COMING UP | Snu
Cinema
Português é sempre um ponto controverso. Há quem adore e quem deteste, mas
poucos serão os que podem apontar o dedo a Snu. Dirigido com coerência, a longa-metragem
é mais uma prova de que apenas para um leigo a cinematografia nacional está
morta. Tem acertos no elenco e na narrativa, que são em tudo semelhantes ao
modo biográfico “Hollywoodesco”.
O filme
relata a cronologia do amor de Snu e Francisco Sá Carneiro fazendo-se valer da
história dos dois para apresentar o contexto de um Portugal pós-25 de Abril.
Viajamos pelas eleições partidárias, por uma editora Dom Quixote bem diferente
da habitual e, ainda, por aquilo que era o início do escrutínio da vida privada
das grandes figuras nacionais.
É tudo isto
embalado num plot romântico que garante uma conexão plausível pela escolha do
elenco competente. Inês Castel-Branco entrega uma prestação cheia de maneirismos,
que convence. Carrega todas as emoções da primeira metade do filme com a
empatia que podemos esperar de uma mulher com o passado e ascendência que tinha
Snu Abecassis.
Os diálogos
foram o único aspeto que me fez perder a atenção na fase inicial do filme. Demoramos
a habituar-nos à sua construção. Nas primeiras cenas é possível que estes nos
façam duvidar da qualidade da produção. Contudo, rapidamente percebemos que
apenas estamos a ser introduzidos a uma época diferente, com uma classe erudita
que justificam perfeitamente a orquestração das falas.
Há cheiro a
prémios. É a mesma sensação que existe quando somos convidados a assistir a uma
superprodução que é elaborada a pensar nos Academy Awards ou nos Bafta, mas à
escala portuguesa. Pelo estilo, pelo guarda-roupa, pela construção dos personagens
históricos. Quem sai do cinema sabe que o próximo Globo de Ouro será de Inês
Castel-Branco, merecidamente.
Snu, foge dos
géneros que socialmente todos acham que são os únicos feitos em Portugal. Não é a comédia esculachada, nem o drama intrínseco
que nos perde na sua profundidade. É comercial, mas é coerente, tem jogos
narrativos interessantes como o início ser a chave final que encadeia toda a obra.
O elenco ajuda a levar a realização de Patrícia Sequeira para o rumo pretendido.
O filme é Inês, é Pedro Almendra, é Ana Nave. É um resultado feliz de uma boa
combinação de talento com uma história que realmente precisa de ser contada.
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