Fantastic Entrevista: Maria João Soares & Mário Araújo (Oriental Dance Weekend)
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O Oriental Dance Weekend é o maior festival de Dança
Oriental nacional do país. Ao longo dos últimos anos, tem trazido a Lisboa
alguns dos nomes mais sonantes do panorama internacional de Dança Oriental e
tem tido uma forte contribuição na carreira de vários artistas, através da
formação e das oportunidades que oferece no seu concurso. Nesta parceria com o
Instagram Dança Oriental Portugal, o Fantastic esteve à conversa com Maria João
Soares e Mário Araújo, os organizadores do festival que nos falaram sobre o
surgimento do festival, a sua programação, a forma como os festivais mudaram o
mercado de Dança Oriental em Portugal, entre outros temas.
1. Como surgiu a ideia de organizar o festival Oriental Dance Weekend?
O Oriental Dance Weekend não começou como um festival. A ideia era ser um fim de semana dedicado á dança oriental, trazendo um professor de fora para dar workshops e organizar um espetáculo para se poder mostrar o trabalho desse artista e convidar artistas nacionais. Na altura já havia um festival em lisboa em que a sua linha era mais virada para o “estilo egipcio”, nessa altura a Maria João apaixonou-se pelo “estilo argentino” e pelo estilo dos países de leste. A ideia era então mostrar uma dança mais estilizada e mostrar também outras linhas. Em 2012 quando organizámos o primeiro fim de semana, escolhemos a Saida (argentina), por ser a excelente bailarina que é e por ser o símbolo do “estilo argentino”. Nessa altura estando junta com Yamil Annun, acabámos por trazer este fantástico casal. Logo a nossa ideia de trazer apenas um artista foi por água abaixo.
2. Todos os anos o ODW se destaca por trazer a Portugal alguns dos nomes mais sonantes da Dança Oriental do momento. Como é que é pensado o cartaz e a programação para cada edição?
Neste aspeto a organização tem um papel preponderante, pois está sempre atento aos artistas emergentes seguindo o seu percurso para ver os possíveis potenciais a serem convidados. Quanto aos outros artistas já com uma carreira bem definida, fica atento à reacção que estes provocam no público em geral. Sendo assim o cartaz é escolhido tendo em atenção, por um lado a tendência que um artista tem na altura da escolha, o nosso gosto pessoal, e procurar que os artistas tenham uma boa metodologia de ensino.
3. Quais os maiores desafios de organizar um festival de Dança Oriental deste género?
Seguramente não devemos ser os primeiros a dizer que o maior desafio é não ter apoios. A afluência a um festival de dança oriental em Portugal ainda não atinge um número de adeptos suficiente que seja apelativo a possíveis sponsors ou parceiros. Há também depois a parte de toda a logística necessária para o evento acontecer que tem de acontecer numa base de voluntariado, e quanto a isto consideramo-nos abençoados, pois temos uma equipa super profissional e que está junta connosco para o que der e vier.
4. No que é que os festivais mudaram o panorama nacional de Dança Oriental?
Penso que os festivais vieram mudar a ideia que até então se tinha do que realmente é a dança oriental no ocidente. Os festivais permitiram dar a conhecer a diversidade de estilos e personalidades dos bailarinos, o que é muito positivo. Acredito muito que esta “chuva” de artistas nutre a nossa criatividade e nos ajuda a encontrar o nosso próprio estilo. Os festivais também com a sua troca de prémios e com tudo o que envolve um festival, ajuda a circular e a promover talentos emergentes não só na dança mas em todas as áreas a ele afetas. Podemos verificar o aumento no numero de bailarinos a serem atraídos para esta dança. Observamos que a qualidade dos bailarinos portugueses tem vindo a subir, equiparando-se com países onde esta dança já está largamente implantada. Obervamos também o aparecimento de novos talentos na área do designer de costura e na fotografia.
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O êxito do nosso festival é o resultado do conjunto de alguns fatores: do nosso carinho e empenho, de uma equipa que nos apoia diretamente nos dias do festival, outra equipa que nos ajuda na promoção e divulgação do festival, tanto a nível nacional como internacional. Como o festival cresceu de uma maneira muito natural, acabou por atrair pessoas que contribuíram com a sua experiência e nos deram conselhos e apoio valiosos para o nosso crescimento.
6. O vosso festival desde a primeira edição que oferece um concurso, estando por isso alinhado com a esmagadora maioria dos festivais internacionais. Como organizadores, qual a vossa opinião sobre os concursos nos festivais de Dança Oriental portugueses e internacionais?
O concurso é sempre um tema controverso. Claro como tudo na vida tem aspetos positivos e menos positivos. Se o concurso for encarado como estímulo para se trabalhar é uma ótima ferramenta para evolução da(o) bailarina(o), pois todas as criticas feitas pelo júri tem como objetivo identificar os pontos fortes e os pontos a serem trabalhados. È muito importante que aqui o concorrente tenha uma mente aberta para interiorizar todas as criticas, fazendo uma filtragem para assimilar aquelas que lhe fazem sentido naquele momento e não se deixar afetar por aquelas que naquele momento não lhe fazem sentido, mas mesmo essas devemos dedicar um tempo de reflexão. O menos positivo é talvez a carga que logo que se fala em competição gera, mas tudo depende de como o concorrente encara este conceito. A competição não se pode confundir com comparação, mas sim com a superação de si próprio. Tem de ser visto como uma ferramenta de autoconhecimento, pois o concorrente vai estar exposto a situações fora da sua zona de conforto e isto favorece a nossa evolução.
7. Nesta edição, há várias mudanças no ODW: o cartaz passou de 3 bailarinos principais para 6. Podem falar-nos um pouco sobre a razão por trás desta mudança?
Acho que foi um caminho natural. Como já referi a ideia era só trazer um artista, mas começámos logo com dois. A certa altura achámos que faria sentido trazer estilos diferentes para abranger um alvo de público maior. Já há muito que gostaríamos de incluir no nosso cartaz artistas de topo, artistas emergentes e artistas exclusivamente nacionais. Mas só este ano se proporcionou essa nossa ideia.
Acho que a dança oriental em Portugal, comparada com outros países, ainda está num processo de evolução e identidade. Mas nota-se um crescimento no numero de bailarinos, professores e eventos relacionados com esta arte. E claro está, também se nota uma grande evolução na qualidade.
9. O que acham que se pode fazer para a Dança Oriental se desenvolver mais em Portugal?
Um grande fator de desenvolvimento será a união e apoio dos profissionais, praticantes e organizadores do meio da dança oriental. Com o objetivo comum de fazer crescer esta arte, criar novas oportunidades e ampliar a adesão de novos praticantes.
10. O que é que ainda gostavam que o Oriental Dance Weekend alcançasse?
Como já referi o crescimento do ODW foi de uma forma muito natural, por isso o que queremos é que ele continue a crescer e a evoluir tornando-se cada vez mais um evento de qualidade e referência.
Fantastic Entrevista Edição Especial: Oriental Dance Weekend
por Rita Pereira
Outubro de 2019
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