Fantastic Entrevista - Xande
Foto: Manuel Casanova |
Cantor, compositor e produtor, Xande lançou o seu primeiro single, We're Bad News, em fevereiro de 2018. A música foi eleita pelos leitores do Fantastic como a segunda melhor canção do ano. Xande nasceu em Setúbal e, desde pequeno, teve um forte gosto pelo mundo da música. Com um EP lançado em junho do ano passado, Xande é o nosso convidado nesta edição do Fantastic Entrevista.
Como é que surge o teu projecto como Xande?
O plano era ter More Than a Thousand e Xande tudo ao mesmo tempo, mas como ainda não tinha tido a coragem para me expor totalmente ao público que me seguia em More Than a Thousand, ficava com ideias soltas “na gaveta”. Quando esse projeto acabou, eu senti necessidade de escrever, pedi ajuda ao Filipe Survival na produção. Como ele me conhece a 100%, foi muito simples. Eu levava uma ideia da guitarra e voz e, juntos, criámos uma música por dia. Ao fim de seis dias tínhamos o meu primeiro EP, "It is what it is".
Qual a origem do teu nome artístico?
O meu pai chama-se Vasco Ramos, ele teve o primeiro filho (o meu irmão, oito anos mais velho do que eu) e chamou-lhe Vasco Miguel. Não estava nos planos terem mais um filho, mas depois apareci eu. O meu pai não queria que eu crescesse a pensar porque é que o meu irmão tinha o mesmo nome do pai e eu não. Por isso chamou-me Vasco Alexandre. Como éramos três 'Vascos' em casa, o Vasco era o meu pai, o meu irmão Miguel e eu sempre fui Xande, porque Alexandre era comprido (risos). Então desde que me lembro que sou mais Xande para familia e amigos do que Vasco.
As músicas do teu EP são todas escritas inteiramente em inglês. Existe alguma razão para teres as músicas apenas em inglês?
Eu adorava que me saíssem naturalmente letras em português, mas desde pequeno, mesmo sem saber falar inglês, eu fingia discursos numa língua inventada (risos). Na escola, tinha 100% nos testes de inglês e em português tinha sempre negativa, nunca soube porquê. Mas tenho muito respeito à nossa língua e aos artistas que escrevem bem em português. Aliás, eu lancei uma música em português no dia 25 de Dezembro de 2018, dedicada aos meus pais. Chama-se "Os Meus Velhos" e é como um desabafo meu. Pode ser que com o tempo eu venha a melhorar a escrita em português, o suficiente para poder partilhar convosco.
Porquê só agora?
Foi quando, literalmente, tive coragem para me sentar e não me preocupar com outro sonho. Acho que foi também por me começar a conhecer melhor, pois passei uns momentos menos bons onde tive de procurar ajuda médica e, como se costuma dizer, há males que vêm por bem. Foi das melhores coisas que me aconteceu na vida, pois agora sou muito mais saudável psicologicamente e fisicamente do que alguma vez fui. Às vezes é preciso batermos no fundo para nos levantarmos e vermos quem realmente somos e o que queremos para nós, não o que os outros querem de nós! Muito importante! E isto é uma das “coisas” que quero para mim.
Tal como referiste, o teu EP chama-se "It Is What It Is". Qual a razão da escolha deste nome?
Sinceramente foi por eu estar à procura de mim mesmo musicalmente e saber que talvez fosse levar com críticas de amigos e desconhecidos, que eu devia ser isto ou aquilo, que deveria escrever em português ou inglês ou que não devia ter um projecto a solo calmo, por exemplo. Cheguei ao fim do dia na casa do meu irmão Filipe Survival, olhámos um para o outro e dissemos “Olha, It is what it is, né my man?" (risos) E assim ficou. É a realidade.
Tornaste-te conhecido como vocalista da banda More Than a Thousand. Do que é que tens mais saudades?
Tenho saudades dos concertos, da energia pura que sentia, das pessoas aos saltos e aos gritos e a deixarem tudo o que tinham ali, quase como terapia. Tenho saudades de conhecer pessoas humildes e corajosas o suficiente para nos virem dar força com simples palavras que para nós “músicos/artistas” tanto precisamos ás vezes, para nos dar aquele “propósito” e esperança. E tenho ainda saudades dos meus irmãos, mas estou constantemente com eles. Ou em almoços e jantares, ou quando trabalharmos juntos em projectos musicais, ou ainda através de chamadas telefónicas só para não dizer nada de especial. Mas está lá sempre a intenção. Tenho saudades de estarmos todos aos gritos na carrinha a rir.
Quais são as tuas principais influências musicais?
Eu oiço mesmo muita coisa... mas para Xande gosto de pensar assim em exemplos como Deftones, Sigur Rós e Aerosmith. Estes estão-me sempre no sangue. Gosto de música dos 80 e 90, com a liberdade das bandas sonoras de filmes... Thomas Newman, James Horner, Hans Zimmer. Coisas mais recentes, sinto a FKA TWIGS, Adele, Sia, Miguel, Rihanna, Dua Lipa. E um pouco mais antigo, mas sempre bom, temos o Rui Veloso e Pedro Abrunhosa.
A tua música tem um som bastante internacional. Tens o objectivo de te internacionalizar?
Sim, claro. O meu sonho desde miúdo é tocar TOURS, ou seja, tocar todos os dias, apenas com um ou dois dias off por semana. Infelizmente o nosso país é pequeno e não podemos cansar as pessoas sempre a repetir os mesmos artistas. Sendo assim, tenho de sair para fora também, tal como saí com More Than a Thousand e correu lindamente depois de muito esforço.
Como tem sido a recepção dos teus fãs e amigos ao trabalho que tens realizado?
Tem sido muito positiva, estão sempre a incentivar, apoiar e a partilhar, o que é muito importante. Já o Rick Ross dizia: "Os teus amigos têm de ser os primeiros a partilhar". E felizmente os meus têm-me apoiado muito.
Para além de cantor e de letrista, és também produtor. Quais são os maiores desafios como produtor?
Um produtor, a meu ver, tem um trabalho muito parecido ao de um psicólogo. Temos de tentar entender as pessoas, o que elas estão a tentar dizer, para onde querem ir e, por fim, dizer para onde nós achamos que é o caminho certo (que nada é certo). Mas pronto, no fundo é a visão do produtor para aquele artista, sem ofender ou ferir os egos das pessoas, explicar o porquê e como podemos atingir o objectivo em mente. Parece simples mas nem sempre é. Existem músicos muito fechados e é difícil fazê-los tentar criar fora da zona de conforto. Mas com muita calma e paciência consegue-se sempre chegar a uma boa visão e trabalho de equipa.
Com que artista português gostarias de colaborar e porquê?
Adorava colaborar com o Rui Veloso. Sinto bué o feeling dele, é uma coisa que não sei explicar. Ouvi-lo faz me sentir em casa e compreendido. Adorava colaborar com a Carminho, pois é uma força dura da natureza e eu podia trazer algo de diferente a uma canção de Fado. Adorava colaborar com a Blaya, já desde os More Than a Thousand que sou fã da energia dela. É mesmo “real”, tal como eu, e como são dois mundos opostos musicalmente adorava encontrar um meio termo. Acho que ia ser muito bom. Adorava colaborar também com um dos maiores songwriters português, o Agir. Sinto tudo o que ele faz não sei porquê, gosto sempre genuinamente! Adoro o Piçarra, acho que nos íamos entender musicalmente muito rápido! Adoro a onda e o vibe dele! And last, but not least, adoro o Dengaz, Regula e o Gson. Adorava dar a voz a um refrão deles ou eles a um dos meus!
No podcast da Ana Isabel Arroja indicaste que tens uma paixão por música de bandas sonoras. É um sonho fazeres música para um filme?
Sim, amava! Ia deixar-me muito nervoso. Aliás, só de pensar já fico (risos). Mas adorava ter uma honra dessas! Eu tenho um filme escrito por mim, desde 2009. Pode ser que um dia ele venha a ver a luz do dia e eu me estreie. Seria dois em um!
Para que género de filmes gostarias de fazer uma banda sonora?
Romance, drama ou filme biográfico.
Se te pedisse para me indicares um livro, um filme e uma música que todos devessem ler, ver e ouvir, que títulos me dirias?
Um livro seria "Who Says You Can´t You Do", de Daniel Chidiac. Filmes, seriam dois: o Meet Joe Black e o Rocky Balboa. Uma músca não sei, mas a que estou a ouvir neste momento é “Starlit", de Thomas Newman.
Este ano a tua música "We're Bad News" foi nomeada para a votação Melhor Música Portuguesa 2018 , no Fantastic, que tem como objectivo apoiar a musica nacional. Acabou por ser eleita a segunda melhor canção portuguesa do ano. Qual é a importância deste tipo de iniciativas para os artistas?
Eu fiquei super contente, acho um sonho vocês darem a oportunidade a artistas “pequenos” como eu, com projectos que precisam de toda a ajuda possível, para chegar às pessoas. São iniciativas destas que fazem com que as pessoas dêem às vezes mais atenção a coisas que lhes estão a passar ao lado. Por isso muito obrigado pela oportunidade e pela confiança.
O que é que ainda gostavas de alcançar na música?
Nunca minto sobre isto. Em primeiro lugar gostava de poder viver somente do meu projecto, o suficiente para mim e para poder ajudar os que me rodeiam. Depois gostava de continuar a andar pelo mundo a tocar e conhecer pessoas boas, comidas boas e sítios bonitos. Gostava de fazer tours com artistas que eu gosto e colaborar com eles. Gostava de trabalhar com produtores “assustadores” de renome para poder aprender mais sobre mim e como melhorar mais como músico e songwriter.
Fantastic Entrevista - Xande
Por André Pereira e Rita Pereira
Janeiro de 2019
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