COMING UP | The Chilling Adventures of Sabrina
Depois de
uma primeira parte focada na família e na aceitação, Sabrina Spellman regressa
com a sua história para tocar pontos fortes da atualidade: O empoderamento
feminino e a autodescoberta.
Há espaço
para bem mais que feitiços e conversas satânicas sobre a Igreja da Noite, na
segunda parte da série da Netflix. O foco é fazer crescer os seus personagens
num ritmo semelhante ao percurso adolescente, mas mergulhado num universo fantástico.
Saltámos o período de introdução, e se já conhecemos Harvey, Hilda, Zelda,
Ross, Susie, e todos os outros, é hora de lhe dar camadas, de os desenvolver.
Vamos imaginar que toda a série é uma alegoria ao crescimento, a primeira leva
de episódios foi o início da puberdade com as pequenas descobertas em destaque,
já os novos episódios representam o desenvolvimento e construção de
personalidade.
Claro que
Sabrina não é linearmente uma alegoria. Contudo, praticamente todos os membros
do círculo íntimo da jovem bruxa encontraram algo novo sobre si próprios no
desenrolar do plot. Susie talvez seja
uma das transformações mais impactantes. Inspirada pelos ensinamentos da avó,
como nos é revelado anteriormente, descobre a coragem para assumir quem realmente
é. Susie dá lugar a Theo, um jovem rapaz que habita no corpo de uma rapariga e
que tem de enfrentar o Bullywing para se conseguir afirmar. Pelo meio, surge a
mensagem da igualdade de género e o fim da representação do que é feminino e
masculino.
A luta
contra o preconceito caminha de mão dada com toda a trama. A misoginia e
desvalorização da mulher é um dos lemas, que começa logo no primeiro episódio
com Sabrina a concorrer ao lugar de Top Boy, uma espécie de Delgado de Turma
dos estudantes do Coven da Academia
das Artes Ocultas. Os discursos de Blackwood, o Sumo Sacerdote da Igreja da
Noite, a mulher-objeto, o assédio, e o estereótipo. Tudo é abordado de forma
séria como chamada de atenção para uma questão que em pleno século XXI continua
a existir. Em cada episódio conseguimos encontrar uma trajetória de uma
personagem que tenha sido alvo da subjugação. Os estereótipos são usados como
inspiração para o argumento que brinca com os ciúmes e com a inveja alheia.
O fim do
mundo volta a ser a base de tudo. Cansado destas repetições de temas? Calma!
Bem ao género de Supernatural,
Lúcifer desce à terra, mas com prioridades renovadas. Sim ele quer gerar o
apocalipse, mas primeiro coroar Sabrina como Rainha dos Infernos. Sim, vamos
conseguir aplicar muita da mitologia que Sam e Dean Winchester nos ensinaram,
desta vez num universo alternativo em que o próprio inferno e seus devotos se
viram contra o criador. A dinâmica é diferente e apesar dos pontos comuns, o
que encontramos é apenas uma justificação para as ações da Professora Wardwell,
ou melhor Lillith.
Zelda e
Hilda continuam a ser destaques no elenco com toda a sua dose de humor negro,
mas também pelo seu desenvolvimento pessoal, na descoberta de novos objetivos.
Assim como Prudence que nesta season
descobre que nem sempre o que mais queremos é o melhor para nós. Numa série
cujo público-alvo são adolescentes, Prudence é a representação da repressão dos
pais, enquanto Blackwood, é um exagero da forma como um pai pode influenciar as
decisões dos filhos.
The Chilling Adventures of Sabrina
intensifica a mesma abordagem noir e
estilo narrativo de Riverdale. Apesar
de se arrastar no início. Falta-lhe uma base sólida para conseguir avançar sem
estar constantemente a autoexplicar-se. No entanto, a partir de meio da
temporada seguimos um percurso inverso com um desenrolar de histórias em
catadupa. Tudo aparece, tudo acontece. Pode até gerar algum desconforto, pois
tudo é resolvido de forma abrupta. Mas não é. Há espaço para criar um elo em
tudo o que acontece sem quebrar convenções.
Com parte 3
e 4 em produção, o produtor Roberto Aguirre-Sacasa já nos fez concluir que os
acertos vão continuar a existir, num olhar atento às minorias e a questões bem
polémicas, mas com a leveza de um drama teenager.
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