COMING UP | Maleficent: Mistress of Evil
Dentro dos Live
Actions da Disney, Maleficent sempre foi o mais arriscado de todos.
Longe do clássico, a história da fada que amaldiçoa a princesa vem encontrar
caminho no sistema binário do bem e do mal, encontrando um meio termo ao jeito
do carimbo family&friendly da empresa do Mickey Mouse. Depois do sucesso
estrondoso, Mistress of Evil repte apenas parte da fórmula do primeiro
longa, dando espaço para uma jornada de aventuras e liberdade para assistirmos ao
crescimento de Aurora. Fazer sentido era a principal missão do projeto, que
traz um argumento que se prova capaz de encontrar soluções que surpreendem e as
conexões necessárias com a animação original. Será que valeu a pena a aposta?
Na sequência de Joker,
em que Joaquin Phoenix roubou a cena e fez o filme respirar através da sua
interpretação, Maleficent: Mistress of Evil vive o mesmo “mal” com
Angelina Jolie e a sua atuação magnética a serem a grande âncora do filme. O verdadeiro
duelo é entre Jolie e Michelle Pfeiffer, dentro e for a dos grandes ecrãs. É difícil
ser um páreo à altura da presença de Angelina, mas se há alguém que conseguiu
cumprir essa função foi Pfeiffer. As cenas entre os dois astros de Hollywood
são um show de interpretação em que nem o guião básico atropela a prestação.
Por mais que alguns pontos das suas personagens sejam algo clichê e, talvez,
infantis em nenhum ponto é sentida falta de credibilidade. Pfeiffer tem uma personagem
que bebe de todo o imaginário de vilões da Disney, mas que cola muito mais à
personalidade de Evil Queen, de Snow White, deixando os fãs ainda mais
envolvidos pelo confronto entre dois rostos gigantes dos clássicos.
No primeiro projeto, recontar a
história de Sleeping Beauty era meio caminho andado para ser mantida a
coerência, mas desta vez era necessário algo feito de raiz que ainda conseguisse
deixar o sabor de que estamos no mesmo universo. E é aqui que surge uma
oportunidade que não foi desperdiçada: Dar um background ao Príncipe Phillip.
Nesta nova safra de Live Actions, um dos principais frutos que temos
colhido são os detalhes que a Disney ao seu cânone. Depois de nos ter brindado
com uma versão distópica do seu próprio universo na trilogia Descendents,
desta vez fez o caminho inverso mostrando quem é o parceiro de Aurora, o seu
reino e a sua família. Excluindo películas mais recentes, na sua origem o foco
da Walt Disney Studios era a figura singela da Princesa, no seu jeito delicado,
deixando em segundo plano os personagens masculinos dos quais nada sabemos. Até
que chega Mistress of Evil para mostrar que há mais reinos e sobretudo preconceito
até mesmo em terras encantadas.
Ingrith é a
mulher rancorosa que não poupa esforços para mostrar que dentro do mundo de príncipes,
princesas, seres alados, fadas e bruxas, quem manda são os homens. E mesmo sem
ter sido citada anteriormente, ela provou-se como uma das grandes cabeças por
detrás do medo gerado sobre a figura de Maleficent. Depois de um passado conturbado,
a Rainha comete parte dos sete pecados mortais para partir numa cruzada que
promete por fim a todos os seres da floresta encantada. O amor entre Aurora e o
filho, Phillip é o meio perfeito para conseguir atingir o seu fim. Depois de
espalhar várias mentiras envolvendo a relação entre Maleficent e Aurora, e ter
usado a sua luxúria para desenvolver poções que tirassem a magia de Moors e para
comprar artefactos tão bizarros quanto a roca que picou a Princesa na história
que serve de base, Sleeping Beauty.
A partir daí todo o storytelling
se desenvolve numa sequência de aventura que foge ao padrão de romance do
cordel, com idas e vindas que pelo meio adicionam contexto às origens de
Maleficent. Fruto da ira de Ingrith descobre-se que a raça de fada madrinha de
Aurora não está inteiramente extinta. Este é o único ponto do filme que ficou perdido.
Não há desenvolvimento suficiente para sentirmos a perda de Conall, desperdiçando
o talento de Chiwetel Ejiofor e a boa química cinematográfica de Jolie com o ator.
É um espetáculo de caracterização e efeitos visuais, mas poucas influências têm
no curso geral, servem de exército para a batalha final, mas não têm um interesse
maior que esse no plot. Contudo, é deixado no ar que após os eventos
finais, as criaturas voltaram a viver em sociedade com os restantes seres da
floresta, abrindo uma brecha para um futuro terceiro capítulo.
Mistress of
Evil é a transposição de toda a magia dos contos de fadas, numa linha
completamente disruptiva que volta a mostrar o quanto há para explorar no
imaginário que a companhia criou. A sequência não bate a criatividade do
primeiro filme, porém conseguiu trabalhar melhor os efeitos e guarda-roupa dos
seus personagens. Além das adições ao elenco, Diaval é um dos personagens que
mais destaque ganha, conseguindo alguns pontos chave de humor e balançando
muito bem o tempo que tem no ecrã. Elle Fanning veste a pele de Aurora na mesma
linha tradicional que teve no primeiro filme, com uma fragilidade que não
parece que vá ser ultrapassada em breve. No resultado total, Maleficent
conseguiu manter as expectativas e justificar-se, faltou-lhe tempo, tempo que
poderá ter sido cortado de forma a que exista lugar para uma nova obra, afinal
de contas Angelina Jolie vai manter-se dentro do império Disney depois de
assegurar presença em Eternals, um dos projetos da Phase 4 do
MCU.
Ricardo Neto
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