada volta a ser o
que era. Este foi o pontapé de saída para a primeira longa-metragem, a sequela
não perde a essência e ainda acrescenta mais sumo à história que fala sobre
amor, amizade e destino. É Netflix embalada pelos românticos, e a desculpa
perfeita para nos fazer sorrir sem sairmos do sofá. To All The Boys PS: I
Still Love You vale a pena?
A proposta
repete-se neste novo capítulo, com uma luta de galos pelo coração de Lara Jean,
mas a concorrência desta vez é muito mais equilibrada. Não é só Peter que
parece ser o galã e o candidato perfeito, John Ambrose é o arquétipo da
bondade, e o homem dos sonhos de qualquer rapariga romântica, que sempre quis
ter o seu próprio conto de fadas. É nesta lógica que tudo muda, para que um
simples drama juvenil nos consiga entreter e provar até aos adultos que o amor
se constrói diariamente e que não podemos dar tudo como garantido. Lana Condor
pode não ser a atriz mais talentosa ou ter uma capacidade única de
representação, mas a química com Noah Centineo é tão bonita que faz com que
tudo resulte ainda melhor. Torcemos para que todos tomem a decisão certa, para
deixem de fazer as asneiras típicas dos adolescentes. Fazem-nos vibrar, e só
por isso já o torna num filme muito acima de outras produções da Netflix, como Perfect
Date ou The Last Summer.
Noah Centineo
chegou para ficar dentro deste género, mas para quem o acompanhou em The
Fosters não chega a ser uma total surpresa a entrega dele como Peter. Na
verdade, há influência de Jesus Adams-Foster em cada movimento da personagem.
Sobretudo nas fases mais conturbadas do personagem da série, mas em que tal
como na trama da Netflix procura fazer sempre o mais certo. Este é um pequeno
pormenor que pode irritar quem assiste à procura de algo com um pouco mais de
conteúdo: Parece não existir malicia, não há margem de erro no carácter dos
personagens, e isso acaba por tornar tudo um pouco menos credível. A
proximidade do rapaz com Gen, a sua ex-namorada, é colocada em cheque ao longo
da sequência, mas em nenhum segundo se sente um resvalar de sentimentos, o que
seria visto até com alguma normalidade dado o tempo de relação que os dois
tiveram. É como se uma borracha tivesse apagado todo aquele tempo a partir do
ponto em que Peter se encantou pela protagonista Lara Jean.
John Ambrose
chegou à franquia para apimentar as coisas, mas para nos deixar, também, com
algum sentimento de culpa. Como dissemos, o personagem abraçou a personificação
de um príncipe encantado dos tempos modernos, tanto que nos faz sentir mal por
não o termos conhecido antes. Mas é esse mesmo o objetivo do argumento: Mostrar-nos
que tudo muda por não estarmos à hora certa no tempo certo, como tudo se resume
ao destino, e como neste caso, por mais que ele tenha tudo para ser o par
perfeito da sonhadora protagonista, a nossa empatia não torce por ele. A
contracena entre Jordan Fisher e Lana Condor também não ajuda a melhorar o
cenário, dado que tudo parece meio vazio e pouco coordenado, a interpretação
dos dois atores soa a forçado. Faltou-lhe espaço de antena que nos levasse a
acreditar no momento entre os dois e nos agarrasse com as brincadeiras na neve,
o beijo e a dança. Mais rapidamente confiamos na amizade entre Stormy e Lara
Jean, que parece ter saído diretamente da experiência social da SIC, Amigos
Improváveis, para o streaming para voltar a lembrar os jovens de que
os mais velhos podem ser os parceiros que precisamos nos momentos de indecisão
da nossa vida.
A história é
leve, e apesar do guião ser muito mais elaborada do primeiro filme, a sequência
vem responder a várias questões pertinentes. Pode um namoro que começou com uma
mentira sobreviver à vida real? A dúvida existe, e desta vez falamos de dúvidas
de forma muito mais expressiva. Lara Jean é tentada constantemente a desistir,
porque tudo parece indicar-lhe um caminho contrário, mas mesmo assim durante
quase duas horas de fita, é-nos entregue a mensagem certa: Uma ralação nunca
será perfeita se não lutarmos para que o seja. Mesmo se desviarmos o foco do
drama central, até o pai de Lara Jean e Kitty luta diariamente para voltar a
exprimir o seu interesse por alguém, fazendo cedências para que tudo possa
resultar. Um arco bem interessante que ficou deixado para segundo plano, mas do
qual se espera maior desenvolvimento no terceiro “filho” desta adaptação
cinematográfica.
Alguns
personagens precisavam de um maior contexto, foram ignorados apesar do destaque
que lhes foi dado antes. Poucas menções há a Margot, que no primeiro projeto
foi um dos grandes motores do conflito. Ficou por entender onde e como estava
Josh, que foi apagado das linhas da história e substituído por John Ambrose.
Chris e Trevor pouca incidência têm, e estiveram mais próximos de ser
figurantes do que propriamente amigos chegados do casal central. Por fim, um
dos maiores problemas neste desenvolvimento de personagem: Kitty, a chave para
tudo ter acontecido e que desta vez resumiu a sua prestação a meia dúzia de
falas. Esperemos que os autores não se esqueçam da potencialidade da irmã mais
nova de Margot e Lara Jean, porque dentro da aventura, talvez seja o caminho
para nos oferecer algo de realmente diferente. To All The Boys: I Still Love
You, é divertido e aconchegante, sem grandes reviravoltas, mas o clichê
perfeito para nos embalar para fora de tudo o que está a acontecer à nossa
volta. Não é um filme apenas para raparigas como nos vendem. É uma história
sobre amor, e com sensibilidade para falar sobre o tema sem ser o expoente
máximo da lamechice. Acho que já todos entendemos que as histórias não têm
género. Aproveite o tempo e diga-nos, o que pode acontecer no terceiro filme?
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