COMING UP | Green Book
Em pleno século XXI falar de diferença, ainda, é importante e o vencedor do Oscar de Melhor Filme traz de volta muitos debates sobre a atualidade com uma história ambientada nos anos 60. Green Book tem as doses certas de comédia e drama e é um verdadeiro show de representação de Mahershala Ali e Viggo Mortensen.
A premissa tem laivos da sinopse de Intouchables e o mesmo tom de Captain Fantastic, filme de 2016 que guiou de novo a carreira de Viggo Mortensen nos holofotes do Oscar. Dois estranhos acabam por se cruzar de forma improvável para viverem a maior aventura das suas vidas numa jornada em que o preconceito é substituído pela amizade e as diferenças sociais se tornam matéria de humor.
Tony Lip (Mortensen) fica sem emprego para garantir o sustento da sua família. Depois de ter impressionado algumas pessoas influentes ao serviço do bar Copacabana, o seu nome chega aos ouvidos de Don Shirley (Mahershala Ali), um dos mais conceituados pianistas do momento que procurava um motorista. Até aqui tudo bem, não fosse o longa nos ter mostrado o preconceito de Tony com os negros e Shirley ser uma pessoa de cor. Além do racismo, as diferenças sociais entre os dois são enormes e promovem alguns dos melhores momentos do filme com as duas personagens a tentarem adaptar-se às exigências do outro.
Há um sentimento paternal que é conseguido pela brilhante atuação dos dois atores. Numa das cenas, Tony atira um copo vazio pela janela do carro sendo imediatamente obrigado pelo patrão a recuar e a apanhar o lixo. O inverso acontece com o motorista a lutar a todo o custo para fazer frente à discriminação de que Shirley era alvo sempre que ficavam num hotel, jantavam ou fossem às compras. Numa clara luta contra o “Green Book” que indica os sítios ou coisas às quais quem não for caucasiano tem acesso, é um longa que se insurge num assunto que ainda não é banal nos dias que correm. Deixando de lado a melancolia habitual ao tema, a comédia acaba por roubar a cena numa pespectiva bela de o reinterpretar.
“O lugar dos negros” naquela época é o pontapé de partida para a história dos dois homens, mas o filme faz-se valer de bem mais do que desta tónica importante, mas tão explorada na Sétima Arte. É uma história familiar, que educa para um período histórico ou para a forma como nos devemos comportar na sociedade. É emocionante e afetivo na medida certa.
Dos cinco Oscars aos quais concorria conseguiu agarrar três, justos. Apesar da derrota de Viggo Mortensen como melhor ator, a vitória do intérprete de Don Shirley é um consolo para os fãs e quem assistir a esta história vai conseguir perceber logo o porquê da justiça da entrega da estatueta ao ator.
O roteiro tem tudo o que precisa e faz de Green Book um filme que qualquer cinéfilo que aprecie o género vai querer ter à mão para rever quando quiser. Não é o melhor filme que já vi mas entra na lista dos meus favoritos.
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