Viajar porque Sim #1 | "Regressar à pré-história no Alentejo"
O Alentejo é a segunda região
europeia onde existe uma maior concentração de monumentos megalíticos (a
primeira é a Bretanha). Isto deve-se, dizem os estudiosos dos tempos
primitivos, ao facto de ser uma região onde confluem três grandes bacias
hidrográficas – a do Tejo, a do Sado e a do Guadiana – razão pela qual muitas
comunidades de caçadores-recolectores a escolheram para se sedentarizarem.
A
zona entre Montemor-o-Novo e Évora tem alguns destes monumentos mais
emblemáticos, além de outros vestígios pré-históricos únicos e um património cultural
e histórico riquíssimo, e é por tudo isto que vos proponho aqui um roteiro de
fim-de-semana (ou não…) para conhecerem melhor este pedacinho de Portugal. A
visitar com calma, em qualquer época do ano.
Foto: Évora |
Dia 1
Gruta do Escoural – Anta-Capela de Nossa Senhora do Livramento – Évora
Começamos esta viagem à
pré-história precisamente pelo local onde se encontram os testemunhos mais
antigos dos humanos que habitaram esta região. Nas paredes da Gruta do Escoural
existem gravuras que remontam ao Paleolítico Superior, ou seja, entre 50.000 a
10.000 anos a.C. – tantos anos que nem conseguimos imaginar… Sobreviveram até
aos nossos dias por puro milagre, pois só foram descobertas nos anos 60. As
visitas ao espaço foram dinamizadas há poucos anos com a criação de um Centro
Interpretativo. Embora pequenas e com poucas imagens, estas grutas são
absolutamente imperdíveis: afinal, não é todos os dias que temos a oportunidade
de ver pinturas rupestres… Actualmente podem ser visitadas exclusivamente por
marcação e de preferência com uma antecedência de alguns dias (mínimo 24
horas).
Centro Interpretativo da Gruta do Escoural
Rua Dr. Magalhães de Lima, 48; 7050-555 Santiago do Escoural
Horário (de terça a sábado, excepto feriados) -
Verão: 09h30-13h e 14h30-18h / Inverno: 09h-13h e 14h-17h
Visita da manhã às 10h30 / Visita da tarde às 14h30
Marcações
Centro Interpretativo do Escoural – telefone 266 857 000 e-mail: grutadoescoural@cultura-alentejo.pt
Direcção Regional de Cultura do Alentejo – telefone: 266 769 800 e-mail:
info@cultura-alentejo.pt
Foto: Anta-Capela de São Brissos / Ana CB |
A paragem seguinte é a poucos
quilómetros do Escoural, mais especificamente junto à estrada municipal 1079 um
pouco antes de São Brissos. É aqui que se encontra uma das pouquíssimas
antas-capelas que subsistem em relativamente bom estado em Portugal: a de Nossa
Senhora do Livramento ou de São Brissos (não confundir com a igreja da
localidade…). Curiosas e invulgares, as antas-capelas atraem pelo seu carácter
híbrido e formato “estranho”, que resulta da conversão de um monumento
megalítico num outro de carácter religioso – neste caso, católico. A
anta-capela de São Brissos apresenta ainda a peculiaridade de estar pintada
como se de uma casa tradicional se tratasse, branca com uma faixa azul na parte
inferior. É possível visitá-la por dentro, sendo necessário para o efeito
telefonar para os números que estão indicados numa placa que se encontra no
local (266 857 637/128/183).
Se quiserem saber um pouco mais
sobre esta ermida, leiam o post que lhe dediquei no meu blogue: https://viajarporquesim.blogs.sapo.pt/a-anta-capela-de-sao-brissos-35368
É em Évora que está actualmente
instalado o Núcleo Interpretativo do Megalitismo – o lugar certo para ficar a
conhecer algo mais sobre a ocupação primitiva do Alentejo – e por isso esta
cidade é o nosso próximo destino.
Núcleo Interpretativo do Megalitismo de Évora
Convento dos Remédios,
Av. S. Sebastião, Évora
Horário
de segunda a
sexta: 09h30-12h30 e 14h-17h30 / sábados: 14h-18h
Foto: Sé / Catedral de Évora |
Para lá do sobejamente conhecido Templo de Diana e da famosa Capela dos Ossos (alojada na Igreja de São Francisco) há vários outros locais em Évora que são de visita obrigatória:
- A Sé, que é “só” a maior catedral medieval do nosso país, com o seu estilo meio românico, meio gótico à mistura com pitadas de barroco, e as suas famosas esculturas de apóstolos no pórtico.
- O Aqueduto da Água da Prata, que permanece em funcionamento até aos nossos dias e tem a peculiaridade de existirem casas construídas entre os pilares de alguns dos seus arcos; dentro da cidade, os seus pontos mais notáveis são a Caixa de Água na Rua Nova (de Santiago) e o Chafariz do Largo do Chão das Covas, ambos renascentistas.
- O Museu Nacional Frei Manuel do Cenáculo (simplesmente conhecido como Museu de Évora, instalado no edifício dos antigos Paços Episcopais) e a sua belíssima colecção de porcelana e azulejaria, entre muitas outras obras artísticas.
- A Praça do Giraldo, em cujas esplanadas e passeios pulsa o coração da cidade.
- A Igreja da Graça, notável pelo seu estilo renascentista puro e pelas esculturas gigantes da sua fachada.
Dia 2
Évora – Anta Grande do Zambujeiro – Menir e Cromeleque dos Almendres – Montemor-o-Novo
Depois de pernoitar em Évora e visitar a cidade seguimos em direcção a Valverde para conhecer a Anta Grande do Zambujeiro. Apesar de desfeada por um inestético telheiro de zinco e de já não ser possível visitá-la por dentro, vale a pena ver aquela que é a maior anta da Península Ibérica e uma das maiores da Europa, singular tanto pelo seu tamanho (tem pedras de 8 metros de altura, e um corredor de 12 metros) como pela sua estrutura complexa. Selada até 1965 numa mamoa, os métodos discutíveis que foram utilizados para a sua escavação são a principal causa de se encontrar actualmente em perigo de colapso, mas lamentavelmente nada parece estar a ser feito para a sua recuperação.
Foto: Anta Grande do Zambujeiro / Ana CB |
Poucos quilómetros à frente, em
Nossa Senhora de Guadalupe fazemos um curto desvio para visitar dois dos mais
famosos monumentos pré-históricos da região: o Menir dos Almendres, um colosso
granítico imponente nos seus 3 metros e meio de altura, e o Cromeleque dos
Almendres, um conjunto megalítico único e fascinante que remonta ao milénio VI
a.C. – um dos mais antigos do mundo (tem “apenas” mais 3 mil anos do que
Stonehenge…). São 95 menires dispostos elipticamente numa encosta suave virada
a nascente, rodeados de vegetação, alguns deles decorados com relevos ou
gravuras, e crê-se que este local terá sido um espaço sagrado ao longo dos
tempos, provavelmente em associação com o Menir, que se encontra muito próximo.
Foto: Castelo de Montemor-o-Novo |
O destino final deste roteiro é a
cidade de Montemor-o-Novo, onde é imprescindível visitar o castelo cuja muralha
triangular, quando estava completa, tinha cerca de 2 km – o que faz dela a
maior do nosso país. Tinha também quatro torres, dezanove torreões e quatro
portas. Muito danificada pelo terramoto de 1755 e pela utilização das suas
pedras noutras construções, da muralha restam hoje apenas alguns troços, três
torres e três portas. O parque de estacionamento junto à entrada é um miradouro
privilegiado sobre a cidade, e conforme vamos percorrendo a muralha é-nos
oferecida uma vista ampla sobre a planície alentejana. Dentro do recinto do
castelo, para além da recuperada Igreja de S. Tiago (transformada no Centro
Interpretativo) podemos ainda ver as ruínas do Paço dos Alcaides (ou Paço
Real), da Igreja de S. João Baptista e da Igreja de Stª Maria do Bispo. Como
curiosidade, saibam que foi numas cortes aqui realizadas que D. Manuel I tomou
a decisão de enviar Vasco da Gama na sua viagem à Índia.
A minha última sugestão para este
roteiro é gastronómica: não deixem Montemor-o-Novo sem provar as bifanas. Eu
sei que as de Vendas Novas são mais famosas, mas acreditem que estas são bem
melhores. Vou sempre comê-las à Casa das Empadas, que fica na (agora tão
badalada) Nacional 2, onde as variadas empadas que confeccionam são obviamente
boas mas as bifanas são, no mínimo, soberbas. Uma maneira excelente e saborosa
de terminar esta viagem de dois dias ao nosso passado mais remoto.
Viajar porque Sim #1
por Ana CB / Outubro 2019
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