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Fantastic Entrevista - Diana Castro

Foto: RTP (Direitos Reservados)

Diana Castro é cantora e actriz, tem formação musical em Jazz. Aos 17 anos cantou pela primeira vez para um público maior, durante um campo de férias de performing arts em Nova Iorque. A partir daí, frequentou a Escola de Música de Cascais e depois  o Hot Club. Ao longo dos últimos anos o seu percurso inclui também o teatro musical, tendo participado em diversas peças. Em 2018, foi a 2ª classificada do The Voice Portugal e hoje é a nossa convidada no Fantastic Entrevista.

És cantora e actriz. Sempre tiveste necessidade de te expressar destas duas formas ou há alguma pela qual sintas mais paixão?
A música surgiu primeiro. É uma paixão mais antiga. O teatro veio como consequência da musica. Sempre fui de fazer o trabalho que me aparecia, e tive a sorte de ir dar ao teatro, onde fui descobrindo que cantar não é mais que dizer um texto com a ajuda duma melodia e de uma harmonia.

Também és professora de expressão musical. Como é a experiência de ensinar e em particular de ensinar música a crianças?
As crianças têm uma relação muito bonita e muito espontânea com a música. É maravilhoso vê-los interagir com os sons, os ritmos... O maior desafio é tentar passar-lhes os ensinamentos, sem nunca “estragar”  aquela ingenuidade e espontaneidade na manifestação das sensações, da expressão corporal, da exploração dos sons.

Cantas em espaços como casinos, hotéis, eventos privados e corporativos com o músico Luís Roquette, que também é teu marido. Qual foi o momento mais surpreendente que viveste numa actuação neste contexto? 
Eu surpreendo-me sempre que as pessoas se ligam, de alguma forma, ao que estamos a tocar. Seja porque começam a bater o pé, a dançar, ou seja porque se comovem e até choram. Tudo isto são manifestações maravilhosas do impacto que a música tem nas pessoas e que não se explica. Só se sente... E é aí, a começar em cada coração, que acredito que a música  tem a capacidade de mudar o mundo. 

E uma experiência menos feliz?
Quanto a experiências menos felizes, tive também muitas, por exemplo, quando as pessoas simplesmente desprezam um músico em plena performance. Não me esqueço de, num hotel, enquanto eu cantava, estava uma família a jantar. A dada altura  o pai deu ao filho um telemóvel para ele jogar. Um daqueles jogos que dão música e sons estridentes, tipo tetris. Esperei (tive mesmo esperança) que eles sentissem que deviam desligar  o som do telemóvel. Um som constante, que  se sobrepunha ao meu "Lullaby of Birdland", uma das canções mais bonitas já feitas, e que eu cantava acompanhada à guitarra. O som do telemóvel não foi desligado. Quero acreditar que será a própria arte a tornar estes corações mais sensíveis. Porque isto não se explica. Sente-se. E ensina-se a sentir. Aquele pai ensinou o filho a não sentir, a preferir um aparelho electrónico, a desrespeitar dois seres humanos que estavam ali de coração entregue. Gostava que as pessoas sensibilizassem o seu olhar, e conseguissem perceber que , gostando ou não de uma performance, quando um músico está a tocar, está ali todo o seu coração. Gostava que as pessoas entendessem o nível de entrega que é preciso ter. E que nunca, em qualquer ocasião quem está a receber é mais do que quem está a dar. Talvez aí mudemos o mundo.

Foto: RTP (Direitos Reservados)
Quando é que percebeste que querias enveredar pela área artística?
Sonhei desde sempre, mas sempre tive medo de descobrir que não tinha talento. Talvez por isso tenha sempre escolhido o caminho discreto de um trabalho diário e persistente . Não tanto um caminho de procura de reconhecimento imediato ou de grande mediatismo.

Quais são as tuas principais influências artísticas?
Os Pink Floyd, porque pensavam em todas as vertentes do objecto artístico, tendo o conceito sempre como a coisa mais importante. O The Wall é o exponente máximo dessa criação artística conceptual. A Ella Fitzgerald, porque cantou de tudo, sempre com a sua linguagem.

Fazes da arte a tua profissão há muitos anos e, como é do conhecimento geral, em Portugal viver do trabalho artístico é um desafio. Quais são as maiores dificuldades em viver da música?
A maior dificuldade é, no nosso país, ainda haver muitas pessoas que não têm a consciência profunda que, sim, a entrega de um músico à sua arte é total e gratuita; mas também que um músico depende da sua arte para poder pagar a luz, o gás, as fraldas dos filhos... Há muito poucos clientes que não questionam/criticam  o valor que cobras. Quase nenhum te paga com um sorriso justo ou com a atenção de um  “obrigado pelo teu trabalho”, mesmo depois de teres tocado por duas ou três horas seguidas sem pausas, sem palmas...Da minha parte tento tornar todos os espinhos em pétalas. E agradeço à vida, porque me ensinou a viver focada  no que quero dar e não à espera do receber, nem mesmo a gratidão de a quem dei.

Foste a segunda classificada no The Voice Portugal. Como foi a reacção dos teus familiares e amigos à tua participação neste programa?
Foi muito boa. Foi calma e natural. Estávamos todos muito preparados para tudo: tanto para não passar na Prova Cega, como para passar em cada uma das fases. Foi sempre tudo muito bom, tranquilo e sem deslumbramentos.


Em junho de 2016, numa entrevista com Salvador Sobral, perguntámos-lhe como avaliava a aposta neste tipo de talent-shows por parte de quem quer seguir a área musical. Ele considerou que "estes programas são programas de televisão, não de música" e "se a pessoa gosta verdadeiramente de música, deve estudá-la". Depois de participares no The Voice Portugal, gostaríamos de te fazer a mesma questão: qual é a tua opinião sobre este tipo de formatos para quem quer seguir uma carreira musical?
Em parte, não é assim tão diferente da do Salvador. Acho que tem que se estudar, tem que se trabalhar muito, fazer muito trabalho de laboratório, experimentar muita música antes de se poder dizer que se é músico. Mas eu vejo o programa como parte de um caminho. Para mim não é um meio para alcançar a “fama”, ou um troféu. É verdade que se trata de um “concurso”, mas a nomenclatura das coisas não define a motivação do Homem. E para mim, todos os lugares onde encontro oportunidade de fazer música, de criar, de partilhar arte, valem a pena. 

Sentiste então que valeu a pena participar no programa...
Lembro-me que o Salvador publicou uma vez um vídeo a fazer música numa casa de banho. De facto não importa onde, a música há-de acontecer, se houver capacidade criativa, despretensão e uma equipa com disponibilidade para criar. E tive a sorte de encontrar essa abertura na equipa do The Voice. Sei que também a soube procurar e que me esforcei para abrir esse diálogo com a equipa artística e com a Marisa Liz, em quem encontrei uma disponibilidade e uma paixão pelo trabalho fascinantes.  E por cada versão que apresentei publicamente no programa houve quatro ou cinco que enviei à direcção musical e que ficaram pelo caminho. Passei muitas noites a criar arranjos, a fazer versões... a criar! Dá muito menos trabalho pegar em algo que já foi feito e pronto. Mas não é a via que eu prefiro. Nem a que aconselho.

Quais os melhores momentos que viveste no The Voice?
Não me vou esquecer de quando a Marisa Liz me disse “Diana, eu estava à tua espera.” Ela nem sonhava, era eu que estava à espera dela.Sempre gostei daquela mulher. Acho que ela transmite Verdade, e isso fascina-me.

Foto: RTP (Direitos Reservados)

Há vários anos que estás a compor o teu primeiro disco de originais. Em que é que o The Voice te pode ajudar neste objectivo?
Não tenho expectativa que ajude mais do que qualquer outra experiência a ver com a música ou com o teatro. Espero que me dê  aprendizagem, vida, mundo interior, e pessoas com quem o partilhar. É só parte de um caminho. O meu foco é gravar e, no fim, sei que tudo vai ter feito sentido. Mas o que quero é viver de mangas arregaçadas, fazer com que aconteça.

De todos os projectos em que já estiveste envolvida, podes escolher um que te tenha marcado?
O musical Terra dos Sonhos, que esteve em cena em 2017 e 2018. Foi um processo criativo tão bonito, cheio de pessoas bonitas, todas com o mesmo foco. Viver isso muda a vida. E no fim a mensagem: não te permitas viver sem sonhar, sem estar “espantado de existir”.

Que conselho dás a pessoas que queiram enveredar por uma carreira artística?
Primeiro: estudar. tudo começa por aprender com os grandes. Segundo: não viver na expectativa do reconhecimento. Ele pode nunca vir. E ainda assim, ao final do dia, a experiência artística  tem que ter valido a pena para ti e, se possível, para quem a proporcionares.

Se te pedisse para nomeares um livro, um filme e uma música que aches que toda a gente precise de ler, ver e ouvir, quais seriam? E porque é que os escolherias?
Um livro seria "O Meu Pé de Laranja Lima", pois chorei como um bebé a lê-lo. Um filme escolheria O Fiel Jardineiro, pois fala sobre a beleza, o belo no meio do mal. Uma música seria Great Gig in the Sky, porque a música e o canto vão para além das palavras.

Como gostarias de ser recordada pelo público?
Como alguém que põe Verdade, Generosidade e muito Trabalho em tudo o que faz, mas que não perde a Simplicidade.


Fantastic Entrevista - Diana Castro
Por Rita Pereira 
Janeiro de 2019