COMING UP | It: Chapter Two
O primeiro capítulo
do remake da adaptação cinematográfica da obra de Stephen King foi um sucesso,
mas e a sequência? Mais que um filme de terror, a narrativa orienta-nos para
preencher os espaços deixados em branco e contar-nos o futuro dos jovens que
foram assombrados pela passagem de Pennywise nas suas vidas. Com várias idas e
vindas ao passado, a continuação prima por se colar mais a uma jornada sobre a
amizade em que o terror fica como pano de fundo, trazendo de volta cenas
icónicas, os mesmos cenários e algumas surpresas que prometem convencer aqueles
que não leram a obra original.
Na folha do
futuro das sete crianças protagonistas tudo parece ter seguido um percurso contínuo com o desenvolvimento que tivemos na primeira metade. Muito do nosso
caminho é definido de acordo com as nossas vivências, sobretudo na infância e adolescência, e fruto disso
não seria de estranhar que Eddie se tornasse em alguém que tem um vasto
conhecimento sobre riscos, que Richie usasse o seu humor para fugir dos
problemas, e até era um tanto ou quanto previsível que Ben acabasse por ter um reviravolta
no seu aspeto físico. Maioritariamente todos se tornaram profissionalmente bem-sucedidos e este é um ponto interessante num filme que aborda bem de perto a
questão do bullying. Afinal de contas nunca sabemos o que reserva a vida
para aqueles que estão à nossa volta.
A produção da
longa-metragem tem um aplauso prévio pela escolha do elenco adulto do projeto. Nota-se
uma clara atenção para manter alguma coerência com a fisionomia dos “Losers”.
Mais do que olhar para grandes nomes de Hollywood, apesar de os ter, perfeitamente
encaixados, provaram que é possível manter as expectativas dos fãs e alguma
lógica dentro de uma franquia, sem nos esculachar um ator completamente diferente
a encarnar um personagem que já conhecemos. Do seu lado têm ainda o facto de
que It já estava previamente pensado com uma continuação, e por isso não
é difícil ficarmos com a ideia de que as versões jovens já possam ter sido escolhidas
com base nas suas fases adultas e não o contrário. Mas de qualquer forma o
cuidado existiu e por isso já merece alguns pontos a mais na comparação com
outras histórias. O mesmo acontece com os cenários, que pela proximidade de
execução dos dois filmes, conseguiram manter-se. Assim como o reaproveitamento de
algumas cenas cortadas do seu antecessor que caíram como uma luva neste storytelling.
Nos aspetos mais técnicos, o Chapter Two sai sem mácula pela consistência
fora da norma que oferece.
Na equação de
Terror versus Drama, o último género leva a melhor, com uma trama que se foca
muito mais num grupo de pessoas que enfrenta os seus “fantasmas do passado” do
que em algo verdadeiramente assustador. Contudo, o produto acaba por ganhar
mais nesta abordagem. O crescimento leva a que o público se importe muito mais
com os protagonistas e ainda os retira dos estereótipos habituais do género de
Horror. Nos seus flashbacks conseguimos compreender cada emoção e lição e pelo
meio ainda não é oferecida uma chuva de easter eggs para os amantes da
primeira fase. Há um casamento das duas versões dos personagens, para
entendermos a evolução e estabelecendo um contraponto das forças e fraquezas
que acontecimentos tão macabros podem trazer para o desenvolvimento pessoal de
cada um. O terror serve de pano de fundo e serve de acelerador para fazer o
enredo acontecer, mas não é o foco. O sobrenatural é quase uma personificação
dos medos, uma espécie de sonho ou numa visão mais aproximada é como lutar
contra um Boggart no universo de Harry Potter.
Apesar disto, a
Warner Bros volta a mostrar tato para lidar com o terror. Mesmo sem que ele assuma
uma parte central em It – Chapter Two, pelo menos a parte visual está lá e no ponto.
O recurso aos jump scares é usado, de forma subtil, é tudo muito mais psicológico
do que físico. Mexe com a mente dos personagens sem que cheguemos realmente a
sentir pânico. É desconcertante, porém perfeitamente acessível para abranger um
público maior do que outros títulos da empresa. Pennywise continua a ter
diálogos tão marcantes e emblemáticos como antes. No entanto, faltou-lhe espaço
dentro de um argumento que é tão autoexplicativo. A história de origem ficou um
pouco atrapalhada para que pudesse ceder os holofotes aos desaires e até ao triângulo
amoroso. Ele poderia ter sobrevivido como único vilão, e todo o plot que
trouxe de volta o rufia Henry poderia ter sido cortado se isso significasse ter
mais tempo para desenvolver o palhaço. Afinal de contas, Henry foi praticamente
irrelevante nesta sequela.
Os autores
parecem ter seguido um caminho muito mais comum dentro das franquias atuais. Se
retirarmos alguns pontos, o estilo é semelhante a outros produtos teenagers.
Maze Runner, Divergent ou algo do género. Apenas com uma adição
de terror que foge da norma e dá algum lado mais adulto à película. A base é a
mesma, é uma fórmula que funciona muito bem nas várias medias e nesta não foi exceção.
À época do lançamento da versão literária, talvez, fosse novidade, todavia com
tantos filmes sobre jovens que combatem acontecimentos macabros, It
acaba por perder parte do seu diferencial e do fator surpresa. É o projeto certo, funcional, mas que vem
na altura errada.
Ricardo Neto
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