COMING UP | Black Panther
Chegou a hora da academia reconhecer o sucesso dos filmes
de super-heróis. Depois de já ter dado destaque a algumas performances de
atores em longas do género, a 91ª edição dos Oscars surpreendeu ao incluir na
lista de nomeados ao galardão de Melhor Filme a história do guerreiro de
Wakanda. Mas porquê esta escolha? E porquê agora?
Black Panther tem uma visão diferente, mas coerente com o
universo compartilhado da Marvel no cinema. É um filme de história como foram
os que acompanharam a trajetória de Iron Man, Captain America ou Doctor
Strange, mas a ótica diverge na envolvência do personagem. A história da cidade
fictícia de Wakanda com todas as suas tradições, remete a outros universos de
culto que preenchem os ditos serões de domingo à tarde, Avatar é apenas um dos
muitos exemplos que podiam ser dados, num total e desconhecido mundo novo. Não
é algo nunca visto num filme de super-herói, ou não tivéssemos histórias que se
passam em cidades ou planetas com costumes bem dispares, mas tem a vantagem de
ter associada a si um modernismo bem atual e contemporâneo com a sociedade que
temos hoje.
Wakanda é um poço sem fundo de conhecimento tecnológico com
uma pitada de surrealismo naquilo que imaginamos que possa vir a ser o futuro
da humanidade. Contudo, se olharmos a fundo para o interior encontramos uma
separação tribal e algo ultrapassada, que gera um casamento bem interessante
entre os tempos antigos e modernos e torna todo o universo mais rico.
O percurso de T’Challa, o homem que receberá depois o
título de Black Panther segue a típica jornada dos guerreiros que lutam para
ascender ao posto de Rei. Não há muito a apontar de diferente nas suas lutas,
mas há todo o misticismo que se torna um ingrediente interessante para quem é
fã do fantástico. Aliás, falando em fantástico, o sucesso do filme parte de uma
mistura perfeita de géneros. Nota-se um cuidado maior para abranger não apenas
quem é fã do género de Super-Herói, mas ainda conseguir atingir o Sci-Fi, o
Fantástico, o Drama, a Ação e ainda com uns tons de Comédia pelo meio, ou não
estivéssemos a falar de um filme do Marvel Studios.
Nos pontos positivos, Angela Basset, Chadwick Boseman e a
promessa de Hollywood, Michael B. Jordan conseguem a proeza de mergulhar no
universo tribal. A caracterização é o apoio perfeito para a construção das suas
personagens, mas nota-se algum empenho em nos fazer acreditar que tudo aquilo
é, de facto, real e poderia estar a acontecer ao nosso lado. E não é por acaso,
que um dos três Oscars recebidos foi precisamente o de Melhor Guarda-Roupa.
Voltando ao início, Black Panther foi nomeado. Mas porquê
este filme em específico? Além de se tentar demarcar do que já estamos
habituados e da história mais que batida, este é também o primeiro projeto solo
dado a um ator de ascendência africana no MCU (Universo Cinematográfico da
Marvel), o que talvez seja um dos pontos que levou Hollywood a colocar a trama
nos seus radares. Os votantes e a organização do certame têm encontrado vários
dedos apontados a si pela falta de representatividade cultural.
Em 2019, a cerimónia perdeu o seu pivot principal depois de
serem descobertas algumas publicações racistas de Kevin Hart no seu Twitter. A
retirada do comediante do comando da edição poderá ter sido uma sequência da
maior atenção para estas temáticas depois do surgimento da hashtag
#OscarsAreSoWhite. O movimento surgiu em 2015, depois de o anúncio dos nomeados
para os prémios de representação não incluírem nenhum indicado que não fosse
caucasiano.
Polémicas à parte, Black Panther é um filme familiar, que
consegue transportar-nos para um sítio diferente de forma leve. E que apesar de
conter algumas referências às histórias dos Avengers, consegue ser visto sem
problemas por um leigo em matéria de Super-heróis.
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