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Fantastic Entrevista | Serenela Duarte

Foto: Tiago Iúri
Nesta edição do Fantastic Entrevista, estamos à conversa com Serenela Duarte, uma cantora  nascida em Leiria com formação em música clássica. Foi nomeada para os prémios Fantastic Melhor Música Portuguesa de 2018 com a música "O Céu Além do Mar" e acabou por vencer com mais de 30% dos votos. Nesta conversa abordamos, entre outros temas, início precoce no mundo da música, a formação musical e o primeiro single.

Inicias o teu percurso musical aos cinco anos, quando começaste a ter aulas de piano. Apesar de seres tão nova. Quando é que percebeste que querias enveredar pela área artística?
Sempre fui muito ligada à música e isso deve-se, sobretudo, à minha avó. Aos cinco anos pedi aos meus pais para ter aulas de piano e a vontade de querer fazer da música cada vez mais parte de mim foi-se desenvolvendo naturalmente. Desde que me conheço sinto que a melhor forma de me expressar é através da música e não há nada mais certo do que levar a vida a fazer aquilo que adoramos.

Mais tarde, integras o Coro da Igreja do Souto da Carpalhosa. Com que idade é que tudo começou? O que sentes que aprendeste por fazeres parte deste coro religioso?
Entrei no coro da Igreja por influência da minha avó (ela foi e é um grande marco na minha vida) quando ainda estava a aprender a fazer contas na escola. Após algum tempo, o maestro demonstrou interesse em que cantasse o Salmo a solo na cerimónia da Primeira Comunhão daquele ano e eu aceitei. Aos oito anos de idade cantei, pela primeira vez, para um público – que, posso admitir, era enorme. Esta foi uma experiência determinante para ultrapassar o medo da exposição e sentir sobre mim uma grande responsabilidade que, até então, nunca tinha tido. Hoje em dia só tenho a agradecer a esse maestro pela oportunidade que me deu e por me ter encorajado a continuar na música de forma mais séria.

Em 2011, ficaste em 3º lugar num concurso em Vieira de Leiria. Na altura, já tinhas a certeza que querias ser cantora? Porquê?
O ano de 2011 e esse concurso em particular foram muito importantes para mim. Nessa altura comecei a cantar cada vez mais em público, muito por ter passado a integrar bandas de covers e de ter começado projetos também sozinha (piano e voz). Toda a experiência do palco, de transmitir emoções, de fazer, realmente, música sempre me cativou e, nesse ano, pude experienciar tudo isso mais do que o normal para aquela altura. Por isso sim, já sentia que era a cantar que me sentia verdadeiramente eu.

Foto: Tiago Iúri

És natural de uma aldeia chamada Várzeas. O facto de teres crescido numa terra pequena, condicionou o teu contacto com o meio artístico? Ou, por outro lado, pode até considerar-se um privilégio no que toca à inspiração e criação?
É natural pensar-se que crescer numa pequena aldeia possa ser, de certa forma, limitador, porém não foi, de todo. Na região sempre houve imenso contacto com a música – desde bandas a associações, a escolas de música ou meros jovens que ensinam os mais pequenos. Várzeas é uma aldeia do concelho de Leiria e Leiria é musicalmente bastante ativa (e tem-no sido cada vez mais), o que acaba por ser um privilégio para os leirienses - no que diz respeito ao contacto com a música, estamos a caminhar muito bem.

Achas que a tua formação e experiência musical te podem permitir ir mais longe na música?
Desde muito nova que me habituei ao palco e ao público e tenho apostado seriamente na minha evolução. Neste momento estou a dar os meus primeiros passos no projeto mais sério que tive e acredito, plenamente, que, se caminhar cuidadosamente e no sentido certo, as consequências (boas) virão.

“O Céu Além do Mar” é o nome do teu primeiro single. Como é que o tema tem sido recebido?
“O Céu Além do Mar”, desde o seu lançamento, tem sido muito, muito bem recebido. Nas primeiras horas, lembro-me de receber inúmeras mensagens e telefonemas a congratular o projeto, quer pela música, quer pela letra (ambas de Ricardo Silva). Nada me deixou mais feliz do que ver as pessoas gostarem, verdadeiramente, do nosso primeiro tema.

Foto: Tiago Iúri
Foste a vencedora da “Melhor Música Portuguesa 2018”, tendo o teu single sido eleito pelos leitores do Fantastic. Esta distinção foi importante para ti? Porquê?
Senti que a própria nomeação por parte do Fantastic foi verdadeiramente gratificante. Naquelas duas semanas estive em constante êxtase por ver o meu trabalho e o de toda a equipa ser reconhecido junto de nomes tão notáveis e não há nada melhor que vermos o nosso primeiro trabalho neste patamar! A distinção foi completamente inesperada – mesmo por ter sido o público a votar – e, para além de agradecer imensamente ao Fantastic, agradeço, novamente, a todos os que me ajudaram a alcançar a conquista. Deram-me, de facto, ainda mais força para continuar a trabalhar.

Já estás a pensar no lançamento de novos temas? E um álbum de originais, está dentro dos teus projetos?
Neste momento estou a trabalhar com a equipa na produção do EP de originais a sair este ano, no qual “O Céu Além do Mar” estará incluído. Será um disco diferente, que junta pessoas de diferentes estilos num só e estou muito contente pela peculiaridade que está a tomar.

Quais são as tuas principais influências artísticas?
Sempre ouvi um pouco de tudo, nunca me concentrando apenas num só estilo. O fado apareceu primeiro na minha vida, por isso o fado e a música tradicional portuguesa estão um pouco em tudo aquilo que faço e mesmo na minha própria forma de cantar. À parte disso, procuro beber sempre de diferentes géneros, como o pop, o jazz ou até o funk. Acredito que fazer experimentações destas (bem-sucedidas, claro) apenas fazem da música mais rica, mais singular.

Se pudesses escolher apenas um livro, uma música e um filme, quais escolherias? E porquê?
Há um mês terminei aquele que é o livro mais fascinante que já li: Solaris, do visionário Stanisław Lem. É um livro bastante atual, apesar de ter sido publicado na década de 60, que aborda questões filosóficas verdadeiramente profundas. Vivi muito este livro e, muitas vezes, dei por mim a pensar intensamente naquilo que tinha acabado de ler. Recomendo vivamente!

Escolher uma música, para mim, é um verdadeiro desafio. Por mais que tente, nunca me consigo decidir, por isso seguirei o que tenho ouvido mais: Hideaway, de Jacob Collier.

Quanto ao filme, não há dúvida alguma! La La Land é o filme da minha vida, quer em termos técnicos, quer em termos da história. A música, a meu ver, está brilhante e o que mais me fascina é o facto de que foi tudo pensado exatamente ao pormenor.

Foto: Tiago iúri

Com que artista português gostarias de colaborar e porquê?
Tenho acompanhado o trabalho do Tiago Nacarato e tenho adorado. Desde que se deu a conhecer acho-o um verdadeiro músico, que transmite tão bem aquilo que está a dizer e que nos faz sentir exatamente a emoção daquilo que canta. Gostava muito de colaborar com ele, pelo menos, num tema.

Quais são as principais dificuldades que tens sentido em afirmar-te no mundo da música em Portugal?
Apesar de sempre ter vivido a música, neste momento, ainda estou a dar os meus primeiros passos, mas noto muito que há uma certa indiferença, em geral, relativamente aos artistas. Ser artista, em todas as suas vertentes, não é, ainda, ser levado com seriedade. Mas acredito que, eventualmente, isso mudará.

Que conselho dás a pessoas que queiram enveredar por uma carreira na música?
Treinem, toquem ao vivo, mostrem trabalho e nunca parem.

Começaste o teu percurso na música muito cedo. Se, por alguma razão, não tivesses seguido esta área em termos profissionais, o que gostarias de fazer?
Sou uma pessoa muito comunicativa e muito dada às pessoas. Ver-me-ia a trabalhar no contacto direto com o público ou até mesmo na área da comunicação.

Até onde gostavas que a música te levasse?
A música tem-me levado a lugares fantásticos e a conhecer pessoas maravilhosas e muito talentosas. Gostava que o continuasse a fazer. Quero muito aprender e trabalhar com todos aqueles que, como eu, são apaixonados por esta arte.

Fantastic Entrevista -  Serenela Duarte
Por André Pereira e Joana Sousa
Abril de 2019