Reportagem | "A Quatro Mãos - Quando a televisão e o cinema se cruzam"
De 12 a 15 de outubro decorreu em Cascais o 1º Encontro de Escrita para Cinema e Televisão em Português. O Fantastic marcou presença no evento no segundo dia, sexta-feira, dia 13, onde estiveram nomes como Jô Bilac, Marco Martins, Bruno Nogueira, Tiago R. Santos ou Vicente Alves do Ó.
A manhã começou por volta das
10h. “Pensar local, criar universal”, foi a primeira palestra. Pedro Marta
Santos fez-nos “Pensar local, criar universal”, numa palestra onde falou sobre
cinema. Para este, “todo o cinema tem uma base formulaica”. “O cinema age como
um adolescente medroso, tem medo da palavra fórmula,
crítica,…” Ao longo do seu discurso, mencionou excertos de quatro filmes, evidenciando
que “as fórmulas não são limitadoras da liberdade”. Destacou ainda que é
preciso “falar do que é local, utilizando metodologias universais”.
Jô Bilac, dramaturgo brasileiro, falou de seguida sobre o seu percurso de vida, em que referiu que “desde muito cedo começou a escrever”. Atualmente a escrita no seu país de origem é algo que tem tido os seus obstáculos, uma vez que no Brasil “a arte é branca”, salientando que o preconceito ainda existe e torna-se difícil de ultrapassar. Concluiu a sua intervenção apelando a que seja feita uma aposta maior em atores negros.
Das palestras para as conversas,
e num estilo mais informal, Patrícia Vasconcelos conversou com Marco Martins e
Bruno Nogueira. O primeiro disse que “escrever é um exercício que precisa de prática
contínua e rotina”. “A ideia do filme surge em qualquer altura. As grandes
ideias surgem de um acaso”, destaca Bruno.
Para Marco, “há cenas mais
interessantes de escrever para cada um”, e Bruno rematou dizendo que “sofro
muito a escrever”. Sobre a nova série que escreveram para a RTP1, Sara, a estreia é ainda incerta. “Nunca
se sabe”, afirmaram soltando gargalhadas. O humorista exprimiu que devia “haver
mais tempo para a escrita” e que hoje em dia as histórias são cada vez mais
reciclagens de outras. “Prefiro ver algo original do que já saber o que vai
acontecer”. Marco Martins enfatizou a ideia de que “escrever vem de uma
necessidade, em que a prática é fundamental. Não há uma contemporaneidade na
ficção”. Nogueira concluiu referindo que “há ótimas ideias, é preciso é querer
vontade de fazer”.
Sónia Rodrigues foi a oradora que
se seguiu. Na sua palestra falou sobre a escola de séries que existe no Rio de
Janeiro, Brasil, onde se preparam alunos para a escrita e desenvolvimento de
séries. Ficou expressa a vontade de a trazer para Portugal.
Depois da pausa de almoço, Sérgio
Graciano falou sobre o “Cinema de Guerrilha”. O coordenador de diversos
projetos de ficção, como Coração d’ Ouro ou
atualmente da série País Irmão,
destacou que a maior dificuldade em fazer cinema no nosso país prende-se com
questões monetárias. O que interessa, contudo, “é contar boas histórias” e que
o cinema de guerrilha seja “atrativo”. É preciso “bons atores e muita
criatividade”, frisando que “é importante ter ideias criativas para solucionar
problemas”. Para além disso, “é necessário adaptar histórias para os sítios que
temos”.
Tiago R. Santos esteve à conversa
com Paulo Trancoso. Falou sobre televisão e cinema, relembrando que nestas “não
há uma diferença, muda apenas a estrutura narrativa”. Utilizou a expressão
“escrever uma série é como uma maratona” para expressar a dificuldade que este
estilo narrativo exige. Responsável pela escrita de País Irmão, uma série que já estava escrita antes de estrear, é
atualmente diretor da Associação Portuguesa de Argumentistas e Dramaturgos.
Paulo Morelli apresentou
“Diversos autores, uma dramaturgia”, em que através do pensamento de vários escritores
sublinhou a ideia de que são necessárias várias etapas para a criação de uma
boa história que cative o público e que se torne diferenciadora.
O fim da tarde culminou com a
presença de Pedro Varela com a palestra “A cem páginas do fim”. Depois de
jantar, o dia encerrou com o visionamento do filme Florbela, de Vicente Alves
do Ó. No final da sessão, houve espaço para uma conversa com o realizador. O
filme recebeu várias distinções como o de Melhor Realizador nos Prémios Sophia.
Realizado em 2012, conta com Dalila Carmo, Albano Jerónimo e Ivo Canelas no
elenco.
Uma reportagem de Flávio Bártolo
Fotografias de Afonso Castella
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