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COMING UP | His Dark Materials



Encontrar o “novo” Game of Thrones parece ser a grande cruzada dos serviços de streaming que não estão em poupanças de esforço ou dinheiro nas suas novas produções. Com a estreia de The Witcher, da Netflix, próxima, a casa que acolheu a saga do Trono de Ferro antecipou-se e lançou a sua cartada antes da hora. His Dark Materials é regresso da fantasia à HBO, num tom completamente diferente da história de George R. R. Martin, mas com um drama político e religioso aguçado que poderá acolher alguns dos Órfãos de Winterfell. Dos cenários ao elenco, tudo parece afinado para que este seja o novo grande sucesso da emissora que mete a um canto a longa-metragem The Golden Compass, que tinha as mesmas obras literárias como pano de fundo. Esta promete ser uma sequência de aventura, contada no ritmo bem característico da HBO em que a ação demora o seu tempo para se aflorar. Mas afinal, o que há de bombástico nesta nova promessa?

A narrativa acompanha um mundo em que a alma das pessoas vive fora do corpo na forma de um animal, sendo que todos os bichos vão evoluindo de acordo com a formação de personalidade dos seus “donos”. Perceber quem é o animal que personifica a personalidade de cada um é meio caminho andado para entendermos a índole do personagem que está à nossa frente, deixando de lado grandes introduções que retiram o foco da ação. No meio disto, temos uma sequência de eventos que prometem acompanhar a primeira temporada. Desde uma jornada pelo desconhecido até ao desaparecimento de bebés, sempre com uma profecia como pano de fundo, bem ao jeito medieval de Winterfell ou da novela do Principe Caspian em The Chronicles of Narnia.


Mas as conexões param por aí. O contexto e época em nada se colam com a história do maior sucesso dos últimos tempos. His Dark Materials chega cheia de cor e com efeitos especiais que deixam alguns filmes invejosos. Dafne Keen volta a provar o seu talento, depois de conquistar a crítica com Logan, regressa ao leme desta produção sem se deixar intimidar com as contracenas de James McAvoy ou Ruth Wilson. Todo o elenco parece ter um maior entendimento da franquia do que os antecessores de The Golden Compass. James McAvoy assegura uma maior empatia com o explorador Asriel do que Daniel Craig, com a vantagem de segurar uma parceria muito mais coerente com os livros. Por sua vez, Ruth Wilson dá vida à enigmática Miss Coulter com uma atuação bem mais fechada, misteriosa e ambivalente do que a interpretação de Nicole Kidman, que nos primeiros minutos da película já nos deixa adivinhar que nada de bom poderá vir dali.

A discussão entre a religião e a ciência é um dos grandes motores de toda a saga, com a Igreja a ter um papel importante no desenvolvimento de Lyra, a protagonista, que se torna num peão de guerra entre o Magistério e os estudos do tio Asriel, que está prestes a fazer uma descoberta que mete em causa todas as crenças até aqui defendidas. O Norte volta a ser palco de um dos grandes mistérios, descrito como uma terra onde existem bruxas e cujos exploradores que procuram alguma verdade científica para provar os mitos que o Magistério passou acabam desaparecidos e mortos. Mas mesmo com todas estas informações, Asriel decide partir até às terras malditas para mostrar a todos que o Magistério que seguem é na verdade um clero corrupto.


É nesta balança entra a fantasia e o encaixe com a realidade história que se situa His Dark Materials. Acontecem várias coisas ao mesmo tempo neste primeiro episódio, mas mesmo assim consegue deixar os fãs com a sensação de que tudo acontece de forma lenta. A passagem de cenas é trabalhada de forma a manter tudo como uma única linha rasa sem grandes façanhas que “teletransportem” personagens de um sítio para o outro. Contudo, a partir do final do capítulo começamos a entender que o enredo vai avançar de forma muito mais corrida. Miss Coulter chegou para abanar a história, e obrigando a que todos os personagens que até então pareciam ter caminhos bem definidos se desconstruíssem, mostrando que daqui para a frente tudo o que acontecer será uma surpresa.

Não será, certamente, o sucesso estrondoso que foi Game of Thrones, mas pode conquistar facilmente algum do seu público. Ao mesmo tempo que estende a mão aos fãs de fantasia, de Harry Potter e de The Chronicles of Narnia. É o ponto de equilíbrio entre o adulto e o juvenil, sem parecer um conteúdo de CW. O primeiro pontapé chegou para arrasar com o elenco a brilhar por cima de cenários caros e bem trabalhados. Tudo parece alinhar-se, e na guerra de audiências quem ganha é, novamente, os espetadores. Que venha o segundo, por favor!