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COMING UP | The Sun Is Also A Star



Vamos ignorar as possibilidades da veracidade da sinopse, dar espaço a alguma licença poética e pensar que todos temos uma história e que, sobretudo quando o tema é amor, impossível talvez não seja a palavra mais apropriada. The Sun Is Also A Star é o drama clássico com um toque bem atual por dar protagonismo a minorias. O amor, a distância e as probabilidades são a matemática que faz a trama correr e somadas dão um resultado bem melhor que o esperado para um romance teenager.

Tem todas as fatalidades de storytelling tão famosos e icónicos como Romeo & Juliet com a leveza necessária para agradar a um público menos erudito. Mas é o twist de colocar o foco num sítio diferente e o trazer para os dias de hoje que dá encanto e torna toda a lógica muito mais interessante. A geração adolescente e adulta atual é aquela que quer tudo para ontem, e para nós o tempo tem um valor tão alto ou tão baixo que não nos preocupamos em desfrutá-lo da melhor maneira e conhecer o que está nas entrelinhas. Ter tempo é um dos recursos do plot do filme que nos momentos mais inusitados leva os seus personagens para caminhos inversos que lhes permitem perceber que às vezes é preciso parar e respirar, perder tempo a observar numa perspetiva bem epicurista da vida. No caminho para uma reunião e para uma entrevista de emprego, Natasha, figura central da longa-metragem, perde tempo a apreciar a cidade à sua volta no último dia que tem para se salvar a si e à sua família de uma deportação eminente. É nestes intervalos de espera que surge Daniel. Um jovem asiático que carrega o peso de se tornar um orgulho para a sua família e que está prestes a conseguir vingar no mundo da medicina.


No meio do turbilhão de coisas que acontecem nas 24 horas em que tudo se desenvolve, há espaço para uma visão quase filosofia do Eu versus Família. Seja pela vontade, pela imposição em querer algo mais ou pela incapacidade de ver pelos olhos do outro, tudo é explorado através do ponto de vista do casal principal, apresentando alguns pormenores interessantes de culturas bem diferentes da ocidental. A história de vida da família de Daniel é fruto da inversão do American Dream mostrando choques culturais, enquanto Natasha representa um símbolo das dezenas de pessoas que tiveram de abandonar as suas vidas por questões políticas. Dois acertos diferentes da história e dois temas que mereciam ainda mais destaque no grande ecrã pelo impacto que têm no mundo atual.

O elenco não é perfeito, mas há harmonia entre Charles Meltan e Yara Shahidi. Não é química, mas no final é o resultado esperado numa relação tão instantânea quanto a dos seus personagens. No contrarrelógio transmitem bem mais uma sensação de parceria e forte afinidade do que propriamente a mensagem de um par apaixonado. Mas, mérito de Charles Meltan que tem planos suficientes para conseguir mostrar que existe mais talento escondido do que o que vemos em Riverdale e que de facto pode ter calibre de protagonista. Ao lado de outros atores recorrentes em romances deste género, ele acaba por subir bastantes pontos pela sua expressividade. Mais que talento, teve a sorte de lhe calhar em rifa um típico Herói Romântico, obstinado e despreocupado, dominado pelo amor e deixando de lado alguma consciência. Já Yara Shahidi é um misto de sensações, em nenhum frame conseguiu roubar a atenção para si, mas não deixou de entregar uma atuação com emoção, faltou-lhe mais conexão com o peso dramático do background da sua Natasha.


The Sun Is Also A Star, é construído com mais mensagens do que aquelas que pode explorar em uma hora e quarenta minutos. No entanto, não deixam de estar lá as menções e, por isso, consegue trazer à tona discussões interessantes que nos deixam a pensar muito mais do que normalmente um projeto deste estilo se arrisca fazer. É uma maratona bem amarrada e com conceitos interessantes e atuais aliado ao clássico, o que torna o filme num bonito embrulho. É tudo meio corrido e acelerado? Às vezes até aparenta ser algo demasiado gratuito? Talvez até seja. Mas não é com essa mesma pressa que vivemos tudo hoje em dia?

É uma história inusitada, mas não deixa de ser curioso pararmos para pensar nas coincidências que podem acontecer a partir de um simples passo. Tem laivos da narrativa de Pay It Forward, na linha de pensamento de que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, mas os ponteiros de um relógio batem um no outro duas vezes no mesmo dia.