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Fantastic Entrevista | Nuno Bernardo

Fotografia: Direitos Reservados

Nuno Bernardo lidera a beActive Entertainment, a produtora portuguesa responsável por formatos como Amnésia, O Diário de Sofia, A Família Ventura ou Os Jogadores. O Fantastic esteve à conversa com o produtor, realizador e argumentista, que já foi nomeado três vezes para os prémios Emmy Awards, venceu dois prémios Kidscreen e conta com dezenas de outras nomeações e distinções.

O Nuno Bernardo lidera a beActive Entertainment, uma produtora que tem sido responsável, ao longo dos últimos anos, por uma série de produtos para cinema e televisão que pretendem ser inovadores. Fale-nos um pouco do seu papel na empresa.

Em 2003 fui o fundador desta empresa que tinha como objetivo explorar a ligação entre a arte de contar histórias e as novas tecnologias. Daí surge a nossa especialização na criação de formatos interativos pensados para as plataformas digitais. Nos diferentes projetos que a empresa foi criando e produzido ao longo dos anos ocupei o papel de guionista, produtor e em raras ocasiões de realizador.

Em 2003, O Diário de Sofia foi uma das primeiras produções da beActive, tendo obtido um enorme sucesso junto do público português pela novidade e interactividade. Quão importante foi este produto para o arranque de outras produções?

O Diário de Sofia foi criado para ser uma espécie de montra daquilo que era a minha visão e a visão da empresa sobre o que seria a televisão do futuro. O objetivo era explorar a interatividade, a distribuição de conteúdos multiplataforma e a arte de contar histórias enquanto experiência social (que agora é presente no entretenimento através das redes sociais). O sucesso desta nossa primeira série, não só em Portugal, mas especialmente a nível internacional, veio comprovar que a nossa visão estava em linha com as preferências dos espetadores e a tendência do mercado.


Tal como referiu, a série acabou por ter também impacto a nível internacional...
Sim, em 2006, a venda de O Diário de Sofia à Sony Pictures Television abriu-nos portas a nível internacional. Basicamente colocou-nos no mapa e permitiu que estivéssemos envolvidos em projetos em diferentes partes do globo, nomeadamente a coprodução das séries “The Line” e “Living in Your Car” no Canadá para a HBO, a coprodução de “O Diário de Sofia” nas suas versões inglesa e chinesa, a produção no Brasil de “O Castigo Final” e, acima de tudo, a confiança de distribuidores internacionais que permitiram que as nossas séries e formatos começassem a ser distribuídos em dezenas de países.

Em 2017 surge Amnésia, uma produção multiplataforma produzida no âmbito do projecto RTP Lab. Acha que esta aposta da RTP é importante para a criação de diferentes linguagens narrativas e televisivas?

A aposta da RTP no LAB, especialmente por ser a primeira e, infelizmente, única iniciativa do género em Portugal é essencial para a criação de novos talentos e dar espaço à experimentação de conteúdos, formatos e novas formas de contar histórias.

Amnésia foi, recentemente, licenciada a uma empresa norte-americana, a Keshet Digital Studios, para uma possível adaptação internacional. Para sim, quais são os ingredientes desta produção que despertaram o interesse nesta compra?

É sempre uma pergunta difícil de responder porque nunca sabemos o que leva o comprador a contatar-nos e a adquirir o nosso produto, mas pelas conversas que fomos tendo, para além da história e das personagens, o que interessou à Keshet foi a forma como usamos o Instagram (e as Insta Stories) interligadas organicamente com a narrativa linear.

Nos Estados Unidos as redes sociais, nomeadamente Facebook, Instagram, Snapchat e outras, operam como canais digitais, adquirindo e produzindo séries para as suas plataformas. Esta nossa experiência na criação e adaptação de conteúdos às plataformas e redes sociais foi vista pela Keshet como uma mais valia.

Alda Gomes e Marco Costa são dois dos atores que fazem parte do elenco de "Amnésia" 
A minissérie já foi distinguida internacionalmente, ao ser nomeada para os “C21 Format Awards”, em Cannes, e pela seleção no painel "FreshtTV Around the World". Acha que, em Portugal, produtos como o Amnésia poderão ganhar um maior espaço junto do público?

Esperamos que sim. O RTP Lab é um grande impulsionador à experimentação e ao surgimento de novos talentos. Veja-se o exemplo de a Casa do Cais e Subsolo. Este ano deverão surgir novos projetos. Com iniciativas como esta promove-se o surgimento de novos talentos, a experimentação e a criação de novas linguagens narrativas.

Atualmente, as redes sociais e as plataformas streaming têm ganho cada vez mais importância na vida dos espetadores. Acha que a televisão tradicional deixará de existir e dará lugar a formatos multiplataforma?

Apesar de existir uma crescente diversificação nos canais disponíveis, nas plataformas e nos hábitos de consumo de entretenimento, eu acho que a televisão tradicional não deixará de existir. Irá adaptar-se. Será cada vez mais uma televisão de grandes eventos, de diretos, de experiências televisivas que se querem para “o grande público” que devem ser consumidas em direto, numa experiência comum a todos os espetadores. 

Por outro lado, ficção, comédia, documentário, serão géneros que cada vez mais vão encontrar nas plataformas digitais o seu habitat natural. São conteúdos que não precisam de ser vistos em direto e em que cada espetador vê aquilo que quer, quando quer.

Em Portugal, foram ainda responsáveis pela web-série Os Jogadores, uma aposta da RTP para a plataforma RTP Player. Como surgiu a ideia de trazer o universo do gamming para uma produção de ficção?

A beActive sempre se especializou, desde o Diário de Sofia, na produção de conteúdos e séries para públicos jovens. Por isso analisamos os seus comportamentos, os seus hábitos e suas preferências. E nessa análise, percebemos que o gaming, e neste caso os Desportos Eletrónicos (eSports) era uma atividade com grande aceitação junto do público jovem. Por isso para nós foi natural recriar este ambiente em série (“Os Jogadores”) e também enquanto projeto televisivo multiplataforma, o RTP Arena, que desde 2016 produzimos para a RTP.


Em 2017, foi produzida a minissérie A Família Ventura, um produto televisivo mais tradicional. Ainda assim, a linguagem estética e narrativa aproximaram-se do que se faz em cinema. A ideia é acompanhar o Natal de uma família, com uma nova temporada a ser produzida todos os anos. O que podemos esperar do futuro de A Família Ventura?

O formato, e o nosso objetivo, é continuar a produzir a série por muitos anos, permitindo que os espetadores portugueses possam ir, ano após anos, acompanhar a evolução desta família muito especial que introduzimos no ano passado. Julgo que foi uma aposta ganha – a série conseguiu ultrapassar os 500.000 espetadores o que a colocam como uma das séries mais vistas da RTP no ano passado.

O Nuno conta com uma vasta carreira no panorama audiovisual, como produtor, argumentista, realizador, entre outras funções.  Que projectos se seguem e que formatos gostaria ainda de explorar?

Neste momento a beActive está a terminar a pós-produção do filme Gabriel que conta a história de um jovem cabo-verdiano que, após a morte da mãe, decide mudar-se para Lisboa e tentar encontrar o pai, um ex-campeão de boxe que já não vê desde criança. Ao chegar a Portugal, Gabriel vai encontrar uma realidade bem diferente daquela que imaginava, vê-se envolvido com um gang local e vai ter de usar os seus dotes como “boxeur” para conseguir ajudar o pai e a honra da sua família.

O filme foi 95% rodado no bairro dos Olivais em Lisboa e contou com a presença do Igor Regalla, que recentemente vimos no filme Ruth (o filme do Eusébio), José Condessa (que faz parte do elenco de “A Herdeira”) e Ana Marta Ferreira que no ano passado entrou no “O Fim da Inocência”, o filme português mais visto de 2017. Além destes jovens tivemos o Sérgio Praia (que em breve vai fazer de António Variações no cinema), Almeno Gonçalves, Ângelo Torres, Carlos Areia entre outros atores conhecidos do grande público


E para televisão, existe algum projeto a ser preparado?

Estamos a preparar a gravação de um telefilme infantojuvenil chamado “O Colégio do Templo” que irá funcionar como piloto para uma eventual futura série baseada neste colégio e nas personagens que lá habitam. O nosso objetivo é usar o piloto para atrair financiamento externo que nos permita gravar 13 episódios da série, como foi inicialmente idealizada. 

Recentemente estivemos em Espanha no Connecta Fiction, um mercado ibero-americano de produção televisiva que se realiza no país vizinho. Além disse tivemos contactos e solicitações de empresas francesas, belgas e norte-americanas relativamente a esta série.


Fantastic Entrevista
Convidado: Nuno Bernardo
Entrevista: André Pereira
Julho de 2018