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Segunda Opinião | "3 Mulheres"


A nova série da RTP surge a partir das biografias e da intervenção cultural e cívica da escritora Natália Correia, da editora Snu Abecassis e da jornalista Vera Lagoa (pseudónimo de Maria Armanda Falcão). 3 Mulheres é a nova aposta da estação pública, é produzida pela David & Golias, e é, possivelmente, uma das melhores séries de época dos últimos anos, em Portugal.

A história de 3 Mulheres passa-se nos últimos anos do Estado Novo entre 1961 e 1973, do início da Guerra Colonial à véspera da Revolução de Abril. A vida, a história e os percursos cruzados das três mulheres protagonistas dão o mote à trama realizada por Fernando Vendrell e escrita por Luís Alvarães e Maria de Fátima Ribeiro.

Em  3 Mulheres, a “História” faz parte da história, mas as tensões dramáticas são, também estas, particularmente interessantes. A narrativa desenvolve-se de forma a conhecermos as personagens. Estas não são meramente planas. Temos tempo para conhecer as intenções de cada uma, há o tempo certo para ficarmos a saber de onde é que ela veio e para onde vai. Os factos históricos são envolvidos na ação de forma realista e natural e, no todo, acabamos por assistir a uma série de ficção muito credível e empolgante.


A produção apresenta-nos também um elenco de luxo, composto por caras bem conhecidas dos portugueses, a começar pelas protagonistas. Maria João Bastos, Victória Guerra e Soraia Chaves parecem ser as escolhas certas para interpretar os três grandes pilares de uma história onde as mulheres assumem particular importância. Afonso Lagarto, João Jesus e Fernando Luís são o outro lado dessas três personagens, ao interpretar os respetivos maridos. 

Mas é também nos jovens talentos, desconhecidos para muitos dos espetadores, que se encontram alguns dos maiores destaques de  3 Mulheres. Dois exemplos desta nova geração de atores que merecem atenção são Iris Cayatte e Rita Cabaço. As duas atrizes, habituadas a brilhar em trabalhos no cinema e em teatro, provam em 3 Mulheres que todos os papéis são importantes numa história. 

É certo que Iris Cayatte já fez parte do elenco de telenovelas como Belmonte ou Amor Maior, mas é no cinema que até agora tinha mostrado realmente o que valia. Em  3 Mulheres, regressa à televisão no papel de Margarida Tengarrinha, a irmã de José Manuel (Afonso Lagarto).  

O caso de Rita Cabaço é diferente. A atriz destacou-se no início de 2018, depois de vencer os Prémios Autor e o Globo de Ouro para melhor atriz de teatro, pelo papel na peça A Estupidez, de Rafael Spregelburd. Na sua estreia em televisão, Rita é a criada Belinha, um papel secundário para a trama, mas que ganha uma maior dimensão com a interpretação da atriz. 

Do elenco secundário mais jovem, destaque ainda para nomes como Isac Graça, João Arrais João Pedro Dantas, Nídia Roque, Nuno Casanovas, Rodrigo Tomás ou Sérgio Coragem.

É recorrente a ideia de que um produto televisivo que se aproxime da linguagem cinematográfica acaba por ter uma qualidade superior – seja pela fotografia, pela realização ou até pelo argumento e estrutura da narrativa. Em 3 Mulheres, estas várias vertentes fundem-se de uma forma harmoniosa, não havendo qualquer tipo de pretensiosismo para que uma se destaque. 

Isto é, tecnicamente 3 Mulheres resulta muito bem – a fotografia de é acertada, a realização de consegue trazer alguma novidade ao que se faz (destaque para o plano final do primeiro episódio, em que Maria Armanda Falcão é abordada, em casa, pelo agente da PIDE) – mas a história é também fundamental para nos prender ao pequeno ecrã.

3 Mulheres não será um sucesso de audiência – porque a tendência nunca será essa – mas será, certamente, um marco positivo no que se faz na ficção nacional. Se serviço público deve ser sinónimo de qualidade e alternativa, a RTP está de parabéns pela aposta numa série como esta.

Segunda Opinião - 134ª Edição 
Uma rubrica em parceria com o
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