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COMING UP | Chilling Adventures of Sabrina




Depois de uma primeira temporada inconsistente e uma segunda parte em que a ação demorou a acontecer e ficou embrenhada numa teia sem nunca chegar realmente ao auge, a Netflix parece ter encontrado um ponto de equilíbrio e uma imagem realmente diferente para dar ao mundo de Sabrina uma nova cor. Esta é a season que promete voltar a conquistar os fãs distanciando-se do drama para ceder espaço ao género de ação/aventura em que tudo flui a um ritmo completamente invulgar comparando com o que nos foi apresentado, é uma outra essência e uma reinvenção necessária que traz mais energia e se centra no que é, de facto, importante para a história em vez de atirar em todas as direções na esperança de se autoentender. Cimentar e expandir o universo, é no meio deste paradoxo que surge aquela que até agora pode ser definida como a melhor season de Chilling Adventures of Sabrina. Podemos realmente voltar a ter esperança de que o spin-off encontre o caminho certo?

Todo o plot se tornou bem mais interessante, terminamos finalmente as introduções e agora que a luta entre a prometida e o diabo está à vista de todos, há lugar para explorar algo que seja realmente novo e não apenas mais uma produção adolescente que se serve de mitos e lendas para conquistar os fãs do sobrenatural. Contudo, nesta nova fase continuamos com alguns problemas antigos. Sim, o casting do lado humano continua a ser um tanto ou quanto insatisfatório e além disso parece que a vida daquelas pessoas orbita única e exclusivamente em torno de Sabrina, falta-lhes sumo, algumas camadas e alguma construção de personagem mesmo que tudo faça parte de um Masterplan para que a quarta parte nos surpreenda com alguns twists interessantes. Há poucos pontos positivos a apontar sobre este núcleo, mas mesmo assim conseguimos ter uma Rosalind a revelar-se útil para o argumento depois de ter conquistado o título de personagem mais entediante da última sequência de episódios a que tínhamos assistido. Theo, por outro lado voltou a ter o seu arco completamente ignorado, como se todo o processo de adaptação a esta nova identidade tivesse sido algo tão simples como uma mudança de look sem se preocupar realmente em abordar o tema. Este é um dos defeitos que continuam a existir na escrita de Roberto Aguirre-Sacasa: Introduzir um problema social para depois deixar o se desenvolvimento a meio.


Já que falamos em defeitos, falta referir que esta é uma produção da Netflix mas que ao contrário de outras histórias do seu catálogo, o orçamento dado aos efeitos especiais tornou-se completamente absurdo para uma narrativa que vive deles. Algumas cenas são sofríveis de assistir, parece que mergulhamos numa série do Arrowverse da CW, mas aí podemos culpar a falta de recursos, algo que não é o caso quando falamos de algo vindo da gigante do streaming. Por outro lado, vale louvar os atos musicais de Sabrina. Não estamos a falar de uma série musical ao género de Glee, mas tal como nas temporadas anteriores a série da jovem bruxinha volta a trazer números bem ensaiados e canções que podem ficar realmente no ouvido, deixando no ar um sneak peek do que podemos esperar para a primeira temporada de Katy Keene, a nova adição ao universo compartilhado de Riverdale. Nestes novos episódios vemos finalmente os dois mundos unirem-se, deixando cada vez mais migalhas para um tão aguardado crossover entre a história de Archie, Betty, Veronica e Jughead se cruzar em algum momento com a dos Spellman. Há vários fan services que brincam com o coração dos fãs, mas que são executados com bastante bom gosto. Além de viajarmos até à cidade vizinha, ainda conseguimos ver um Southside Serpente a invadir Greendale.

Mas vamos ao que interessa: O guião. Sabrina parece ter um verdadeiro complexo de Salvador, e depois de nos ser apresentada como a espécie de Messias do lado infernal, chegou a hora de a escrita ir mais afundo na linguagem da religião cristã. Temos pormenores tão básicos como a troca de algumas expressões do dia-a-dia, como “What the Heaven” ou “Son of Angel”, que já vêm sendo recorrentes no argumento da série, mas temos também um cruzar de águas com episódios Bíblicos que apresentam Herodes, Pôncio Pilatos e Barrabás como figuras deste universo. É o vasculhar extremo da antítese entre as duas religiões e que reforça mais uma vez a construção deste Culto fictício.


Os vilões conseguem ser os mais aterradores até agora. Os Deuses Pagãos trouxeram mais fogo que o inferno, estendendo ainda mais a mitologia com novas tradições e rituais. É uma ameaça que apesar de não ter tido o tempo de construção que existiu para introduzir Lúcifer consegue despertar muito mais interesse. Até porque convenhamos que com tantas adaptações, Lúcifer já deixou de ser uma figura assim tão amedrontadora como antes. Tudo isto serve também de base para um momento bem diferente dentro da trama com o início de uma guerra bruxa que promete aproximar Chilling Adventures of Sabrina do storytelling de American Horror Story: Coven ou em certa medida da fase final de True Blood. Apesar do jeito girly em que a ação nos é contada, o futuro parece caminhar para algo bem emocionante e mais complexo.

A terceira season fica cheia de referências pop/nerd numa jornada apocalíptica que encontra várias semelhanças com o grande hit do ano passado: Avengers: Endgame. Não é uma cópia exata, mas suporta-se no mesmo esquema com cada um dos protagonistas a encontrar a morte certa, um multiverso a florescer e viagens no tempo que acabam por ressuscitar as únicas pessoas que conseguem impedir o fim do mundo. Somando isto a todas as questões políticas do inferno que encontram agora uma nova roupagem depois de já as termos visto em Supernatural, o caminho parece ser agora bem mais risonho. Sabrina Spellman veio para ficar e depois deste arranque, a parte 4 não poderá oferecer nada menos engendrado que uma conclusão ainda mais épica que esta.