COMING UP | Pedro e Inês
“Renascendo de
século em século para toda a eternidade”. É este o mote de Pedro e Inês.
Portugal é fado, é saudade, mas é sobretudo um país que vive imbuído na sua pátria
e no amor. Trazendo de volta uma das lendas mais revisitadas da nossa história,
a paixão de D. Pedro e D. Inês de Castro é o ponto de partida para a
longa-metragem que arrisca num storytelling
diferente do habitual.
A tragédia permanece
viva com várias adaptações, há sempre mais que uma forma de nos contar aquilo
que faz parte do imaginário. É na mudança de visão que se baseia este projeto.
Diogo Amaral é o herdeiro da coroa nacional, o filho do capataz, o arquiteto e
o homem louco que procura vingança. É o nosso guia, através das palavras de
Rosa Lobato Faria, num plot que atravessa
três linhas temporais sem perder o fio condutor: o amor.
O tom da
narrativa é tão pesado quanto o espectável para um projeto que fala de um
drama, cujo final todos conhecemos tão bem. Conseguimos enquadrar-nos no século
XIII no momento que o infante é apresentado pela primeira vez a Constança,
saltando depois para um casamento de obrigação num ritual quase tribal, e ainda
conhecemos as versões da atualidade dos três membros do Triângulo Amoroso.
O elenco é de
luxo. Há um acerto enorme em manter as características de personalidade de
algumas das personagens. São esses pormenores que sincronizam toda a trama e lhe
atribuem criatividade. Pedro é, talvez, o melhor exemplo disso. Em todas os
segmentos não permanece apenas o sentimento por Inês, mas, também, a frustração
e mágoa por trair Constança, a relação tensa com o pai e a atitude critica com
a mãe. João Lagarto é um destaque neste ponto. É como se D. Afonso reencarna-se
realmente em todas as épocas retratadas. A austeridade e egoísmo são intocáveis
transmitindo, realmente que todos aos períodos são uma sequência de um “destino
cruel”.
Por outro lado, há
uma falha quando se trata de retratar Constança e de a trazer para o presente.
Apesar do excelente trabalho de Vera Kolodzig, a personagem não é linear, não
mantém a essência, invertendo a ideia de tudo é envolvido no mesmo universo.
O final consegue
romper com a tradição, apresentando-nos como seria o desfecho deste amor em
cada espaço e tempo. Num mundo em que a mudança é constante, sobretudo na consciência
coletiva e na maneira como lidamos com situações como a traição, a solução
encontrada foi a chave perfeita para dar ao espectador um choque de realidade.
Destaque para o final do arco da atualidade, que poderia perfeitamente ter sido
inspirada numa notícia da CMTV.
Não é um filme que
consiga agradar a todos. Mas é coeso, com um timing justo para a proposta ambiciosa
de juntar três realidades num único projeto. O elenco é o destaque maior, com especial
foco em Diogo Amaral e na sua representação da loucura. É diferente, mesmo
sendo uma história tão esmiuçada, não será certamente a última leitura deste amor,
mas é, sem dúvida, uma das formas mais criativas de o fazer.
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